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Com a RBS, dupla de bilionários abre nova frente de diversificação

Carloz Sanchez e Lirio Parisotto, compradores da operação do grupo de mídia em Santa Catarina, fizeram da aquisição uma alternativa ao marasmo no mercado de capitais

Por Luís Lima Atualizado em 10 dez 2018, 10h19 - Publicado em 16 mar 2016, 09h26

A venda de oito veículos de comunicação da RBS em Santa Catarina ao Grupo NC, anunciada na última semana, surpreendeu menos por sua conclusão – a venda da operação catarinense do grupo sediado no Rio Grande do Sul foi alvo recorrente de rumores nos últimos anos – e mais pelos personagens envolvidos. Por que Carlos Sanchez e Lirio Parisotto, dois dos homens mais ricos do Brasil, segundo o ranking de bilionários da revista Forbes, ingressaram em um setor em que sequer atuam? E pagando uma fortuna – não confirmada oficialmente – de pelo menos 700 milhões de reais?

Ocorre que, embora surpreendente, a aquisição foi resultado de namoro antigo. Há pelo menos três anos os investidores tentavam acertar a compra da RBS em Santa Catarina, segundo uma fonte a par das tratativas ouvida pelo site de VEJA. E, a despeito da crise econômica – ou, talvez, também por causa dela -, Sanchez e Parisotto, com poucas opções no estagnado mercado de capitais, viram-se obrigados a olhar para os lados.

Nessa olhada de esguelha, depararam-se mais uma vez com a cobiçada operação catarinense da RBS. Segundo uma pessoa próxima a Parisotto, que pediu anonimato, o empresário passou a ter mais tempo para garimpar oportunidades de negócio desde que a Videolar, empreendimento que deu origem a sua fortuna, mudou sua principal área de atuação: em vez da fabricação de mídias removíveis, como CDs, DVDs e discos Blu-ray – segmento da indústria petroquímica que envolve uma cadeia de produção mais complexa -, a empresa passou a atuar no de refinamento de petróleo, mais simples.

Um estímulo extra para a aquisição é a vocação de Santa Catarina para a inovação. O Estado tem várias incubadoras de startups e centros de ensino que formam mão de obra para atuar em novas mídias, área que, para reduzir custos, os compradores querem priorizar no grupo. Esses fatores, segundo essa mesma fonte, motivaram o empresário a fechar negócio com a família Sirotsky, então dona da RBS.

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A força do grupo em Santa Catarina, destino de mais da metade da verba publicitária do Estado, além de sua firme líderança de audiência, limitam os riscos da operação, segundo profissionais dos mercados publicitário e de mídia consultados pelo site de VEJA. Esses fatores contrabalançam o fato de Santa Catarina ser um Estado sencundário no mercado publicitário. Em 2014, o setor movimentou 1,19 bilhão de reais, segundo o Instituto Mapa, ou menos de 2% do ‘PIB publicitário’ nacional.

Lirio Parisotto e Carlos Sanchez são descritos como empresários “com sangue nos olhos”. Apesar da inexperiência no segmento da comunicação, os compradores do braço catarinense da RBS não desembarcaram no Estado para perder dinheiro, afirmam as fontes.”Os novos compradores não vieram para manter, mas para mexer, mudar e fazer crescer”, diz Paulo Alceu, jornalista catarinense que, no começou de fevereiro, deu a notícia do acordo em primeira mão.

A percepção de Alceu é ancorada nas palavras do próprio Sanchez. Em vídeo gravado por um colaborador, o empresário destaca que o novo grupo é uma empresa líder – e que ele gosta de empresas líderes.”Nós encontramos essa oportunidade aqui no Sul (…) Ela [RBS no Estado] tem mais audiência relativamente do que outras emissoras da Globo. Temos jornais aqui que são todos líderes”, afirmou. “Nós queremos crescer aqui dentro. O que dá pra ser explorado e conquistado dentro da mídia do Estado? Temos TV, jornais, rádios. O que mais podemos ter? Onde podemos crescer? Esse é nosso objetivo.”

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https://www.youtube.com/watch?v=oGHLZW7tr1M

Venda x Operação Zelotes – Por parte da RBS, o interesse da venda coincide com a citação do grupo na Operação Zelotes, da Polícia Federal, que apura irregularidades no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), espécie de tribunal da Receita Federal. A RBS é suspeita de pagar mais de 10 milhões de reais à SGR Consultoria Empresarial para anular multas aplicadas pelo órgão.

