Peixes e verduras, numa só fazenda
Com a nova técnica da aquaponia, as produções de pescado e de hortaliças se completam
A organização de Price está trabalhando internacionalmente com projetos de produção de alimentos na Índia, Afeganistão e vários países africanos, incluindo Uganda, Quênia e Namíbia
Nas planícies da Escócia, as Lowlands, um velho posto de bombeiros doado para a comunidade de Moffat por um simbólico centavo foi convertido no que poderá ser a fazenda do futuro. Esqueça as plantações. Esqueça até mesmo as normas estabelecidas sobre agricultura industrial. Usando uma nova tecnologia conhecida como “aquaponia”, a fazenda de Moffat, que deve começar a produzir no final deste mês, irá lidar com toneladas de peixes e vegetais em um espaço equivalente a uma pequena fábrica.
A aquaponia – uma combinação de aquicultura, ou cultivo de peixes, e hidroponia, ou plantio à base de água – utiliza uma relação simbiótica entre peixes e plantas. Resíduos de peixe fornecem nutrientes para as plantas que, por sua vez, filtram a água em que os peixes vivem. Mudas de plantas são compostas para criar comida para vermes, que servem de alimento aos peixes, completando o ciclo.
“A aquaponia é uma forma de produção de múltiplas culturas com custos mínimos, por meio de um método de circuito-fechado de cultivo”, disse Charlie Price, fundador da Aquaponics UK, a organização sem fins lucrativos que dirige a fazenda.
“Um quilo de alimento para peixes produz 50 quilos de vegetais e 0,8 quilo de peixe”, disse. “À medida que o ecossistema se torna auto-sustentável, a comida de peixe virá dos vermes, e assim todo o ciclo será de graça.”
A organização de Price está trabalhando internacionalmente com projetos de produção de alimentos na Índia, Afeganistão e vários países africanos, incluindo Uganda, Quênia e Namíbia. Mas também trabalha perto de casa. Seu próximo projeto é uma loja de fazenda urbana em Londres em que as pessoas poderão colher sua própria salada e escolher o peixe para o jantar em tanques gigantes.
A loja, chamada Farm:shop, no bairro de Hackney, foi criada pela Something & Son, uma empresa de design, trabalhando com o município. Pretende fazer a ligação direta entre a vizinhança da cidade e os produtos da fazenda. A localização está garantida e o projeto em fase final de financiamento.
O potencial para a agricultura urbana vem sendo explorado em Milwaukee, onde alguns dos principais empresários da aquaponia estão baseados. A Sweet Water Organics, uma empresa de aquaponia urbana, produz peixes e verduras numa velha fábrica que abrigou uma empresa de mineração até 1950. A fazenda, fundada por James Godsil e Josh Fraundorf em janeiro de 2009, já vendeu milhares de peixes e produz cerca de 70 quilos de vegetais por semana. Está se expandindo rapidamente e planeja produzir entre 360 e 450 quilos de verduras por semana e crescer para dezenas de milhares de quilos de perca, uma espécie de peixe, nos próximos anos.
Godsil e Fraundorf aprenderam as técnicas de Will Allen, um fazendeiro urbano e ganhador de uma bolsa “genius” da Fundação MacArthur, e por tentativa e erro.
“Acreditamos que este é o primeiro esforço no mundo para transformar uma fábrica numa fazenda de peixes e vegetais, e é uma proposta complexa”, disse Godsil. “Temos experimentado com 40 tipos de alface e agora estamos testando espinafre.”
A fazenda começou com um investimento de 50 mil dólares, mas tem atraído cerca de 1 milhão de dólares de fundos nos últimos 20 meses e parcerias com a escola de engenharia de Milwaukee e apoio informal da Universidade de Stirling, na Escócia. Está em discussão o conceito de aldeias Sweetwater, que teria produção em escala local, restaurantes e cafés com os alimentos produzidos a partir da aquaponia.
A fazenda recebe o apoio da Universidade de Wisconsin e do Sea Grants, um programa do governo dos Estados Unidos, para produção de perca amarela e outros peixes nativos da região dos Grandes Lagos, com população em declínio. “O peixe produzido é a forma de proteína do século 21 que não prejudica o planeta”, disse Godsil.
A aquaponia industrial ainda está na infância, com apenas cinco instalações de mais de 0,4 hectare operando no mundo, mas o interesse é crescente, particularmente em áreas com escassez de água. A aquaponia usa entre 80% e 90% menos água que os métodos tradicionais de cultivo.
Em Barbados, onde a água doce é escassa e 80% dos alimentos são importados, de acordo com o Instituto Inter-americano de Cooperação para a Agricultura, um projeto conhecido como “Ilha Aquaponic” começou no ano passado, com o objetivo de educar os agricultores sobre os benefícios da aquaponia para torná-la sua escolha tecnológica dentro de quatro anos. O projeto tem financiamento do Programa de Desenvolvimento das Organização das Nações Unidas.