Sha Zukang: “Nosso trabalho é fazer com que todos sejam iguais, não felizes”
Secretário-geral da Rio+20 critica a falta de ação dos países para a elaboração de um documento mais ambicioso e critica a ONU: “As pessoas da ONU de Nova York falam muito e em Genebra trabalham muito”, disse
“As pessoas da ONU de Nova York falam muito e em Genebra trabalham muito”, disse Sha Zukang, que se prepara para se aposentar da diplomacia
O secretário-geral da ONU para a Rio+20, Sha Zukang, resolveu abrir o verbo nesta sexta-feira. Em ritmo de fim de conferência e prestes a deixar as Nações Unidas após 43 anos de dedicação, ele fez um discurso que não poupou a ONU nem os países que têm criticado o documento final: “Esse é um resultado no qual ninguém está feliz, mas o nosso trabalho é fazer com que todos sejam iguais, não felizes”, disse. “Se vocês estão igualmente infelizes, ficam felizes. Isso (o documento final da Rio+20) é produto de um compromisso. O resultado pode ser tão bom quanto os estados membros quiserem”, afirmou Sha Zukang, referindo-se indiretamente à falta de empenho de alguns países que, apesar de reclamarem da ausência de metas no documento, nada fizeram- em especial os desenvolvidos que, por causa da crise econômica, foram contra medidas de implementação das ações.
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Sha Zukang foi enfático ao dizer que é necessário agir, e não só falar. Ele citou o exemplo de Copenhagen, onde ocorreu a conferência sobre clima, para mostrar que de nada adianta os encontros se, depois, não forem feitas ações efetivas. “O trabalho árduo começa agora. Prometer é fácil. Um dos últimos compromissos foi o de Copenhagen. Vocês sabem quais são? Por que não estão implementado? Ninguém os forçou (os países) a fazer acordo, foi voluntário. Vocês (os países) não estão honrando os compromissos”, disse.
Zukang, de aparência tranquila, mostrou nesta sexta que nem sempre a diplomacia é o norte de sua fala. “As pessoas da ONU de Nova York falam muito e em Genebra trabalham muito”, disse. À mesa estava Brice Lalonde, o diretor- executivo da Rio+20 que trabalha na ONU de Nova York. “Vou deixar as Nações Unidas daqui a pouco, posso falar o que eu quero”, avisou.
“Há uma diferença entre compromisso e a boa intenção: a responsabilidade. Espero que as promessas (da Rio+20) sejam mantidas e espero ouvir muitas histórias de sucesso quando voltar a Pequim”, disse. O representante da ONU para a Rio+20, em balanço sobre a conferência, afirmou que, para fazer a diferença, são necessárias iniciativas que possam levar à implementação do que foi falado nas plenárias.
O secretário-geral ressaltou como medida relevante para transformar os discursos e debates da Rio+20 em ação a doação de 513 bilhões de dólares. Nesta sexta, ele anunciou que o encontro no Riocentro rendeu 692 compromissos voluntários registrados. “Os compromissos voluntários são parte do legado da conferência. Eles trazem atores voluntários que têm o mesmo fim: o desenvolvimento sustentável”, disse. Fazem parte desse compromisso ONGs, major groups, estados membros, agências da ONU e empresas. “Não podemos esquecer das ações voluntárias. Foram registradas também muitas ações individuais”, afirmou Sha Sukang.
Desses 513 bilhões, 175 bilhões serão destinados ao transporte sustentável. Os oito maiores bancos multilaterais de desenvolvimento do mundo já haviam anunciado na quarta-feira o compromisso voluntário de fazer o investimento nos próximos 10 anos.
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