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Os psicopatas no mercado de trabalho

Em novo livro, psiquiatra britânico defende que, em doses moderadas, características como audácia, agressividade e capacidade de convencimento são úteis no ambiente de trabalho

Por Tiago Cordeiro
Atualizado em 6 Maio 2016, 16h18 - Publicado em 21 jul 2013, 18h11

Os transtornos mentais se manifestam em graus variados. Nem todo psicopata é um assassino implacável. Algumas pessoas conseguem até tirar proveito das formas mais brandas deste distúrbio para se dar bem no mercado de trabalho – e não representam nenhuma ameaça à sociedade. A tese é do psicólogo britânico Kevin Dutton, professor da Universidade de Oxford, que acaba de publicar o livro The Wisdom of Pshychopaths (A Sabedoria dos psicopatas, sem versão em português). “Todos temos algumas das características dos psicopatas. O que determina o transtorno são os diferentes graus e a forma como cada uma dessas características se combinam”, diz.

A gradação da psicopatia

Transtornos mentais são diagnosticados com base em exames clínicos e questionários padronizados. Normalmente, admitem gradações. No caso da psicopatia, a pontuação vai de 0 a 40, segundo o teste de referência. O exame é feito com base em questões comportamentais, que sondam, por exemplo, se o paciente maltrata animais, que tipo de relacionamento ele consegue manter e até se costumava fugir da escola. De acordo com Daniel Martins de Barros, psiquiatra coordenador do Núcleo Forense do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo, a psicopatia é tecnicamente diagnosticada nos casos em que a pontuação é maior do que 30. “Há, no entanto, gradientes, com notas perto dos 30. Essas pessoas têm graus maiores de frieza e indiferença, por exemplo, mas não são psicopatas formalmente diagnosticadas.” Segundo o psiquiatra, não há tratamento comprovado para a psicopatia – em alguns casos, a terapia pode até piorar o quadro. O mais eficaz, portanto, é transmitir ao paciente a clara percepção de que seus atos serão punidos.

A psicopatia, ou o transtorno de personalidade antissocial, está descrita no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), referência da psiquiatria. A condição tem como característica principal um “padrão global de desrespeito e violação dos direitos alheios”. De acordo com o DSM, as características centrais da personalidade de um psicopata são falta de empatia, tendência à insensibilidade, desprezo pelos sentimentos das outras pessoas, irresponsabilidade, irritabilidade e agressividade.

Segundo Dutton, no entanto, em doses pequenas, algumas dessas características não são um perigo concreto à sociedade. Elas podem até favorecer a ascensão profissional. “Todo executivo tem que promover cortes de funcionários em algum ponto da vida. A falta de empatia é importante nestes casos”, diz. A diferença entre os assassinos – como o personagem Dexter, protagonista da série homônima – e os empresários é que, em um serial killer, o traquejo social é menor, e a capacidade de se comportar de forma agressiva, bem maior. “Mas nem todo psicopata é violento.”

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Carreira – E Dutton não está sozinho. Estudos anteriores já haviam identificado características da psicopatia em executivos. Um dos mais importantes foi publicado em 2005. As psicólogas forenses Belinda Board e Katarina Fritzon, pesquisadoras da Universidade Surrey, na Inglaterra, entrevistaram executivos de alto escalão e aplicaram a eles testes de personalidade. Depois, compararam os resultados com os perfis de um grupo de detentos do hospital psiquiátrico de segurança máxima Broadmoor, também na Inglaterra.

Resultado: as pesquisadoras descobriram que os executivos compartilham, em graus moderados, de três desordens de personalidade comuns entre psicopatas: os comportamentos obsessivo-compulsivos (que levam ao perfeccionismo e a atitudes autoritárias), os transtornos de personalidade histriônica (caracterizados pela necessidade de manipular os outros para chamar a atenção para si) e o narcisismo (marcado pela preocupação em ser bem visto pelos outros e pela despreocupação com o bem-estar alheio). É o que explica alguns traços em comum, como o egocentrismo, a capacidade de manipular e explorar os outros, o perfeccionismo, o autoritarismo e a insinceridade.

No entanto, o que normalmente se toma por um defeito de personalidade pode ser um vantagem no ambiente de trabalho. “A audácia, a capacidade de persuasão, a falta de empatia e a coragem para assumir riscos são características dos líderes políticos e religiosos, cirurgiões, generais, bombeiros, policiais, jogadores de pôquer, astronautas, pilotos de Fórmula 1 e operadores das bolsas de valores”, diz Dutton, ressalvando que a psicopatia, como qualquer transtorno psíquico, demanda atenção: em formas mais intensas, faz mal para os familiares, amigos, colegas de trabalho e para a própria pessoa. “A vida não se resume a uma série de ações egoístas bem sucedidas. Construir uma gama de relacionamentos saudáveis é fundamental”, diz o psicólogo.

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