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Entenda a crise que penaliza a bolsa chinesa — e pode afetar o mundo todo

Por Eduardo Gonçalves Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 9 jul 2015, 00h54

A situação econômica da Grécia, que impactou os mercados de capitais mundo afora nas últimas duas semanas, ficou em segundo plano nesta quarta-feira. Isso porque o clima nas bolsas de valores da China, segunda maior economia do mundo, foi de pânico. A desvalorização das ações e o temor de estouro do que os analistas chamam de “bolha chinesa” fez o principal índice da bolsa de Xangai cair quase 8%, encerrando em baixa de 5,9%. Para os especialistas, o fenômeno é semelhante ao que aconteceu na crise do mercado imobiliário nos Estados Unidos, em 2008, mas em menor proporção. Eles não acreditam que haja um “crash” da Bolsa de Xangai que faça a economia chinesa virar pó. Mas alertam para uma mudança de patamar no mercado acionário que pode ter efeito importante na economia doméstica do gigante asiático.

Depois de uma valorização de 150% de novembro de 2014 a junho deste ano, a bolsa chinesa iniciou uma trajetória de queda que já dura quase um mês. Atento a esse movimento, o governo chinês anunciou nesta quarta-feira diversas medidas para reverter a queda paulatina das ações. O problema é que os investidores encararam o plano como sinal de desespero. Como qualquer faísca é suficiente para incendiar o mercado financeiro, as vendas de ativos se intensificaram. As empresas listadas em Xangai perderam mais de 3 trilhões de dólares em valor de mercado nesse último mês, em decorrência da queda de 31,66% nos preços das ações.

Gráfico - Risco China
Gráfico – Risco China (VEJA)

Uma das medidas tomadas nesta quarta foi a proibição, pela autoridade reguladora do mercado de capitais, que acionistas controladores que possuíssem mais de 5% de uma empresa vendessem suas ações nos próximos seis meses. Bancos chineses também ampliaram limite de crédito para a compra de ações e estatais foram impedidas de negociar ativos em bolsa. Medidas tão restritivas assustaram investidores, que se apressaram em tentar vender ações para garantir os ganhos até então.

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Para entender o desenrolar desse fenômeno, é preciso retroceder ao fim do ano passado. Enquanto um movimento de euforia tomou conta da bolsa chinesa, o resto do mundo enfrentava período de cautela nas bolsas. O índice S&P500 se valorizou apenas 1,5% de novembro do ano passado a junho deste ano, enquanto a Bovespa caiu 5%. O descolamento da China se explica, em parte, pelo excesso de liquidez que navega sem destino pelo mundo, em busca de bons retornos. Atentos às promessas de crescimento de Pequim graças à política de estímulo ao consumo interno, investidores turbinaram o mercado acionário do país asiático nos últimos anos. E não se trata apenas de especuladores ou investidores institucionais: o cidadão comum chinês detém grande parte das ações listadas em bolsa.

Como o Estado chinês é deficiente em políticas de bem-estar social, estimula a população a poupar e facilita o acesso ao mercado de capitais, provendo, inclusive, linhas crédito baratas para a compra de ações. Assim, uma quebradeira na bolsa chinesa pode acarretar um declínio expressivo no consumo. Poucos mercados de ações do mundo são tão conectados com a economia real como a China.

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O economista Felipe Miranda, da consultoria Empiricus, conta ao site de VEJA que vem alertando seus clientes sobre os perigos da bolha. “Nós temos alertado sobre isso há alguns meses. Há um número elevadíssimo de oferta ações e os preços atingindo patamares que não têm justificativa. Um dia essa exuberância cai e é preciso reconciliar o preço com o fundamento econômico”, avalia. Segundo Miranda, a proximidade da bolsa com a economia doméstica pode criar tensão social, caso haja uma queda expressiva nos preços das ações. “Como muitas pessoas físicas mantêm suas economias na bolsa, a questão pode transbordar o mercado de capitais e criar instabilidade social. A China ainda não conseguiu dominar o desafio estrutural de inverter a sua economia, que é de exportação, pra uma economia pautada no mercado doméstico. E isso vai ficar mais difícil se a população consumidora perder seu poder aquisitivo”, diz.

Caso uma crise chinesa se consolide, o Brasil deve ser fortemente impactado. Primeiro, porque a economia brasileira é considerada frágil do ponto de vista dos fundamentos econômicos, com inflação e juros em alta, e situação fiscal incerta. Além disso, a China é destino de 25% da produção de matérias primas, como minério de ferro e soja, produzidos no Brasil. Desde 2011, o país asiático se consolida como o maior parceiro comercial brasileiro. No ano passado, as vendas de bens brasileiros para a China atingiram 40,6 bilhões de dólares, enquanto as importações de produtos chineses somaram 37,3 bilhões de dólares.

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