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Cientistas brasileiros criam vacina para câncer com protozoário da Doença de Chagas

Versão atenuada do 'T. cruzi' foi modificada geneticamente para produzir molécula igual à do tumor e fazer o sistema imunológico atacar o câncer

Por Raphael Veleda
Atualizado em 6 Maio 2016, 16h54 - Publicado em 22 nov 2011, 15h08

Descoberto em 1909, o parasita Trypanosoma cruzi é o causador da doença de Chagas, que afeta entre 12 e 14 milhões de pessoas na América Latina. O autor da descoberta, o sanitarista Carlos Chagas, foi indicado duas vezes ao prêmio Nobel pela importância do achado. Agora, 100 anos depois, o parasita pode proporcionar outra importante descoberta: cientistas da Universidade Federal de Minas Gerais estão usando o parasita para criar uma vacina contra o câncer.

A pesquisa brasileira já apresentou resultados satisfatórios em testes com ratos e acaba de ser publicada na edição desta semana da revista americana PNAS (Proceedings of the Nacional Academy of Sciences), o que deve atrair financiamento para a continuação do trabalho e futuros testes em seres humanos.

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DOENÇA DE CHAGAS

Doença infecciosa febril e crônica causada pelo parasita Trypanossoma cruzi. A transmissão se dá por meio do contato direto com as fezes do inseto conhecido como “barbeiro.” Alguns de seus sintomas são febre e infecções cardíaca ou cerebral, podendo ser fatal. Ocorre em todo o continente americano. Segundo a Sociedade Brasileira de Infectologia, há cerca de 12 milhões de pessoas portadoras da doença na América, sendo 1,6 milhão brasileiros.

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TRYPANOSSOMA CRUZI

Parasita causador da doença de Chagas. É um protozoário flagelado que entra no sangue humano a partir do contato com as fezes do “barbeiro”.

Os pesquisadores fizeram uma modificação genética em uma cepa atenuada (incapaz de desencadear a doença) do T. cruzi, fazendo com que o micro-organismo produzisse um certo antígeno igual ao que é fabricado pelas células do câncer de pele: o NY-ESO-1. À diferença do tumor, o T. cruzi produz uma resposta imunológica muito rápida no corpo. “Os anticorpos passam a atacá-lo e destruí-lo. Como ele contém esse antígeno produzido pelas células tumorais, o sistema imunológico entende que deve atacar e destruir as células com câncer”, explica ao site de VEJA Ricardo Gazzinelli, coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Vacinas e orientador da tese de mestrado da cientista Caroline Junqueira na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), onde o estudo foi desenvolvido. Como o protozoário costuma permanecer no corpo de forma crônica, a vacina pode ter efeito duradouro.

O sucesso dos testes foi parcial no tratamento de camundongos já infectados com o câncer de pele, ou melanoma. Já as cobaias que receberam a vacina antes de os cientistas induzirem a formação do tumor não desenvolveram a doença. “O resultado foi muito promissor”, afirma Gazzinelli. “Mas continuamos trabalhando para aumentar a taxa de sucesso nos casos de cobaias doentes.”

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O T. cruzi modificado também foi testado em células humanas cancerígenas mantidas em laboratório e provou ser eficiente em paralisar o crescimento da doença e diminuir o tamanho do tumor em vários casos. Os pesquisadores acreditam que podem aumentar a abrangência da vacina inserindo mais de um tipo de antígeno, para combater mais tumores e não apenas o melanoma.

Os próximos passos da pesquisa são os testes com cachorros. “Nos cães, vamos aplicar vacinas polivalentes, com quatro ou cinco antígenos. Esse é um passo importante na pesquisa”, explica Gazzinelli. Com cinco antígenos, o pesquisador acredita que pode impedir a formação de 90% dos tipos de cânceres que afetam humanos. “Outro ponto importante é trabalhar para aumentar a segurança do tratamento. Apesar de não termos tido nenhum camundongo infectado com Chagas, essa é uma abordagem inédita e há uma resistência da comunidade científica em usar um protozoário que causa uma doença grave como fonte para uma vacina”, completa.

A possibilidade de se realizar testes em seres humanos ainda está distante, mas os pesquisadores estão otimistas e comemoraram a publicação do estudo na revista americana, uma das mais influentes do mundo. “Mostra que estamos no caminho certo e que o estudo foi feito com a seriedade necessária. Precisamos ter cautela neste momento, mas acredito que, se os resultados persistirem nos próximos testes, essa pode ser uma descoberta muito importante.”

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