Com o risco de sofrer punições milionárias, a venda de ativos se torna estratégica para fazer caixa para um eventual pagamento de multas. Esse comentário zunia sempre que se falava da venda da operação catarinense da RBS. Oficialmente, o grupo afirmou apenas que a venda ocorreu para que ele pudesse centrar foco nas operações de seu Estado natal, o Rio Grande do Sul. Procurado, o grupo preferiu não conceder entrevista e que se manifestaria sobre o negócio apenas por comunicado oficial.

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A transição para os novos donos deve durar dois anos. Ainda que os empresários mantenham segredo sobre detalhes desse processo, alguns passos já são conhecidos. A primeira é a provável alteração do nome RBS TV, grife que deixa Santa Catarina depois de 37 anos de existência, para TV Catarinense. Em paralelo, uma tendência forte é a digitalização de mídias impressas, como os jornais A Notícia, que circula na região de Joinville, no Norte do Estado, e Jornal de Santa Catarina, de Blumenau, no Vale do Itajaí. Também especula-se sobre a possibilidade de mudanças em cargos de gerência e cordenação. O presidente do novo grupo, já se sabe, será Mário Neves, diretor-geral de televisão da RBS.

De acordo com um profissional com mais de 30 anos no mercado de comunicação catarinense, Neves tem uma ótima relação com os profissionais da empresa e não deve promover mudanças significativas. Ainda assim, segundo a fonte, o que deve falar mais alto é a visão empresarial dos novos compradores. “Eles focarão em tecnologia e prezarão pela relação de mais resultados por menos custos”, afirma. “Isso implica enxugamento e renovação.”

Uma grande revolução no Estado aconteceria se, de fato, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, dirigisse a programação do novo canal de TV, como já foi aventado. Perguntado a respeito, ele se limitou a dizer, por e-mail, que não está envolvido diretamente no projeto, mas que está “palpitando”, já que Parisotto e Sanchez são seus amigos.

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“Posso ajudar meus amigos, mas como colaborador apenas. Ainda vamos conversar sobre esse assunto quando for oportuno”, diz Boni. Segundo uma das fontes, a filial catarinense da RBS chegou a receber a visita de uma diretora de redação da TV Vanguarda, filiada da Rede Globo no Vale do Paraíba e dirigida por Boni. O motivo seria o de conhecer a estrutura técnica e de jornalismo.

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Perfis dos compradores – Lirio Parisotto, ex-agricultor de origem humilde nascido em Nova Bassano, no Rio Grande do Sul, tem 62 anos, é médico por formação e atualmente ostenta uma fortuna de 1,1 bilhão de dólares, o que faz dele um dos 30 maiores bilionários brasileiros, segundo a revista Forbes. Sua relação com Santa Catarina é mais longeva que a iniciada com a compra da RBS – e não se limita ao mundo dos negócios. Investidor de peso do mercado de capitais brasileiro, ele é o maior acionista individual da Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc). Frequentador assíduo do Costão do Santinho, resort de luxo em Florianópolis, ele já foi visto diversas vezes no Estado acompanhado de sua namorada, a modelo Luiza Brunet.

Já Carlos Sanchez – o 23º homem mais rico do país, com fortuna de 1,7 bilhão de dólares, segundo a Forbes -, é dono da EMS, pioneira e, desde 2013, líder nacional no segmento de remédios genéricos. Ele começou sua carreira trabalhando com o pai, Emiliano Sanchez, fundador da EMS, e assumiu a direção em 1988, aos 26 anos. Atualmente, a empresa, que produz, entre outros, os genéricos do Viagra, tem cerca de 7.000 funcionários. Além da EMS, o empresário é dono de outros três laboratórios: Legrand, Germed e Nova Química.

Em abril do ano passado, a EMS foi citada na Operação Lava Jato como uma das parceiras do Labogen, laboratório apontado pela Justiça como empresa de fachada que teria sido usada pelo doleiro Alberto Youssef para desvio de recursos. A declaração foi dada pelo então diretor de produção industrial e de inovação do ministério da Saúde, Eduardo Jorge Valadares Oliveira.

A suspeita que recai sobre a empresa de Sanchez é a de ter pago quase 8 milhões de reais, entre 2009 e 2014, à JD Assessoria, consultoria do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, para a obtenção de contratos com o governo. Nem Sanchez nem Parisotto quiseram falar com o site de VEJA.

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