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Economistas alertam para o risco de formação de ‘bolhas’

Liquidez em alta, poucas opções de investimento nos países ricos e ativos rentáveis nos emergentes. Está dada a receita para a super valorização em alguns mercados

Por Derick Almeida
2 fev 2011, 06h57

A expressiva valorização das commodities – produtos primários de origem vegetal ou mineral, cujos preços são cotados no mercado internacional – e seus efeitos inflacionários é uma das preocupações na economia mundial em 2011. O problema é tão sério que afeta não apenas os pujantes países emergentes. Mesmo a zona do euro, com baixa taxa de crescimento anual (1,7%) e desemprego nas alturas (10%), teve de conviver com inflação de 1,6%. Não a toa, a França está em campanha no G20 – grupo das maiores economias desenvolvidas e emergentes do mundo – para emplacar novas regras para este mercado. A ideia é fixar ou, ao menos, regular as cotações. Os governos do Brasil e dos Estados Unidos uniram-se, é lógico, para barrar a proposta.

Grandes exportadores de commodities, as balanças comerciais americana e brasileira beneficiam-se claramente do movimento (veja quadro). Contudo, até mesmo eles concordaram em tentar coibir movimentos especulativos. O grande temor é a formação de “bolhas” nestes mercados, isto é, uma a valorização excessiva e artificial de ativos.

O alerta mais contundente sobre o risco de “bolhas” (veja quadro “Os estágios de uma ‘bolha’) veio da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Na avaliação da entidade, há sinais de que os recursos já injetados pelos governos dos países ricos em suas economias não estão escoando de forma adequada. Parte substancial tem se destinado às economias emergentes, gerando distorções, principalmente nos mercados de commodities.

Aumento da liquidez – Economistas ouvidos pelo site de VEJA fazem avaliação semelhante. Eles destacam como prejudicial para este movimento a política do banco central americano (Fed) de injetar dinheiro – cerca de 600 bilhões de dólares até o primeiro semestre de 2011 – na economia local e, assim, tentar forçar uma retomada. A medida, em última instância, aumenta a liquidez no mundo e instiga o que os economistas chamam de “efeito manada” – ou seja, grandes fluxos de investimento para ativos que mostrem alta rentabilidade (como é o caso das commodities), “guiados, essencialmente, por uma irracionalidade coletiva”, ponderou Francisco Carlos Barbosa, economista da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).

Os estágios de uma ‘bolha’ (arraste o botão e entenda como uma bolha se forma, cresce e estoura)

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O fato de os produtos básicos em geral estarem em consistente elevação tende a atrair capitais. É preciso ponderar, contudo, que nem toda valorização das commodities decorre de especulação. Isso porque as vigorosas economias em desenvolvimento possuem grupos populacionais enormes que ascendem na escala social e passam a adquirir bens – alimentos, inclusive – que nunca puderam. Há mudanças de hábito também no aumento do consumo de produtos de origem animal. China e Índia, por fim, são nações com elevada taxa de investimento em infraestrutura, o que implica aquisição de quantidade crescente de minerais. Tudo isso tem causado enorme impacto sobre as cadeias produtivas, dando impulso aos preços – num fenômeno já visível em 2008, mas que havia perdido parte da força por conta da crise no ano seguinte.

Além disso, 2010 e o início de 2011 foram marcados por fenômenos climáticos extremos em diversas partes do mundo que afetaram as lavouras. Os estoques de diversos produtos estão tão baixos que se estima que, em condições climáticas normais, serão necessários dois anos para que voltem à normalidade. “A ‘antiga ordem’ da economia mundial não absorvia a demanda chinesa por alimentos. Agora, ante o aumento da renda dos trabalhadores e o pico demográfico, a China está impondo forte pressão à oferta de commodities”, explicou Cristiano Souza, economista do Santander. De acordo com os últimos dados do Banco Mundial, a população chinesa, em 2009, chegou a pouco mais de 1,331 bilhão de habitantes.

O risco do excesso – Mas alguns vêem certo exagero neste movimento. Os preços das commodities estariam muito acima da média histórica em função, entre outros motivos, da especulação. Grandes investidores, insatisfeitos com os juros baixos nas principais praças financeiras, parecem ter encontrado uma verdadeira ‘mina de ouro’. Eles realizam compras nas bolsas de valores com a expectativa de vender alguns meses depois por um preço maior. Ao apostar na alta das commodities e realizar grandes compras, acabam forçando ainda mais os preços para cima. “No setor das commodities, a origem da preocupação é a entrada excessiva de capital estrangeiro em ativos rentáveis, como o grupo de alimentos. Economias em plena expansão necessitam cada vez mais de itens básicos. O Brasil – como o terceiro maior exportador de produtos agrícolas do mundo – é alvo certo destes investidores”, alerta Luciano Manarin, doutor em desenvolvimento econômico pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).

O alento de que esta possível bolha talvez não se consolide veio do Fundo Monetário Internacional (FMI). É que o crescimento das principais economias emergentes (China, Brasil e Índia) também tem apresentado como reflexo a aceleração da inflação. As medidas que já estão sendo adotadas por esses países para tentar conter a aceleração nos preços devem reduzir o ritmo da atividade e da demanda, tirando parte do combustível que alimenta a alta dos preços das commodities. Contudo, ainda é muito cedo para as autoridades ‘descansarem’ ante este risco.

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