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Lições de um imperador chinês para os CEOs de hoje

Consultor de negócios estudou a história do Taizong para descobrir como sua dinastia foi uma das mais bem-sucedidas da história do país

Por Felipe Machado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 25 jun 2017, 22h33

Um imperador que viveu há mais de 1.300 anos, que tinha plenos poderes para governar e subiu ao trono matando um concorrente direto à vaga, pode servir de modelo de liderança hoje para CEOs de grandes corporações. É o que defende Chinghua Tang, autor do livro O Guia do Líder (Planeta, 2017), que está sendo lançado no Brasil.

Consultor chinês radicado em Nova York formado na London School of Economics e com MBA em Harvard, ele estudou a história do Imperador chinês Taizong (598 – 649) para tirar lições sobre seu estilo de gestão. A dinastia de Taizong, a Tang, foi uma das mais longevas da China, e o período do seu governo é considerado como uma “época de ouro”. Chinghua analisou os ensinamentos do imperador e dos debates com seus conselheiros mais próximos. Ele diz que os desafios enfrentados por Taizong são muito parecidos com os dos executivos de hoje, como a forma de gerenciar uma organização, a escolha de funcionários e os limites do poder. A seguir, sua entrevista a VEJA:

Existem muitos livros sobre administração e liderança atualmente, escritos por executivos ou acadêmicos contemporâneos. Por que alguém deveria seguir as ideias de liderança de um imperador chinês que viveu no milênio passado?
Se alguém quer viver uma vida longa e saudável, faz sentido procurar conselho de uma pessoa centenária saudável. Isso significa que se você for procurar conselho, procure alguém que tenha experiência comprovada, não um guru. Um guru é basicamente um professor universitário, sentado na sua sala, dando conselhos sem ter muita experiência prática.

Meu livro revela segredos de um homem que estabeleceu um negócio longo, forte e próspero quando tinha 28 anos de idade, e cujo êxito foi espetacular: durou quase 300 anos. Taizong é uma figura icônica na história chinesa, talvez como D. Pedro II na história do Brasil. Mas ele raramente é conhecido no Ocidente.

Basicamente, qual o princípio de liderança que Taizong ensina?
O ponto principal é que os melhores governantes são os que lideram. Governar é controlar, impor regras, exercer autoridade. E liderar é guiar, direcionar pessoas para uma causa. Uma organização com sucesso no longo prazo só pode ser alcançada sob liderança, através de inspiração e exemplo.

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E me parece que vemos à nossa volta atualmente mais governantes que líderes, por isso temos tantos problemas hoje em dia. Muitas pessoas têm poder, autoridade, mas não têm qualidades de líder.

De que forma é possível comandar segundo esse princípio?
Taizong escolhia seus funcionários com cuidado. Dizia: “As pessoas estão observando. Se indico um homem honesto, ele vai servir de bom exemplo para todos. Se indico um homem fraco, ele vai atrair outros que provavelmente serão fracos”.

Em relação aos diretores, ele pedia que pensassem por si só. Isso para que discordassem entre eles, em vez de aderirem a uma ideia confusa apenas para se isentarem de culpa depois. Os conselhos do livro, por exemplo, provêm de discussões entre o imperador e seus ministros – ele tinha cerca de vinte – e não somente de Taizong.

Outra prática é procurar por pontos fortes naqueles de quem não se gosta, e ficar atento às fraquezas de quem se gosta. Se você não vê pontos fortes naqueles que não gosta, boas pessoas ficarão assustadas. Se não vir fraquezas em quem se gosta, os maus se sentirão encorajados.

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Taizong matou seu irmão para subir ao trono. Este é um bom exemplo de liderança a ser imitado atualmente?
Na visão de Taizong e também dos antigos chineses, é possível chegar ao poder por quaisquer meios que se desejar. Mas depois que se ganha o poder, é preciso governar adequadamente. Os chineses consideravam seus governantes como detentores de um “mandato dos céus”.  Quando ele é dado a alguém, significa que é suficientemente sábio e virtuoso para recebê-lo. Mas ele poderia perder esse mandato se falhasse em cumprir suas obrigações de governar adequadamente.

Taizong obteve o controle pela força, mas ele concordou plenamente com o a crença dos antigos chineses que a legitimidade e autoridade vêm da virtude e da sabedoria.

