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Demissão de Palocci não traz impacto para a economia

Antigo fiador da estabilidade, Palocci ocupava no governo Dilma um cargo eminentemente político. Sua saída não causará maior nervosismo no mercado

Por Ana Clara Costa e Carolina Guerra
7 jun 2011, 19h16

Apesar das críticas, o mercado aprendeu a lidar com o atual ministro da Fazenda, Guido Mantega, e a crise política envolvendo Palocci não abalou os investidores

A demissão do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, não trará maior impacto para a condução da economia, apontam especialistas ouvidos pelo site de VEJA. Diferentemente de sua primeira derrocada em 2006, quando era ministro da Fazenda, Palocci não é visto hoje como figura central do mundo econômico. Sua atuação no governo Dilma foi essencialmente política, com foco nas relações dos ministérios e do Congresso com o Palácio do Planalto.

Graças a isso e às evidências de que o compromisso com a estabilidade tornou-se consensual dentro do governo, o mercado não deve se abalar ante a notícia. Caso ocorra estresse, será algo temporário. Logo após sua primeira derrocada, por conta do escândalo da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Santos, Palocci foi substituído pelo atual titular da Fazenda, o ministro Guido Mantega. De lá para cá, o economista, principalmente depois da crise financeira internacional de 2008-09, viu sua influência dentro do governo crescer significativamente.

Apesar de o mercado ter críticas à sua atuação, Mantega, que é visto como o atual fiador da estabilidade, manteve o tripé da política macroeconômica – caracterizado pelo regime de metas de inflação, câmbio flutuante e responsabilidade fiscal. O próprio fato de o mercado não ter reagido de forma negativa nos últimos dias já demonstra que o chefe da Casa Civil perdeu relevância quando o assunto é economia.

Curto prazo – Segundo o economista Thomas Trebat, diretor do Instituto de Estudos Latinoamericanos da Universidade de Columbia, a saída de Palocci não passará de um lapso de “volatilidade de curto prazo”. “Quando você perde uma pessoa dessa importância no governo, não deixa de ser uma surpresa para o mercado. E o mercado não gosta de surpresas. No entanto, tendo em vista a estabilidade econômica e política do Brasil, o efeito dessa queda não passará de um pequeno estresse”, afirma. Na avaliação do economista, o cargo de conciliador político que Palocci deixará vago poderá ser substituído facilmente por alguém da escolha da presidente Dilma Rousseff. “Ela soube dizer ao mercado qual é a visão dela das coisas. E seus atos têm sido condizentes com essa visão”, afirma.

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Quando, em 2006, a queda do então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, aconteceu, a economia brasileira iniciava sua trajetória ascendente – embasada em fundamentos austeros herdados do governo de Fernando Henrique Cardoso e aprofundados pelo ministro petista. Considerado um conciliador político e ávido defensor do setor industrial, Palocci tinha apoio até mesmo de setores da oposição – justamente devido à mão-de-ferro com a qual mantinha os pilares econômicos que impediam a inflação de voltar a crescer. Sua saída teve algum efeito no destino da economia nacional porque propiciou a entrada de uma nova ‘escola’ de condução de políticas econômicas: o desenvolvimentismo, defendido desde os tempos da academia pelo atual titular da Fazenda, Guido Mantega. Mesmo assim, o estilo do ministro foi assimilado pelo mercado. Constante foco de críticas por declarações desastradas e medidas pouco ortodoxas, Mantega, ao menos por enquanto, não permitiu o descontrole da inflação.

Consenso sobre a estabilidade – O compromisso com a estabilidade, aliás, parece ter se tornado consensual dentro do governo, o que não pressupõe mais a existência de um ministro para ser seu fiador. “As últimas medidas governamentais foram fruto de consenso e não pessoalmente derivadas da ação de um ministro em especial”, destaca Rubens Ricúpero, ex-ministro da Fazenda e diretor da faculdade de economia da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP). “Transcorridos mais de cinco meses de governo, a situação econômica interna se estabilizou. Foram superados ou atenuados os temores de um sério recrudescimento da inflação presentes nos primeiros tempos. Em parte devido às medidas anunciadas, em parte pelo declínio das pressões inflacionistas decorrentes de preços agrícolas, a percepção neste momento é de maior tranquilidade”, acrescenta.

Se a saída de Palocci não deverá surtir efeito sobre a estabilidade econômica, os especialistas apontam que este fato aumenta ainda mais o poder de Guido Mantega no Planalto – visto por muitos como seu desafeto. Ao longo dos últimos cinco anos, o economista conseguiu imprimir seu estilo na Fazenda. Sob seu comando, foram administrados o aumento da arrecadação e dos gastos do governo; os crescentes desembolsos do Tesouro Nacional; e a formação de um Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) forte. Mantega também estendeu seus tentáculos para além do governo: aumentou o poder do estado dentro da Petrobras, por meio de uma capitalização bilionária, e até mesmo ajudou a derrubar o presidente da Vale, Roger Agnelli, por discordar do fato de que a direção da empresa mirava apenas o interesse do acionista, e não o interesse fluído do país. Seu desempenho para administrar a expectativa do mercado durante a crise financeira também foi primordial para sua consolidação como um dos principais ministros do governo Dilma. “O ministro Mantega tem sido bastante respeitado fora do Brasil e é visto com muita confiança pelo mercado. O Palocci costumava personificar essa garantia de confiança. Mas não mais”, afirma Trebat, da Universidade de Columbia.

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