ExoMars: sonda pode ter explodido ao colidir com Marte, diz ESA
Imagens obtidas pela Agência Espacial Europeia (ESA) revelam que módulo Schiaparelli atingiu a superfície em queda livre, a mais de 300 quilômetros por hora
O módulo Schiaparelli, que deveria pousar lentamente na superfície de Marte na última quarta-feira, provavelmente caiu em queda livre e explodiu ao chocar-se com o planeta. Segundo a análise de imagens obtidas pelo satélite Mars Reconnaissance Orbiter (MRO), da Nasa, e divulgadas nesta sexta-feira, os propulsores que deveriam ajudar a diminuir a velocidade do pouso da sonda, falharam, provocando o impacto. A perda do equipamento coloca em risco o futuro da missão ExoMars, da qual Schiaparelli faz parte, e que pretende abrir caminho para uma missão não tripulada, de ida e volta a Marte, em 2020.
“Estimamos que o Schiaparelli caiu de uma altura entre dois e quatro quilômetros, impactando o solo com uma velocidade considerável, acima de 300 quilômetros por hora”, explica o comunicado da Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês), responsável pela missão ExoMars.
As imagens foram obtidas pela CTX, uma câmera de baixa resolução a bordo do satélite MRO, que orbita Marte. Os astrônomos da ExoMars ainda vão refinar a análise dos dados enviados pelo módulo antes da queda, para tentar descobrir o motivo por que a aterrissagem não saiu como o previsto.
Pouso em Marte
Composta pelo satélite Trace Gas Orbiter (TGO) e o módulo Schiaparelli, a missão ExoMars deveria colocar TGO em órbita no planeta e fazer um pouso controlado de Schiaparelli sobre a superfície marciana, em uma arriscada descida de seis minutos. Na quarta-feira, às 14h35 (horário de Brasília), os astrônomos captaram sinais de que o satélite havia entrado com sucesso na órbita de Marte, mas o robô Schiaparelli parou de enviar dados pouco antes da aterrissagem – deixando bastante apreensivos os cientistas ESA e da russa Roscosmos, também responsável pela missão.
Segundo o planejamento, após a entrada na atmosfera marciana, o módulo deveria descer em direção à superfície a 21 quilômetros por hora e, com o apoio de paraquedas e propulsores, diminuir a velocidade até pousar no solo.
Essa aterrissagem controlada em Marte era o maior desafio da missão. Até hoje, apenas americanos pousaram equipamentos com sucesso no planeta. O êxito dessa parte da missão seria um marco na história da exploração europeia, pois o único precedente, o jipe Beagle 2, da Grã Bretanha, fracassou ao chegar ao planeta, em 2003. Seus painéis solares não abriram corretamente, o que impediu que ele tivesse energia para enviar informações para a Terra.
O destino de Schiaparelli parece ainda mais trágico que o da antiga missão, já que, de acordo com os cálculos dos astrônomos, falhou cerca de 50 segundos antes do pouso. Segundo a análise das imagens enviadas pela Nasa, nesta sexta-feira, é possível identificar uma marca brilhante, que parece ser o paraquedas utilizado por Schiaparelli.
Enquanto ele se abriu como o previsto, os nove propulsores com os quais a sonda estava equipada e que deveriam apoiar a diminuição da velocidade, não parecem ter funcionado. A imagem seguinte, que revela uma grande mancha escura a cerca de um quilômetro ao Norte do paraquedas, foi interpretada pelos astrônomos como o retrato do impacto do módulo no solo marciano, resultado de uma queda livre mais longa que o esperado, depois que os propulsores desligaram prematuramente.
“É também possível que o módulo tenha explodido com o impacto, pois os tanques dos propulsores estavam, provavelmente, cheios. Essas interpretações preliminares serão refinadas nas próximas análises”, informou a ESA, em comunicado.
A agência informou também que imagens mais detalhadas do local onde Schiaparelli se encontra serão feitas pela HIRISE, a câmera de alta resolução do satélite americano MRO.
Enquanto isso, o satélite TGO continua em sua órbita de quatro dias ao redor de Marte, funcionando perfeitamente.
ExoMars
Lançado em março, a bordo do foguete Protón-M, ExoMars é um laboratório que conta com o módulo Schiaparelli, de quase 600 quilos, e o satélite TGO. O satélite vai estudar os gases da atmosfera do planeta, enquanto Schiaparelli deveria enviar dados aos centros de controle terrestre e garantir que, no futuro, a missão mande um pequeno jipe capaz de se deslocar vários quilômetros e escavar até dois metros sob a terra de Marte para coletar e analisar amostras.
Juntos, os dois equipamentos pretendiam abrir caminho para uma missão não tripulada para Marte. A missão conduziria sua pesquisa por um caminho cuja próxima grande fronteira seria enviar astronautas ao planeta vermelho para saber se o ser humano pode viver em outros mundos.