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Ilan: ‘A queda da inflação vai afetar o humor das pessoas’

Em entrevista, presidente do BC afirma não haver contradição entre o processo de queda dos preços e a retomada da economia

Por Da redação
5 ago 2016, 09h47

Ilan Goldfajn está satisfeito. No comando do Banco Central desde 9 de junho, ele evita responder se está “gostando” da função, porque sabe que comandar a autoridade monetária de um país com inflação alta está longe de ser um passeio. “Outro dia vi que estou há quase dois meses aqui. Dizer que estou gostando dá uma ideia de que o BC é um parque de diversões. Não. Isso aqui é um desafio”, afirmou.

Goldfajn disse não estar preocupado com as críticas de que a manutenção dos juros altos pode agravar o quadro de recessão. Ao contrário, diz: “O BC é solução para o país sair da recessão.” Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, ele declarou acreditar, também, que não há contradição entre o processo de queda da inflação e a retomada da economia. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Como o Banco Central recebe as críticas de que os juros altos aprofundam a recessão? Vejo o BC como uma solução, e não como uma causa.

Solução para a recessão? Solução para a recessão, porque um Banco Central que passa confiança vai aumentar a credibilidade e, com isso, o investimento consegue voltar. Ele voltando, a retomada continua. Quanto mais confiança há na desinflação, mais os preços dos ativos começam a reagir. As empresas vão começar a investir. Elas só fazem isso porque olham que o horizonte está ficando melhor. Temos de olhar que há questões que parecem no curto prazo um problema e, na verdade, são o começo da solução.

O senhor chegou ao BC com discurso forte de levar a inflação para o centro da meta, de 4,5%, em 2017. Mas as expectativas continuam acima. Está havendo desinflação, que tem ocorrido e vai ocorrer nos próximos anos. Estamos vendo as expectativas de inflação diminuindo de forma sistemática. Tanto as de mercado quanto as nossas projeções. E, como colocamos na ata do Copom (Comitê de Política Monetária, que decide a taxa de juros), gostaríamos que essa velocidade para 2017 fosse mais rápida, de forma a chegar no centro da meta de 4,5%. Está caminhando, mas há trabalho a fazer. Também queria deixar claro que o Copom olha sempre um conjunto amplo de dados. A decisão é subjetiva.

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Muitos acreditam que o senhor ainda fará uma meta ajustada de inflação (acima do centro). Estamos trabalhando para uma meta de 4,5% em 2017. Ela é desafiadora e crível.

Quando a população começará a sentir os efeitos da queda de inflação? Aos poucos as pessoas vão começar a sentir que a inflação está voltando para patamares menores. Ninguém vai dizer “olha, está fantástico”, porque às vezes sobe o preço de um alimento ou de outro. Mas, no todo, elas vão sentir a redução da inflação, e isso vai afetar o humor delas. Quando olhamos os índices de confiança do consumidor, vemos que estão voltando a subir.

A combinação de juros altos com expansão fiscal é um problema? Estamos criando as condições para termos recuperação e desinflação. Vemos progresso nessa linha. Não vejo a política fiscal como unidimensional, com expansão e contração. As contas públicas estão sendo colocadas em ordem, olhando tanto no curto quanto no longo prazo. As reformas estão tendo avanços. E do ponto de vista do Banco Central, é importante que haja avanços e que eles afetem a percepção da economia. Não é um número específico, é se estamos melhorando a percepção fiscal do país ou não.

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Mas o governo teve dificuldades recentes no ajuste proposto pela equipe econômica. Não é papel do BC ficar julgando o resto do governo. O papel é ver se estão se criando as condições para a desinflação. Temos de olhar a percepção ao longo do tempo, e não de semana a semana. A gente sabe que em qualquer país há avanços e retrocessos. Temos de olhar ao longo do tempo.

A política fiscal está caminhando bem? Não vou fazer esse julgamento. Nós vamos, na próxima vez que publicarmos a ata do Copom (Comitê de Política Monetária), dizer se achamos que houve uma evolução.

