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Aviação regional recua e expansão da malha fica no sonho

Empresas aéreas cortam voos fora das capitais por conta dos altos custos operacionais, como combustível, e problemas nos aeroportos

Por Da redação
15 ago 2016, 14h10

Menos de dois anos após sua reinauguração, o aeroporto de São José dos Campos, no interior de São Paulo, está às moscas. O terminal recebeu obras de modernização que aumentaram em mais de cinco vezes a área destinada a passageiros, para 5.000 metros quadrados. A reforma foi feita para atender a um tráfego esperado de 600.000 pessoas por ano. Meses depois da reinauguração, a Azul suspendeu os voos no local. Em junho de 2016, foi a vez de a Latam deixar o aeroporto. Hoje só os passageiros da aviação executiva embarcam em São José dos Campos. Os guichês de check in estão vazios, a lanchonete fechou e uma lona cobre o balcão de atendimento da Localiza.

São José dos Campos foi uma das nove cidades brasileiras que saíram da malha das grandes empresas desde 2015. Em meio à crise econômica, elas deixaram para trás cidades como Pato de Minas (MG), Macaé (RJ), São Gabriel da Cachoeira (AM), Tucuruí e Porto Trombetas (ambas no Pará). Algumas ainda têm voos de empresas pequenas, que representam menos de 1% do mercado.

“A aviação brasileira está diminuindo”, resume o presidente da Associação Brasileira de Empresas Aéreas (Abear), Eduardo Sanovicz. O motivo, explica, é que o setor sofreu um choque de custos ao mesmo tempo em que a demanda caiu. “Diversos voos não se viabilizam mais. A solução foi cortar.”

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Os cortes são nacionais. No caso da capitais, há redução de frequências de voos, mas as empresas áreas mantêm o serviço. No interior, as empresas abandonaram algumas praças, reduzindo a concorrência ou deixando a cidade sem oferta de transporte aéreo. Em média, o número de decolagens de TAM, Gol, Azul e Avianca caiu 10% no primeiro semestre deste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado, de acordo com levantamento do jornal O Estado de S. Paulo a partir de registros de voos nacionais da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). O movimento vai na contramão do que se prometia para a aviação regional.

Ajustes

A Azul é a única empresa entre as grandes que têm uma frota específica para a aviação regional – o turboélice ATR. A empresa voa hoje para cerca de cem destinos e atua sozinha em cerca de quarenta cidades. Nos últimos meses, no entanto, a Azul suspendeu voos no interior e se desfez de dezoito ATRs. Foram onze destinos cancelados, incluindo apenas uma capital, desde 2015. A empresa iniciou operações em outras quatro cidades no interior no período, mas o saldo ficou negativo. “A aviação regional perdeu muitos voos porque não se fez nada para melhorar os aeroportos e reduzir o preço do combustível”, afirma o presidente da Azul, Antonoaldo Neves.

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A maioria dos cortes foi feito por falta de viabilidade financeira. Mas a infraestrutura falha também pesou. São Gabriel da Cachoeira e Coari, no Amazonas, tiveram voos cancelados por isso, diz Neves. “São coisas pequenas. Equipamentos quebrados e licenças que venceram que inviabilizaram a operação.” Mas, a seu ver, o maior problema é o preço do combustível. O querosene de aviação (QAV) no Brasil já é mais caro do que no exterior, mas no interior os valores são ainda maiores do que nas capitais. Um litro de QAV sai por 1,36 real nos EUA, 2,25 reais em São Paulo e 6,74 reais em Cacoal (RO).

Como 37% do custo de um voo é composto pelo combustível, a mesma distância pode custar o dobro se o voo partir de cidades do interior do que de São Paulo. Para ser viável, o preço da passagem teria de ser muito superior, o que muitas vezes não cabe no bolso do passageiro.

Menos aviões

A redução de voos para o interior reflete o que ocorre na malha aérea como um todo, explica Alberto Fajerman, diretor de relações institucionais da Gol. “Tiramos vinte aviões da frota este ano. O mesmo avião voa para cidades grandes e pequenas, como se estivesse em um trilho, então vários destinos foram afetados.”

Ao todo, a Gol projeta um corte de até 18% nos voos nacionais em 2016. Na maioria das cidades, há redução de frequências. Porém, destinos como Altamira (PA), Imperatriz (MA), Bauru e Ribeirão Preto (ambas em SP) deixaram de ser atendidos pela Gol.

A Latam também fechou bases no interior e colocou na gaveta planos de montar uma frota para voos regionais. “Estudamos seriamente esse projeto e chegamos a iniciar negociações com Embraer e Bombardier”, diz a presidente da Latam Brasil, Claudia Sender. Ela ressalta que a empresa ainda acredita que o crescimento do tráfego aéreo virá das cidades médias e tem interesse em novos destinos regionais.

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A crise, no entanto, adiou os planos para este mercado. Para reverter o quadro, as empresas defendem uma desoneração de custos, em especial do QAV. A Abear estima que um teto para a alíquota do ICMS, em discussão no Senado, viabilizaria a criação de 200 voos em um ano, incluindo o interior.

Concessões

Em relação a capitais, a estimativa do governo é de alta na concorrência  pelo setor aéreo. O ministro dos Transportes, Portos e Aviação Civil, Maurício Quintella, disse ter a expectativa de que o leilão de quatro aeroportos – Florianópolis (SC), Fortaleza (CE), Salvador (BA) e Porto Alegre (RS) -, previsto para acontecer ainda neste ano, seja “bastante disputado”.

“Mesmo com o momento econômico que a gente está vivendo, a disputa vai ser grande”, afirmou em coletiva de imprensa, para apresentar os dados de movimentação dos aeroportos na semana passada, quando houve a abertura dos Jogos Olímpicos. Quintella não quis informar o número de empresas que demonstraram interesse até agora porque, segundo ele, o processo ainda está em andamento e o edital sequer foi divulgado.

(Com Estadão Conteúdo)

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