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“Não há dúvidas de que o homem vai a Marte”, garante coordenadora científica da Nasa

Apesar da crise financeira, Gale Allen demonstra otimismo: se tudo der certo, a primeira colônia humana em Marte pode ser construída até 2050

Por Marco Túlio Pires, de Washington
Atualizado em 6 Maio 2016, 16h54 - Publicado em 22 nov 2011, 13h31

Gale Allen, coordenadora científica da Nasa, admite: não há valor comercial em ir a Marte neste momento. Para ela, a questão envolve algo mais importante que cifras. Existe um valor sentimental. “Somos exploradores e curiosos. Queremos chegar lá”, afirma ao site de VEJA, no quartel general da Nasa, em Washington. Gale acredita que a visita ao solo marciano vai além da capacidade dos Estados Unidos, e por isso será preciso uma parceria de entre vários países. “Só assim conseguiremos completar essa missão.” O valor sentimental, diz Gale, “servirá para nos inspirar quando olharmos para o céu e saber que conseguimos chegar lá.”

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De acordo com Michael Meyer, cientista-chefe das missões à Marte lideradas pela Nasa, seria possível fazer uma visita ao planeta vermelho em cinco anos. O caminho seguro, contudo, é longo e caro. Primeiro, a Nasa vai terminar de construir uma versão reciclada do foguete que levou o homem à Lua. Em seguida, será necessário fazer um pit-stop em um asteroide, alvo mais próximo que Marte e mais distante que a Lua. Só assim os cientistas terão certeza de que podem enviar seres humanos tão longe.

Quão longo seria esse caminho? Se depender do otimismo de Allen – e de uma série de missões bem sucedidas – a construção de uma colônia marciana será iniciada em 2050. Ela dá mais detalhes sobre os planos da Nasa para os próximos 40 anos na entrevista a seguir.

Em 1962, o então presidente dos Estados Unidos John F. Kennedy disse que os objetivos da Nasa se resumiam em uma frase: “Escolhemos ir à Lua.” Qual seria a frase que melhor representa os objetivos da Nasa hoje? Escolhemos explorar lugares ainda mais distantes, nunca antes visitados. A Lua é apenas um dos destinos em nosso plano interplanetário. Escolhemos levar o homem para múltiplos destinos no universo e não apenas um.

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Quais seriam esses destinos? O presidente Barack Obama pediu que voltássemos nossa atenção para Marte. Contudo, o caminho até lá é longo e precisamos aprender muito antes que isso aconteça. Por isso, antes de chegar ao planeta vermelho, vamos visitar um corpo celeste no meio do caminho. Nossa próxima missão tripulada ao espaço profundo será a um asteroide. Estamos escolhendo aqueles que comportariam uma visita humana, mas nosso objetivo principal é sempre Marte. A missão a um asteroide é um degrau necessário.

Quais são as missões que melhor representam os objetivos da Nasa? Colocamos a ciência em três categorias: Terra, imediações e exploração humana. A primeira é observar a Terra do espaço e entender o seu complexo ecossistema, algo que vai ajudar garantir a melhor administração possível do planeta. A recém-lançada missão Aquarius, por exemplo, vai medir a salinidade dos oceanos. A segunda categoria são os destinos de curto prazo dentro do Sistema Solar. São missões que nos ajudam a entender os planetas e luas próximos de nós. Recentemente lançamos a missão GRAIL para entender a gravidade da nossa Lua. Temos o Mars Science Laboratory, um jipe com 10 instrumentos que vai ajudar a preparar o terreno para uma futura missão tripulada a Marte.

Existe alguma dúvida na Nasa de que haverá uma missão tripulada a Marte antes de 2050? Não. Definitivamente vamos para lá.

Com certeza seria uma missão tão inspiradora quanto cara. As estimativas mais otimistas dizem que uma única visita a Marte custaria 100 bilhões de dólares. A Nasa, os EUA e o resto do mundo estão passando por sérios problemas financeiros. Quem vai pagar a conta de uma missão a Marte? A visita a Marte deverá necessariamente ser uma parceria internacional. Não acredito em uma missão financiada e guiada por um único país. Dito isso, a agência espacial americana tem um orçamento robusto. A quantidade de dinheiro não está aumentando, mas temos 17 bilhões de dólares por ano, apenas para a Nasa. Não é pouco dinheiro. Somos ambiciosos em algumas missões e elas são muito complexas. Em alguns momentos o orçamento é menor do que antecipamos. Trabalhamos muito para possamos conciliar as missões tripuladas, as científicas e as aeroespaciais dentro do orçamento.

O desejo de ir a Marte existe, mas não há nenhuma missão no papel. A senhora não acha que falta uma missão que inspire a nossa geração, como a corrida à Lua? O presidente nos pediu que até 2025 enviássemos um ser humano a um asteroide. Estamos identificando qual será o asteroide. Estamos desenvolvendo os sistemas de lançamento que nos levarão até lá. Estamos comprometidos e sim, temos uma missão. Só não sabemos ainda qual asteroide seria, mas esperamos defnini-lo até o inicio de 2012. Além disso, o primeiro lançamento do novo foguete é 2017, então, em algum momento após isso teremos o lançamento de seres humanos ao espaço profundo.

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Apesar de ser anunciado como novo foguete, a tecnologia usada no foguete é apenas uma adaptação da que usamos para ir à Lua. Como isso será capaz de inspirar as gerações futuras? Não é uma nova tecnologia, mas é uma que conhecemos muito bem. Existem fatores de segurança associados a uma viagem ao espaço profundo e há também o custo. Dinheiro é uma variável importante para a Nasa. Nosso orçamento não está crescendo, está estável. Para que possamos fazer mais exploração, decidimos usar uma tecnologia que conhecemos. Ela vai custar menos e poderemos construí-la mais rápido do que se optássemos por uma nova tecnologia. Com ele, iremos muito mais longe do que já fomos. A questão sobre as missões que podemos fazer diz respeito à tecnologia que temos nas mãos e o que sabemos sobre os corpos celestes que queremos visitar. Existe muita inspiração e excitação nas missões robóticas que antecedem a exploração humana. A missão a um asteroide é como um degrau para Marte. Acho que as pessoas se empolgarão mais quando essas missões estiverem mais próximas de acontecer, ao fim dessa década.

No fim de junho a revista The Economist decretou “O fim da era espacial” em sua capa. Se tivesse a chance de comentar a matéria, o que diria? Eles estavam muito mal informados. Estabelecemos um novo e profundo compromisso com o voo espacial. Estamos entregando à iniciativa privada as responsabilidades dos voos de baixa órbita para que possamos nos concentrar no espaço profundo. Isso indica que estamos comprometidos a explorar lugares que nunca fomos antes. Não indica, de forma alguma, o fim da era espacial ou do voo espacial humano.

Há 40 anos, a Nasa conquistou a Lua. Se o plano para os próximos 40 anos der certo, quais serão as vitórias da agência em 2050? Do ponto de vista científico, acredito que teremos determinado a origem do Sistema Solar e como a Terra foi criada. Teremos tudo isso documentado. Além disso, espero que tenhamos conseguido alcançar outras localidades em nossa galáxia e quem sabe, outras galáxias. Para humanos, teremos nos estabelecido em Marte e teremos dado início à construção de uma colônia marciana.

Infográfico Mars Science Laboratory ()
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