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Por dentro do fantástico mundo de Júpiter

Uma análise (com novas fotos) dos primeiros resultados da sonda Juno, divulgados nesta quinta (25)

Por Talissa Monteiro 25 Maio 2017, 19h00

Ciclones de 1 400 km de diâmetro, mais de 60 luas, e eventos frequentes com auroras boreais que transformam a superfície em um espetáculo de luzes. Um mundo saído de um filme de ficção científica? Nada disso. Trata-se de um velho conhecido nosso: Júpiter, o maior planeta do sistema solar e o quinto mais próximo do Sol. Um dos primeiros cientistas a observá-lo foi o italiano Galileu Galilei (1564 – 1642) há 400 anos. Foi por meio da observação do corpo em um telescópio primitivo que ele descobriu, por exemplo, que Júpiter tinha (ao menos, achava à época) quatro luas. O gigante do Sistema Solar, que sempre habitou a imaginação de pesquisadores e apaixonados pela astronomia, agora parece estar pronto para nos dar algumas respostas a mais, com os primeiros resultados da sonda Juno, que chegou à órbita do planeta em julho de 2016.

As imagens coletadas pelo aparelho e publicadas na última edição (de hoje, dia 25) da revista Science revelam detalhes de um ambiente ainda pouco conhecido. Já se sabia, por exemplo, que a atmosfera do planeta é turbulenta. Porém, Juno identificou, nos polos, a presença de ciclones com diâmetros de até 1400 km. “A novidade aqui não está na descoberta, em si. Mas em poder olhar mais de perto para esse mundo maravilhoso e, assim, começar a desvendar a atmosfera de Júpiter, que é muito mais complexa do que a da Terra”, disse o astrofísico gaúcho Roberto Dell’Aglio Dias Costa, professor da Universidade de São Paulo (USP). 

Imagem em “close” que mostra as nuvens da região sul de Júpiter, feita pela missão Juno. (NASA/SWRI/MSSS/Gerald Eichstädt/Seán Doran/VEJA)

Além disso, Juno também trouxe informações sobre a parte profunda da atmosfera do planeta, onde encontrou sinais de amônia, um dos compostos responsáveis por formar sistemas climáticos gigantes. Encontrar algo assim ajuda, por exemplo, a saber o que se tem no núcleo do planeta, o qual os cientistas já imaginavam ser rochoso e agora estão um passo mais próximos de confirmar tal teoria.

“Ao saber qual é a composição da atmosfera, conseguimos desvendar o que se tem no centro e, a partir disso, entender como um planeta se formou. Imaginamos que o processo tenha sido parecido com o da Terra e o do Sol. Aqui, no nosso planeta, porém, muito dessa composição original se perdeu. A esperança é que Júpiter tenha mantido isso e possa nos dizer mais sobre como o sistema solar se formou”, explicou o astrofísico paulista Nilton Rennó, da Universidade Michigan (EUA) e colaborador frequente da Nasa.

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Sequência de imagens que mostra a visão da missão Juno durante as aproximações ao planeta (NASA/SWRI/MSSS/Gerald Eichstädt/Seán Doran/VEJA)

Esse vizinho gigante ainda superou a Terra em seu campo magnético. Essa estrutura de Júpiter é cerca de 10 vezes mais forte que a nossa, ultrapassando a medida o que as teorias antes previam. A descoberta é importante porque esse é um dos componentes responsáveis por manter a atmosfera de um planeta preservado e um dos fatores essenciais para que se tenha vida. Em Júpiter, isso não é possível, evidentemente, por se tratar de um planeta gasoso, não rochoso. Isso não se pensarmos em vida como a concebemos. “Esse número mostra que os modelos estudados até então precisam ser revistos. No entanto, quando contradizemos teorias anteriores é que evoluímos e fazemos ciência”, completou Dias Costa.

Quando foi absorvida pela imensa gravidade de Júpiter, Juno atingiu uma velocidade de 250 mil km/h para se posicionar a 4 500 km do topo das nuvens do planeta, numa distância considerada pequena por especialistas. Até então, apenas uma outra sonda, a Galileo, da NASA, havia orbitado o local, em 1995. Porém, ela não chegou tão perto do corpo como Juno fez agora, devido ao ambiente extremamente hostil para aparelhos eletrônicos, que podem ser destruídos pelos cinturões de radiação emitidos. A estimativa é que a sonda tenha enfrentado, no mergulho inicial, uma dose equivalente a um milhão de raios-X para cumprir a missão.

Com oito equipamentos de sensoriamento remoto, mais câmeras, a sonda investiga as várias camadas gasosas do planeta, colhendo informações sobre sua composição, temperatura e movimento. Depois da primeira aproximação, Juno entrou em uma órbita elíptica que durou 53 dias. O aparelho, que leva o nome de uma deusa da mitologia romana custou cerca de 1,1 bilhão de dólares. Ele voltou a entrar em contato com o gigante Júpiter no dia 27 de agosto, quando foram coletados os dados apresentados nessa nova pesquisa. 

Vídeo feito pela Nasa mostrando as ‘auroras’ do polo sul de Júpiter:

Mas além de Júpiter, a sonda também tem outro interesse, muito mais animador, convenhamos: a lua Europa, um dos 67 satélites do planeta. Ela é rochosa como a nossa própria lua, tem um oceano que envolve todo o corpo e ainda é o único lugar conhecido fora da Terra que conta com vulcões ativos. Ou seja, uma fórmula provável para a existência de vida.

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Nesse aspecto, o objetivo de Juno é descobrir mais sobre a camada de gelo que cobre o enorme mar de Europa e se aprofundar nesse intrigante endereço do sistema solar. “Traçamos linhas evolutivas da vida dentro da nossa referência, que é a vida na Terra. Entretanto, como será que ela poderia evoluir em outro sistema? Uma sonda como Juno tem o objetivo de entender melhor tais corpos para que possamos responder às perguntas que permeiam a existência humana”, finalizou Dias Costa.

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