Conforme o senhor relata, Taizong parecia ser um homem que sabia julgar bem o caráter das pessoas. Não é preciso levar em conta também as habilidades técnicas ao escolher funcionários?
É preciso ter ambos. Taizong sempre enfatizou tanto talento como virtudes nas suas escolhas. Mas em algumas situações, é preciso fazer escolhas. Um conselheiro seu disse que, nos tempos de guerra, precisamos de talento desesperadamente. E temos que recrutar quem estiver disponível, sem prestar muita atenção aos seus aspectos morais. Nos tempos de paz, nós só devemos contratar aqueles que são ao mesmo tempo talentosos e virtuosos.

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Em cada caso enfrentado, os méritos do objetivo buscado e a pressão da situação precisam ser postos na balança com os deméritos de rebaixar os padrões éticos na contratação. Conforme nos tornamos conscientes das implicações dessas trocas, podemos tomar decisões melhores sobre qual padrão deveríamos estabelecer, de acordo com as circunstâncias, em vez de ter padrões irreais ou nenhum padrão.

E no caso do setor privado, em que o objetivo é fazer os negócios prosperar e dar lucro, faz sentido usar esses critérios?
Esse processo é muito similar ao de comandar uma empresa. Deve-se perguntar: que tipo de pessoas o CEO da empresa está contratando? Porque o sucesso de uma companhia depende dele e das pessoas indicadas por ele.

E os dirigentes modernos enfrentam desafios parecidos com os do imperador para gerenciar pessoas. Não podem administrar apenas segundo suas preferências pessoais. Têm questões iguais às de Taizong, do tipo: como atingir o autoconhecimento? Como avaliar pessoas? Como balancear a relação entre moral e talento? Como aprimorar o negócio para ser mais eficiente? É claro que há diferenças culturais, mas a natureza humana pouco tem mudado desde os tempos antigos.

Taizong era um imperador e, portanto, tinha poderes absolutos. Como um gestor moderno, que têm mais limitações a seu poder – como a Justiça e regras corporativas – pode imitar seu estilo?
Certamente que ele tinha poderes absolutos por ser um imperador. Entretanto, ele não abusou deste poder. E isso é o que lhe permitiu fazer construir um império longevo. Se ele abusasse do poder, seria criticado e, como a dinastia anterior, a Sui, a sua teria durado apenas duas gerações.

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Os líderes políticos de hoje, que são eleitos, têm quase o mesmo poder que um imperador antigo. Os governantes têm poder enorme sobre as pessoas e recursos que comandam. São capazes de exercer sua influência sobre a sociedade, o meio ambiente e nas comunidades das quais fazem parte.

A dinastia Tang foi uma das mais longas da China, e o período é considerado por muitos como uma época de ouro. Mas o país estava pacificado quando ele assumiu. Nessa situação, não é de se pensar que qualquer um se sairia bem?
De fato, quando Taizong chegou ao poder, a China já estava unificada pela dinastia anterior – a dinastia Sui, que foi uma das mais curtas na história chinesa.

Taizong tinha uma situação bem melhor que a desses tempos. Mas sua condição não foi menos desafiadora. Ele ajudou seu pai,

Gaozu, que foi o primeiro da dinastia Tang, a chegar ao poder depois do colapso da dinastia Sui. Havia muitos homens ambiciosos tentando se tornar o imperador.

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Enquanto governou, Taizong enfrentou problemas como estrangeiros turcos na fronteira, ameaças à Rota da Seda. Ele tinha muito com o que lidar, por isso que só viveu 50 anos. Ele esgotou sua energia fazendo várias coisas.

Os governantes de hoje são, na maioria das vezes, escolhidos por voto. É possível tirar alguma lição de um líder como Taizong para escolher um bom mandatário?
Nos tempos modernos, todos os candidatos mostram seu melhor lado para os eleitores. Mas não há meio de verificar se estão dizendo a verdade ou não, nós realmente não sabemos. Só podemos pegar alguma informação sobre a suas performances passadas, o que fizeram, que tipo de pessoa são. Com sorte, o passado nos dá uma indicação do futuro. É difícil.

E, também, as pessoas mudam. Uma vez que têm poder, podem agir de maneira diferente. Nós ficamos em uma situação de aposta. Taizong tinha uma habilidade natural em julgar pessoas, e isso não é fácil de copiar. Mas acho que caráter e habilidade são dois itens importantes

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