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Dakota do Norte: o eldorado do emprego nos Estados Unidos

Fortalecido pela exploração de petróleo, estado americano possui o menor índice de desemprego do país e atrai jovens e adultos em busca de salários maiores do que nas grandes capitais

Por Ana Clara Costa
27 nov 2011, 07h15

Há uma década, o destino de um jovem americano de classe média e com grandes sonhos era previsível: ingressar em uma boa universidade, conseguir um estágio em uma grande empresa e mudar-se para uma das principais capitais do país ou do exterior para trabalhar. Ao abrir seu próprio negócio ou ser aceito em uma empresa multinacional, ele, invariavelmente, passaria a receber uma remuneração polpuda e ajudaria a girar a máquina de riqueza do país. A vida, contudo, tornou-se mais árdua nos últimos quatro anos – desde o desencadeamento da crise financeira. O país que antes era considerado a meca do emprego, hoje acumula um índice preocupante de 9% de desocupação entre a população economicamente ativa. E o sonho americano está cada vez mais difícil de ser financiado pelas famílias.

Mas, no extremo norte dos Estados Unidos, há um lugar que tem atraído milhares de americanos em busca de trabalho. Dakota do Norte, isolada na fronteira entre o Canadá e estados distantes, como Wyoming, Montana e Minessota, possui atualmente a menor taxa de desemprego do país (3,5% em outubro deste ano). O estado conta com a quarta maior operação de exploração de petróleo dos Estados Unidos, que movimenta cerca de 12 bilhões de dólares por ano. Sua população de 670 mil habitantes aumentou 4,7% na última década, enquanto nos anos 1990, esse aumento não passou de 0,5%. A razão maior para tal crescimento é a indústria petrolífera: em especial, a formação geológica de Bakken, no oeste do estado.

Apesar de haver a exploração de petróleo do solo na região há mais de 60 anos, somente na última década o estado começou a crescer. A retirada do petróleo de rochas muito espessas, que era praticamente inviável nos anos 1990, tornou-se realidade graças ao desenvolvimento de novas tecnologias de perfuração, e permitiu que Dakota do Norte entrasse em uma situação de pleno emprego num país quase à beira de uma nova recessão. Entre outubro de 2010 e outubro de 2011, o saldo líquido de empregos criados chega a 19 mil. E é para lá que os jovens estão indo mesmo antes de concluírem o curso universitário.

No Williston State College, na cidade de Williston, um dos principais polos na produção de petróleo do estado, apenas um terço dos alunos do curso de engenharia terminaram os estudos nos últimos dois anos, segundo um levantamento da faculdade. Há dez anos, o índice de conclusão chegava a 80%. De acordo com o professor de inglês, John Stout, seus melhores alunos deixam as aulas para ingressar nos campos de extração como trabalhadores braçais, ganhando 5.000 dólares a cada duas semanas. Entre os tipos de emprego, o de motorista de caminhão para transportar o óleo para a refinaria chega a render um salário de 100 mil dólares por ano. A remuneração é tão atrativa que o comerciante Nathan Pittman, de 60 anos, natural do estado de Indiana, mudou-se para Dakota do Norte em 2010 em vez de optar pela aposentadoria. Acumulou 100 mil dólares no primeiro ano e espera chegar ao valor de um milhão de dólares nos próximos três anos, e só então irá se aposentar. “O clima aqui é muito frio e há uma certa confusão em todos os locais, devido ao aumento populacional inesperado. Mas o dinheiro que se ganha é bom e faz com que a confusão valha a pena”, afirma Pittman.

Outro trabalho concorrido é o de garçom. Em restaurantes de fast food, é possível receber 15 dólares por hora – ou uma média de 120 dólares por dia de trabalho. O mesmo ocorre com funcionários de hoteis, cuja ocupação no estado está sempre próxima de 100%, de acordo com dados oficiais de Dakota do Norte. Diante de tantas opções, os alunos não pensam duas vezes antes de abandonar os estudos. “Eles acreditam que poderão voltar para a universidade quando quiserem. Já os empregos nos campos de petróleo não irão durar para sempre”, afirma o professor Stout.

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Anúncio de vaga de emprego no restaurante Taco John's International Inc. em Williston, Dakota do Norte, nos Estados Unidos
Anúncio de vaga de emprego no restaurante Taco John’s International Inc. em Williston, Dakota do Norte, nos Estados Unidos (VEJA)

Essa onda de vagas ligadas à área de energia também ocorreu no Texas nos últimos dez anos. Segundo o Departamento de Trabalho dos Estados Unidos, o estado teve um saldo líquido de 907 mil vagas no período, enquanto em todo o país esse número foi de 1,6 milhão. Atualmente, a disparada econômica se estabilizou e o estado acumula uma taxa de desemprego de 8,4%. Em Dakota do Norte, a expectativa é de que esse “boom” do emprego perdure por, pelo menos, 20 anos. “A única variável para o futuro do petróleo no estado é o preço do barril. Como não há previsão de que ele recue, as perspectivas para a economia local continuam muito boas”, afirma o economista David Flynn, professor do departamento de Economia da Universidade de Dakota do Norte.

Com emprego, sem moradia – A economia do petróleo favoreceu o estado, mas trabalhadores e moradores estão pagando o preço do crescimento. O mercado imobiliário é um exemplo dessa dicotomia. No estado, a escassez de moradia para abrigar os novos habitantes se choca com a falta de crédito para construir novas casas. A situação é tão crítica que os trabalhadores que vêm de outras cidades dormem em seus carros em estacionamentos de supermercado, de acordo com Flynn.

A falta de imóveis é tão grave que as companhias petrolíferas que exploram óleo no local montam áreas para os funcionários se alojarem em trailers. O preço para se adquirir uma moradia móvel no estado ultrapassa os 150 mil dólares. Já uma residência de três quartos e um banheiro na periferia de Fargo, a maior cidade do estado (com 105 mil habitantes), não sai por menos de 200 mil dólares. Contudo, com o encolhimento do crédito e do mercado de hipotecas, o governo tem hesitado em estimular a construção de casas no estado.

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Trabalhador na construção de apartamentos em Watford City, Dakota do Norte, nos Estados Unidos
Trabalhador na construção de apartamentos em Watford City, Dakota do Norte, nos Estados Unidos (VEJA)

Os preços da moradia também fizeram com que o custo de vida em Fargo subisse ao mesmo patamar de cidades como Miami, Filadélfia e um pouco abaixo de Chicago, que é a terceira maior cidade dos Estados Unidos, com 2,7 milhões de habitantes, segundo dados do Tesouro americano.

A violência é outro ponto crítico. Por décadas, Dakota do Norte foi conhecida por ser o estado mais pacífico dos Estados Unidos – fama decorrente, sobretudo, de seu inverno rigoroso, que faz com que a circulação de pessoas nas ruas seja reduzida. Mas, em 2010, a capital do estado, Bismark, entrou na lista do FBI como uma das dez cidades americanas com maior crescimento no índice de criminalidade.

São desafios do crescimento que precisam ser superados para não se tornarem, no futuro, o reverso da bonança. Por enquanto, as oportunidades em Dakota do Norte continuam um chamariz para trabalhadores. De acordo com Instituto de Inteligência do Trabalho do estado, apenas em novembro, 700 postos de trabalho foram criados e não foram ainda preenchidos.

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