Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Crise fiscal fará sociedade repensar o tamanho do Estado, diz analista

Governo chegou a tal situação de aperto orçamentário porque ninguém quer fazer sacrifícios, diz Gil Castello Branco, diretor da ONG Contas Abertas

Por Giovanni Magliano Atualizado em 20 ago 2017, 16h06 - Publicado em 20 ago 2017, 16h06

As contas do governo brasileiro sofrem de um desequilíbrio profundo e estrutural, consequência direta do gigantismo do estado. É necessário repensar se a sociedade quer manter e precisa de um setor público que gasta 27,7 milhões de reais por dia para bancar o funcionamento do Congresso, para ficar apenas em um exemplo. A avaliação é do economista Gil Castello Branco, diretor da ONG Contas Abertas, especializada na análise das finanças públicas. Ele diz que a equipe econômica do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, foi obrigada a prever um déficit do Orçamento maior neste ano e em 2018, de 159 bilhões de reais, porque dispõe de pouca margem de manobra para cortar despesas e porque ninguém está disposto a dar a sua cota de sacrifício. “A grande consequência dessa penúria será a obrigação da sociedade de repensar o tamanho do Estado.” Leia abaixo a entrevista a VEJA:

Por que o governo mudou a meta e passou a prever um déficit fiscal maior neste ano? Neste ano, da maneira como tudo estava caminhando, restavam poucas alternativas ao governo. O governo tem pouca margem de manobra. As despesas com pessoal, a Previdência e os benefícios da Lei Orgânica da Assistência Social consomem praticamente 70% da despesa primária. É óbvio que existe algum problema, sobretudo quando a despesa com a Previdência cresce de maneira exponencial. Só isso já seria o bastante para desequilibrar as contas públicas brasileiras.

O Estado brasileiro é grande demais? É possível dar exemplos? Há inúmeros exemplos. Apesar das críticas às privatizações, o fato é que ainda existem 151 empresas estatais. Elas têm mais de 500 000 funcionários. A União tem 28 ministérios. São mais de 20 000 cargos de assessoria. O Congresso tem um custo diário de 27,7 milhões por dia. Um deputado chega a ter 25 assessores. O Poder Judiciário tem pagamentos que são absurdos, como o auxílio-moradia para juízes, algo que depois foi estendido para promotores e para o Tribunal de Contas do Distrito Federal. Esse auxílio chega a ser pago até para quem tem imóvel próprio na cidade. Por fim, o governo ainda concede subsídios financeiros creditícios para a Zona Franca de Manaus, a agricultura, o Sistema S… Em 2016, a conta de subsídios somou 114,7 bilhões de reais. Será que todos esses benefícios estão sendo benéficos ao Estado de uma forma geral?

Continua após a publicidade

Não é possível diminuir alguns desses privilégios? O Brasil tem um Estado paquidérmico, ineficiente e corporativo. Ninguém está disposto a entregar um anel. Em uma época de crise fiscal e econômica como a atual, o Tribunal de Contas do Distrito Federal está reivindicando a equiparação do pagamento do auxílio-moradia de forma retroativa. É uma situação muito difícil. A grande consequência positiva dessa penúria será a obrigação da população de repensar o tamanho do Estado.

Quais são os caminhos para sair desse déficit? É preciso passar um pente fino na estrutura do Estado e atacar os grandes grupos de despesas: a Previdência, a folha de pagamento de pessoal, os subsídios e as isenções fiscais. Forçosamente, isso terá que acontecer. Não é só questão da administração pública federal; envolve estados, municípios, os três poderes, as estatais. O país não pode repetir metas deficitárias dessa magnitude, que são financiadas pelo endividamento.

Qual o papel do Executivo e do Congresso nessa lição de casa? Os gastos que não são obrigatórios já foram reduzidos pelo governo. Os investimentos, por exemplo, foram cortados praticamente pela metade. O governo também diminuiu o gasto com a administração dos ministérios. O problema é que esses gastos equivalem a só 10% das contas do governo e ele precisa do Congresso para reduzir as despesas obrigatórias, sobretudo as da Previdência, que representam o maior rombo. Isso significa que, se o Congresso não for solidário – e ele não tem sido –, essa situação pode fazer com que o governo descumpra a meta fiscal. Os problemas podem se agravar se o governo não conseguir as receitas extraordinárias esperadas.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.