A âncora fiscal ficou mais clara na última ata? Diria que havia antes uma explicitação para se dizer se o fiscal era expansionista ou contracionista, algo meio de curto prazo. Nós estamos tendo uma visão mais geral. Olhamos se ajuda ou não o esforço na inflação.

E se o Banco Central perder a âncora fiscal? Vamos olhar. A política monetária vai atuar independente do cenário.

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Há críticas de que a redução dos swaps (contratos ligados ao dólar) pelo Banco Central ocorre quando a cotação traz algum tipo de ganho. O câmbio não é um instrumento de desinflação. Nós estamos num regime de metas de inflação, e não de câmbio fixo. Portanto, nossa âncora é a meta de inflação, a taxa de juros, e não o câmbio.

O discurso do BC sempre foi de um dólar flutuante. É e continua sendo. Quando deixamos de dizer, as pessoas acham que não (flutua). Tem duas frases que vou repetir para vocês terem certeza. Primeiro, o regime de câmbio é flutuante e nossas intervenções são feitas de forma a mantê-lo de forma mais flutuante possível. A segunda frase que vou dizer é que nossa meta de inflação é 4,5% em 2017, que é o foco.

Se o dólar, flutuar em direção a 3 reais, o Banco Central apenas observa? Não vou responder nenhuma pergunta com respeito à cotação do câmbio, porque estaria contradizendo a ideia do flutuante.

Todo mundo esperava que o senhor reduziria os juros rapidamente. Ser economista de mercado é diferente de ser presidente do Banco Central? O que muda é que são perspectivas bem distintas. Uma coisa é olhar sob o ponto de vista da visão privada, com outras características de como se está naquele momento. Outra coisa é estar sentado aqui com as condições completamente diferentes. As condições vão mudando e a perspectiva muda. Uma coisa é ter de projetar baseado no que acho que vai acontecer. No BC, tenho de tomar uma decisão baseado no que acho que é melhor para o país.

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O BC está preocupado com o impacto da alta de impostos na inflação, como a Cide Combustível? Não diria preocupado. Estou monitorando. O aumento de imposto é uma discussão da área fiscal. Não quero citar A, B ou C. Cada um no seu canto. O que vamos fazer é olhar como os ajustes vão acabar impactando a inflação e tomar decisões em função disso.

O senhor vai trabalhar com a Fazenda para que a alta de impostos seja menos inflacionária? Nosso papel é dizer quais são os impostos mais inflacionários e quais são menos. Vocês (a Fazenda) decidem o que consideram o melhor. Sob o meu ponto de vista, não quero surpreender ninguém.

Vimos alguns bancos envolvidos na Operação Zelotes (que investiga corrupção no Carf, espécie de tribunal de recursos da Receita Federal). Há risco para o sistema financeiro? Não. O sistema está capitalizado, líquido, resiliente. Nosso papel é trabalhar para manter essa situação.

As reservas internacionais têm um custo. O nível atual é adequado? Tem funcionado bem no momento. Estamos enfrentando um período de incertezas grandes, no cenário internacional, e com um cenário doméstico bastante complexo. Uma vez que o tempo vai passando, com a economia se recuperando, valerá a pena fazer uma discussão sobre o nível ideal de reservas. Não se deve discutir este nível agora.

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Os investidores estrangeiros estão voltando para o Brasil? Quando há uma crise maior, eles se retraem. Quando a incerteza diminui, eles voltam a ter interesse para ver para onde está andando. Não é euforia, não, mas tem mais interesse.

Com o fim do processo do impeachment, o interesse aumenta? Não vou falar de questões políticas. Mesmo em questões econômicas, sou dos que acreditam que resultados são conquistados ao poucos. Você vai conquistando a confiança com trabalho duro.

E quando os juros vão cair? Todo mundo trabalha para ter as condições para ter uma inflação menor. E tendo uma inflação menor, os juros serão menores.

(Com Estadão Conteúdo)

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