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FAB enfrenta contingenciamento inédito

Diante de um ministro enfraquecido, cortes no orçamento da Defesa geram atraso de projetos e criam divergências na Aeronáutica

Por Ana Clara Costa
7 jun 2011, 17h02

Está em discussão no governo atualmente o programa de modernização operacional e tecnológica do setor de Defesa brasileiro, que tem entre os objetivos tornar mais eficiente o controle das fronteiras, combater o narcotráfico e vigiar a Amazônia. Exército, Marinha e Aeronáutica apresentaram ao Planalto suas demandas, que já totalizam 38 bilhões de reais para um período de cerca de doze anos. A despeito desta articulação bilionária, a realidade do segmento hoje é de penúria. O alto comando das Forças Armadas brasileiras atravessa uma crise interna, sobretudo na Aeronáutica. Os motivos são o corte de 4,3 bilhões de reais no orçamento de 2011 do Ministério da Defesa e a absoluta indefinição sobre se haverá ou não reversão de parte deste contingenciamento.

De acordo com fontes ligadas à Força Aérea Brasileira (FAB), o corte deste ano não tem precedentes históricos. “Todos os anos havia um determinado aperto monetário, mas, no final, as torneiras sempre se abriam”, afirmou um ex-comandante da Aeronáutica. Neste ano, no entanto, as “torneiras”, ao que parece, permanecerão fechadas, sem exceções. Os resultados serão o atraso de diversos projetos, inclusive a licitação dos caças, e prejuízos até para procedimentos rotineiros, como o treinamento de pilotos – já que estas dependem da verba de custeio, o principal foco dos cortes. Aos oficiais, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, já avisou: “Não contem com esse dinheiro”.

Procurada pelo site de VEJA, a FAB limitou-se a afirmar que é totalmente solidária ao esforço de consolidação fiscal e que irá promover todas as adequações que se fizerem necessárias. No entanto, o alto escalão se mobiliza para conseguir aprovar verbas para a manutenção dos projetos em curso. O quadro, por ora, é desanimador. Mesmo já na metade do ano, o Ministério da Defesa ainda não definiu quais programas receberão recursos. Em comunicado enviado ao site de VEJA, o órgão confirma a indefinição: “Ainda não é possível precisar quais projetos e ações das Forças Armadas serão afetados pelo corte”.

O fator Jobim – A situação é agravada pela baixa popularidade do ministro Jobim junto ao Palácio do Planalto. Do trânsito livre que gozava durante o governo Lula, ele enfrenta hoje um quase ostracismo, que o impede de tentar barganhar junto ao governo. As relações entre o ministro e a presidente Dilma se estremeceram logo no início da corrida eleitoral – quando Jobim chegou a flertar com a oposição, pedir neutralidade a Lula no apoio à candidata e fazer campanha interna no PMDB para que o partido tivesse seu próprio candidato à presidência. Sua permanência no cargo deve-se tão somente ao acordo tácito da “cota de Lula”, que prevê que determinados ministros apoiados pelo ex-presidente continuem no governo Dilma por, pelo menos, um ano.

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Para não criar atritos com a presidente e, quem sabe, manter-se no cargo, Jobim tem procurado seguir a cartilha de bom ministro governista. Condecorou seu assessor, José Genoíno; além de Antonio Palocci, José Eduardo Cardozo e outros ministros da base; com a Medalha da Vitória – prêmio de honra dos brasileiros que lutaram na Segunda Guerra Mundial, e que condecora anualmente nomes escolhidos pelas Forças Armadas. Jobim também apoia o governo na criação da Comissão da Verdade – formada para esclarecer crimes da época da ditadura. Sobre o caso Palocci, o ministro da Defesa minimizou o problema e afirmou na última semana se tratar apenas de “fumaça”. Quando questionado sobre a formação do patrimônio milionário do ministro, disse à imprensa: “Sorte dele, né?”. Mesmo assim, o governo não dá sinais de que pretende melhorar o diálogo com o ministro.

Imagem enfraquecida no exterior – Enquanto os projetos militares sofrem congelamento, a imagem do Brasil perante o setor de defesa internacional se deteriora. Tudo porque, ao longo dos últimos anos do governo Lula, representantes das Forças Armadas percorreram inúmeros países convidando empresas do setor a investirem na indústria de defesa nacional. “As empresas acreditaram e se prepararam para isso, e agora não há mais avanço. O Brasil está levando um baque no exterior no que se refere a essa indústria”, afirma Salvador Raza, professor de Relações de Segurança Nacional da Universidade de Defesa Nacional, nos Estados Unidos. A atual descrença no desenvolvimento do setor não se deve propriamente ao contingenciamento de recursos, mas sim à ineficiente atuação das autoridades da Defesa para explicá-lo, na avaliação de Raza. “O ministro ficou em cima do muro. Não soube explicar o que aconteceu”, afirma o pesquisador. “Isso demonstra imaturidade no tratamento do tema e depõe contra a projeção do Brasil no exterior”, completa.

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