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Lula: a ponte entre empreiteiros e o ditador da Guiné Equatorial

Nova fase da Lava Jato revela que ex-presidente resolveu impasse enfrentado por executivos da OAS envolvendo financiamento, em troca de favores, de carnaval do bloco baiano Ilê Aiyê, cujo tema era o país africano

Por Eduardo Gonçalves Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 19 jun 2015, 23h19

Troca de mensagens interceptadas pela Polícia Federal entre executivos da OAS revelam as relações próximas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e algumas das maiores empreiteiras do país na obtenção de contratos de obras públicas em países da África e na América Latina. Um caso emblemático revelado na 14ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada nesta sexta-feira, é o das negociações com o ditador da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema, que governa o país a mão de ferro há 35 anos. Trata-se do mesmo governante que financiou, ao menos em parte, o desfile da escola de samba Beija Flor, campeã do carnaval 2015 do Rio de Janeiro com enredo em homenagem ao país africano – o patrocínio, afirmou na época um representante da Guiné Equatorial, foi iniciativa de empresas brasileiras que atuam no país.

Segundo os grampos obtidos pela PF, não é difícil imaginar de onde surgiu tanta generosidade. Uma das conversas se dá entre o ex- ex-presidente da OAS Léo Pinheiro e o ex-diretor da área internacional da companhia, César Uzeda. A mensagem, datada de 2012, indica que a empreiteira financiaria o carnaval do bloco baiano do Ilê Aiyê, cujo tema era a Guiné Equatorial, em troca de favores. Pelo tom da mensagem, a ditadura de Obiang não havia entendido que se tratava de um toma-lá-dá-cá. “Acho que deve haver um mal entendido. Estamos trabalhando para dividir o custo do carnaval com as empresas brasileiras que atuam na Guiné. Este é o status do processo. Vamos tentar socializar a conta, gastar pouco e ficar bem na foto. É bom esclarecer por que estamos viabilizando o carnaval dele. Para que Teodoro faça o melhor carnaval da história do Ilê”, relata Uzeda.

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Segundo o teor das mensagens, o ex-presidente Lula “entrou em campo” para solucionar o impasse. Os relatos evidenciam que Lula era tão amigo do ditador a ponto de ser o único a acolher o filho-enxaqueca de Obiang, Teodorín, envolvido em diversas denúncias de lavagem de dinheiro mundo afora. “Falei com o Brahma. Contou-me que quem esteve aqui com ele foi o presidente da Guiné Equatorial, pedindo-lhe apoio sobre o problema do filho. Falou também que está indo com a Camargo (Corrêa) para Moçambique x hidrelétrica x África do Sul”, relata Pinheiro, em uma mensagem datada de outubro. Brahma era o apelido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo a PF. O assunto voltou à tona no mês seguinte em outra mensagem do então presidente da OAS: “Deixa acabar as eleições para marcarmos. Ele me falou que o nosso amigo da Guiné veio só para pedir apoio ao filho. Me disse que foi um apelo de pai e que ninguém o atende. Somente o nosso Brahma lhe deu acolhida e entrou em campo para ajudá-lo”. O Carnaval do Ilê Aiyê ocorreu e teve a Guinê como homenageada. Se a OAS pagou a conta sozinha, ainda é um mistério.

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A relação estreita entre Lula e o ditador não é novidade. Em uma visita oficial em 2010, o ex-presidente assinou cinco acordos de cooperação com Teodoro. Não à toa. Apesar de o chefe africano ser acusado de perseguição a opositores e corrupção, o país é o terceiro maior produtor de petróleo do continente africano. Lula chegou, inclusive, a defender que o país fosse incorporado a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) – a terceira língua oficial da Guiné Equatorial é o português, depois do francês e do espanhol.

O patrocício à Beija Flor foi estimado em 10 milhões de reais. A generosa soma remetida à escola de samba originou críticas no Brasil, sobretudo porque grande parte da população da Guiné Equatorial vive na extrema miséria e sofre com a fome e a repressão. As construtoras, no entanto, negaram a informação de que financiaram o desfile da campeã.

A proximidade entre o governo da Guiné e a OAS evoluiu a tal ponto que o presidente da empreiteira chegou a salvar o filho do ditador da extradição. Em fevereiro de 2013, Teodorín aproveitava o carnaval no Rio, quando o governo francês pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) sua extradição, por acusações de corrupção e lavagem de dinheiro. Na ocasião, 17 carros de luxo de propriedade de Teodorín foram apreendidos no país europeu. No entanto, ele saiu do Brasil antes que o Supremo julgasse o pedido feito pela França. Pelas mensagens inteceptadas na Operação Lava Jato, fica claro de quem veio a ‘mãozinha’: “Nós avisamos a Teodorín na quarta-feira e ele deixou o Brasil. Como a França pediu ao governo brasileiro a extradição dele, havia o risco de ele ficar impedido de deixar o Brasil. Isto é mal para os negócios brasileiros lá. Vamos ver como fica a viagem de Dilma”, diz Pinheiro.

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