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O extraordinário lixo carioca

Nova lei de resíduos obriga empresas a contratar catadores dos lixões

Por La Vanguardia
Atualizado em 6 Maio 2016, 17h13 - Publicado em 27 out 2010, 16h16

O Pão de Açúcar aparece nos cartões postais, mas o Jardim Gramacho, o maior vertedouro de resíduos urbanos do mundo, pode surgir como a montanha mais emblemática do Rio de Janeiro na era Lula. Como em outras megacidades latino-americanas, milhares de pessoas ganham a vida remexendo nos resíduos em busca de plásticos, metais e outros materiais que possam vender a empresas de reciclagem. Tiram 200 toneladas de material reciclável por dia.

Os coletores acabam de ser reconhecidos em uma nova lei de gestão de resíduos sólidos assinada pelo presidente Lula este mês, considerada vanguardista tanto por ambientalistas como por defensores dos direitos de milhões de trabalhadores informais no Brasil.

“A lei obriga o sistema de reciclagem a incorporar aos coletores como trabalhadores”, disse Sonia Maria Dias, da ONG Mulheres no Trabalho Informal, que organiza coletores de lixo informais em Belo Horizonte. “Passa a responsabilidade de reciclar a quem gera o lixo, e isso vai criar mais empregos para os coletores.”

É uma questão-chave porque, ainda que sejam vítimas da pobreza, os recicladores de cidades como o Rio são os heróis da luta contra a mudança climática. Reciclam 80% do lixo e reduzem as emissões de gases do efeito estufa a níveis inalcançáveis com modernos sistemas de incineração ou vertedouros subterrâneos. Em outras cidades latino-americanas, a chegada de multinacionais de gestão de resíduos – muitas espanholas – ameaça deixar milhões de recicladores sem trabalho. O Brasil optou por outro caminho.

Rodeado por favelas onde os catadores convivem com ratos, o Jardim Gramacho, a primeira vista, é uma imagem dantesca da miséria. Umas 2 500 pessoas se lançam ao lixo que sai dos caminhões. “Quando se aproxima, o fedor é difícil de suportar”, disse João Jardim, diretor de Lixo Extraordinário, um documentário sobre a vida dos catadores que participam em um projeto artístico no Jardim Gramacho do fotógrafo Vik Muniz. “Mas a gente logo se acostuma e se dá conta de que os catadores não são pessoas infelizes.” Isto, como se comprova no filme, é resultado do companheirismo e do surpreendente orgulho profissional dos recicladores, todos integrantes de um sindicato que fez campanha a favor de um novo sistema de reciclagem que acabou incorporado à nova lei. “A lei não é apenas obra do governo Lula, mas de 19 anos de luta dos movimentos sociais”, disse Sonia Maria Dias.

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A lei é uma das iniciativas mais importantes para incorporar mais de 12 milhões de trabalhadores informais nas grandes cidades brasileiras. A integração dos informais à economia regular, com salários dignos, será necessária para que o próximo governo enfrente outro desafio para a cidade anfitriã da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016: a humanização e a pacificação das favelas. “Quando houve guerra nas favelas encontrávamos muitos cadáveres no Jardim Gramacho”, disse Sebastião dos Santos, um dos organizadores dos catadores do Rio.

Uma das consequências da nova lei e as melhorias na gestão dos resíduos em geral é que o Jardim Gramacho desaparecerá conforme o novo sistema de reciclagem seja adotado. “A lei será boa se recebermos os contratos da coleta seletiva, mas vamos seguir lutando para que nos respeitem como profissionais históricos da reciclagem”, disse Santos, depois da estreia do documentário no Festival de Cinema do Rio, um evento típico da era Lula, no qual se misturam os progressistas do mundinho do cinema e dezenas de catadores de lixo.

O próximo desafio será buscar uma forma de estabilizar o faturamento da venda dos recicláveis que oscilam de acordo com os ciclos econômicos. Em 2007, os preços estavam nas nuvens, os recicladores do Jardim Gramacho podiam cobrar até 25 dólares por um dia de trabalho, uma remuneração excelente para o setor informal. Mas desde a crise o preço do lixo despencou. “É um preço global estabelecido por grandes empresas.”

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