Mantega vê ‘transição dolorosa’ na economia do país
Ministro tenta minimizar desaceleração da economia brasileira, dizendo que outros países também estão em ritmo lento de recuperação
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou nesta quarta-feira que “a vida não tem sido fácil” para as economias de modo geral e que não se sai com facilidade de uma crise como a que ocorreu nos últimos anos. Em discurso na Câmara dos Deputados, o ministro disse que as perspectivas para a economia brasileira são de uma melhora gradual nos próximos anos, “em sintonia com a recuperação da economia mundial”.
“A boa notícia é que podemos dizer que a crise já está sendo superada. Mas, da superação da crise até conseguirmos implantar novo ciclo de crescimento é uma transição dolorosa pra todos os países envolvidos nisso”, reconheceu. “Talvez 2013 tenha sido o ano da virada”, especulou.
O ministro disse que, mesmo os Estados Unidos, que estão voltando a crescer, o avanço foi de apenas 1,9% e que parte dos países europeus ainda está com crescimento negativo. “Os países emergentes também sofreram o resultado desta atrofia da economia internacional e temos visto países dinâmicos como a China desacelerando seu crescimento”, concluiu.
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Revisão – Mantega citou o crescimento de 2,3% da economia brasileira no ano passado, mas lembrou que até o fim deste mês o país terá “novo PIB” para o período, dado que o IBGE revisou o resultado da produção industrial de 2013. “Isso vai alterar o desempenho do PIB, mas não sabemos ainda para quanto vamos”, disse, evitando adiantar dados, como autoridades econômicas têm feito recentemente. O ministro afirmou que o governo prevê para 2014 um crescimento semelhante ao do ano passado, diferente, portanto, do que prevê o Fundo Monetário Internacional (FMI).
O FMI reduziu sua projeção de crescimento econômico para o Brasil em 2014 a 1,8%, ante 2,3% previstos no início do ano. Em seu relatório “Perspectiva Econômica Global”, o FMI ainda revisou para baixo sua perspectiva sobre a atividade econômica brasileira para 2015, de 2,9% para 2,7%.
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Pasadena – Sobre a compra da refinaria de Pasadena, no Texas, Mantega disse que os conselheiros da Petrobras tomaram uma decisão adequada ao aprovar, em 2006, a compra de 50% da refinaria, de posse das informações que tinham naquele momento. Naquele momento, em que havia um plano de a Petrobras avançar em refino no exterior, Mantega não estava no Conselho de Administração da estatal, presidido à época pela então ministra Dilma Rousseff.
Dilma afirmou recentemente que, ao aprovar a compra de 50% da refinaria, não conhecia a cláusula “put”, que obrigou posteriormente a estatal a pagar valores muito maiores pela segunda metade da refinaria do que os 360 milhões de dólares desembolsados inicialmente.
O movimento para investigação da aquisição da refinaria, que culminou com a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado, intensificou-se após Dilma ter dito em março que o aval para a compra da refinaria foi dado com base num documento “técnica e juridicamente falho”.
“Na primeira aquisição foi o Citibank que recomendou (a operação), eu não estava. Porém estavam figuras eminentes que opinavam pela aquisição em 2006: o Fábio Barbosa, o Gerdau (o empresário Jorge Gerdau), o economista Cláudio Haddad, portanto, era conselho altamente qualificado”, disse Mantega.
Mantega afirmou ainda que posteriormente, quando ele já integrava o Conselho, e de posse da informação da “cláusula put”, ele próprio foi contrário à compra da segunda metade da refinaria, em um processo que acabou sendo decidido por uma câmara abritral. Segundo o ministro, teria sido melhor que a arbitragem tivesse decidido contra a necessidade de a Petrobras comprar os 50% restantes da refinaria, o que não aconteceu.
Combustíveis – Um novo reajuste de combustíveis voltou à pauta esta semana depois de a presidente da estatal, Graça Foster, dizer que um novo aumento está previsto para este ano, ao comentar o balanço da Petrobras referente ao primeiro trimestre.
Sobre o tema, Mantega disse que não é recomendado que se façam reajustes ao preço da gasolina “correndo atrás do câmbio”, que influencia o atingimento da paridade ante o mercado internacional do petróleo. A fala do ministro indica uma nova queda de braço entre estatal e governo sobre a necessidade de elevar os preços da gasolina e do óleo diesel.
O governo vem segurando o aumento do preço temendo um impacto na inflação, ainda mais em ano eleitoral. Por outro lado, a Petrobras vem sofrendo prejuízos devido à disparidade entre o preço dos combustíveis no mercado local e no externo. Ao importar gasolina, por exemplo, a estatal a vende por um preço cerca de 10% menor no país do que o que foi pago no exterior. No caso do óleo diesel, especialistas calculam uma defasagem na casa de 16%.
(com agência Reuters e Estadão Conteúdo)