Tensão na ExoMars: sinal de pouso em Marte é interrompido
Missão europeia chegou a Marte nesta quarta-feira. Satélite TGO entrou na órbita do planeta, mas sinal do módulo Schiaparelli parou inesperadamente
Após de uma jornada de sete meses e 500 milhões de quilômetros até Marte, o destino da ExoMars é incerto. Composta pelo satélite Trace Gas Orbiter (TGO) e o módulo Schiaparelli, a missão deveria colocar TGO em órbita no planeta e fazer um pouso controlado de Schiaparelli sobre a superfície marciana, em uma arriscada descida de seis minutos. Nesta quarta-feira, às 14h35 (horário de Brasília), os astrônomos captaram sinais de que o satélite havia entrado com sucesso na órbita de Marte, mas o robô Schiaparelli parou de enviar dados pouco antes da aterrissagem – deixando bastante apreensivos os cientistas da Agência Espacial Europeia (ESA) e da russa Roscosmos, responsáveis pela missão.
“Está claro que os sinais [de Schiaparelli] não são bons, mas ainda precisamos de mais informação”, afirmou o chefe da divisão de Operações da ESA, Paolo Ferri.
No final da tarde, em coletiva de imprensa, os astrônomos da ExoMars afirmaram que a missão, que pretende explorar Marte para descobrir se ele é capaz de abrigar vida, foi um sucesso, apesar do silêncio de Schiaparelli. Segundo o astrônomo Michel Denis, diretor de voo da ExoMars, TGO está funcionando como o esperado, descrevendo uma órbita de quatro dias ao redor de Marte.
Schiaparelli, contudo, parou de enviar sinais, sem qualquer explicação. Eles estavam sendo recebidos com sucesso durante boa parte da descida pela atmosfera marciana, mas foram interrompidos antes que o módulo chegasse à superfície. Essas informações, segundo os astrônomos, foram confirmadas tanto pelo radiotelescópio que acompanhava a manobra da Terra quando pela nave Mars Express, que seguia a descida do espaço. Os astrônomos da ESA passarão a noite desta quarta-feira analisando os dados enviados pela missão e esperam ter mais informações sobre a sonda e os próximos passos da ExoMars durante a quinta-feira.
Pouso perigoso
O procedimento para a chegada à superfície de Marte começou no domingo, quando Schiaparelli deixou o satélite TGO, ao qual estava acoplado. Desde então, a sonda se aproximou lentamente do planeta e, nesta quarta-feira, mergulhou na atmosfera marciana. Segundo o plano da ESA, o robô deveria descer em direção à superfície a 21 quilômetros por hora e, com o apoio de paraquedas e propulsores, diminuir a velocidade até pousar no solo.
Essa aterrissagem controlada em Marte é o maior desafio da missão. Até hoje, apenas americanos pousaram equipamentos com sucesso no planeta. O êxito dessa parte da ExoMars seria um marco na história da exploração europeia, pois o único precedente, o jipe Beagle 2, da Grã Bretanha, fracassou ao chegar ao planeta, em 2003. Seus painéis solares não abriram corretamente, o que impediu que ele tivesse energia para enviar informações à Terra.
Outra missão da ESA também teve problemas com a aterrissagem em corpos celestes. O robô Philae, liberado pela sonda Rosetta, quicou ao chegar à superfície do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko e parou longe do local escolhido pelos cientistas. Com isso, suas baterias não carregaram como o esperado. O robô só foi encontrado pelos astrônomos em setembro deste ano, perto do fim da missão.
ExoMars
Lançado em março, a bordo do foguete Protón-M, ExoMars é um laboratório que conta com o módulo Schiaparelli, de quase 600 quilos, e o satélite TGO. O satélite vai estudar os gases da atmosfera do planeta, enquanto Schiaparelli deve enviar dados aos centros de controle terrestre e garantir que, no futuro, a missão mande um pequeno jipe capaz de se deslocar vários quilômetros e escavar até dois metros sob a terra de Marte para coletar e analisar amostras.
Juntos, os dois equipamentos pretendem abrir caminho para uma missão não tripulada de ida e volta a Marte, prevista para 2020. A missão conduzirá sua pesquisa por um caminho cuja próxima grande fronteira será enviar astronautas ao planeta vermelho para saber se o ser humano pode viver em outros mundos.