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Joaquim Levy: Os caminhos para afastar a estagnação

A enunciação de objetivos de crescimento do PIB não é vista com entusiasmo, mas pode ser útil para alinhar expectativas da sociedade

Por Joaquim Levy*
Atualizado em 19 jan 2022, 20h50 - Publicado em 19 jan 2022, 18h46

Nessas primeiras semanas do ano, muitos se perguntam sobre o que esperar de 2022. Já é claro que este será um ano de desaceleração econômica em todo o mundo. O Federal Reserve está mostrando seu compromisso em domar a inflação, e a China, os aparentes excessos do setor imobiliário. No Brasil, devemos ter desinflação na esteira do ajuste monetário: a inflação pode ficar abaixo de 5% este ano, salvo surpresas nos preços agrícolas e desde que o petróleo não dispare para US$ 100 o barril e o câmbio não se desvalorize por razões domésticas.

Apesar da alta dos juros americanos, a economia mundial continuará ajudando o Brasil, como nos últimos dois anos quando o preço das commodities permitiu aumentar nosso saldo comercial em 50%, dando certa tranquilidade ao mercado de câmbio.

O investimento aqui também poderá surpreender a alguns. Ele deve se manter acima dos níveis de 2019, apesar da retração das compras de máquinas e equipamentos, graças à construção civil. Como o número de lançamentos imobiliários cresceu muito com a Selic de 2% em 2020-21, e a construção de um prédio toma cerca de 2 anos, há inúmeros empreendimentos em curso que ajudarão a manter o nível de investimento nos próximos meses. E a infraestrutura se movimenta um pouco com as novas concessões.

O emprego já voltou quase ao nível pré-pandemia, mas com uma composição diferente, e continuará preocupando. Com menos renda e o crédito mais caro, as possibilidades de consumo das famílias devem ser limitadas, dificultando o crescimento do PIB para muito além de zero em 2022. Essa travessia pode ser suavizada por uma cuidadosa normalização das condições do crédito pelo Banco Central, na medida em que a inflação convirja para a meta, o que teria reflexos positivos na Bolsa de Valores.

Há também grandes perguntas evidentemente sobre 2023 e a eventual antecipação de expectativas. Nesse sentido, a questão fiscal continuará importante, por conta do legado do Orçamento federal de 2022 e da provável ambiguidade da proposta de lei orçamentária para 2023 que o Executivo enviará em agosto próximo. O assunto deverá mobilizar a atenção também porque a ajuda que a inflação trouxe às contas públicas em 2021 deve se diluir em 2022. E, junto com as sequelas da PEC dos Precatórios, deve deixar um aumento no custo de financiamento da dívida, pelo menos até o novo rumo fiscal se firmar. As escolhas fiscais do novo governo serão, portanto, cruciais para o desempenho econômico em 2023 e além.

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O anúncio de algumas metas econômicas e sociais pelos eventuais postulantes à Presidência da República nos próximos meses também pode ser relevante para dar mais fôlego à economia.

A enunciação de objetivos de crescimento do PIB, emprego ou desempenho educacional, apesar de não ser tradicional ou vista com entusiasmo pela maioria dos economistas, pode ser útil para alinhar expectativas da sociedade, desde que acompanhada do detalhamento das ações indispensáveis para alcançá-los. Principalmente, se esses objetivos refletirem sucessos conhecidos dos seus proponentes em vencer momentos econômicos adversos mobilizando lideranças públicas e privadas e entregando um PIB envigorado, proteção na hora certa aos vulneráveis e mudanças duradouras na educação.

Assim como metas de inflação ajudam os agentes econômicos a tomarem suas decisões, desde que o Banco Central tenha credibilidade, metas de crescimento, renda e progresso social podem dar um norte às decisões de investimento e contratação do setor privado, facilitando a realização dessas metas, se elas forem acompanhadas de políticas compatíveis.

O compromisso com metas explícitas pode ser também o começo de uma real reforma administrativa. Medir e premiar o desempenho do funcionalismo depende fundamentalmente de os órgãos públicos terem prioridades, objetivos e processos bem definidos, atributos os quais, aliás, permitem esticar o orçamento de maneira surpreendente na consecução das grandes metas de uma administração.

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A ambição do eventual governo precisa, evidentemente, ser lastreada em ações e reformas que aumentem a concorrência na economia e a produtividade do trabalho, permitindo a renda e as oportunidades do trabalhador crescerem, e não apenas no gasto público com a presunção de que os poupadores irão financiá-lo a baixo custo por falta de outras opções de investimento.

Mas, declarados os objetivos, eles podem ajudar a afastar a estagnação, criando ainda a disciplina necessária para se detalharem as condições necessárias para a sua concretização, inclusive o comprometimento de forças políticas e da sociedade em apoio à realização dessas condições.

* Joaquim Levy é diretor de estratégia econômica e relações com mercados no Banco Safra. Ex-Ministro da Fazenda ex-BNDES e  ex-secretário do Tesouro Nacional do Brasil

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