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Sem planejamento urbano, chuvas de verão são ameaça

Cidades brasileiras crescem de forma desordenada e criam áreas vulneráveis a tragédias com as enxurradas dessa época do ano

Por Rafael Lemos, do Rio de Janeiro
28 dez 2010, 18h30

“Não é que não possa haver construções em encostas. O problema é que, geralmente, quem ocupa essas áreas são pessoas pobres, que não têm apoio técnico. É possível construir com segurança, mas seria preciso ter mais engenharia ali. Mas, durante muitos anos, o estado fazia de conta que não estava vendo”, afirma Maurício Erlich

As enxurradas de verão, apesar de previsíveis, costumam deixar um rastro de mortes nas grandes cidades brasileiras. Por mais que sejam bem-vindos investimentos em previsão do tempo, é a maneira como o solo das áreas urbanas é ocupado o fator decisivo para a forma como a população pode resistir a um temporal. Enquanto não houver planejamento urbano e intervenção do estado para controlar construções em áreas de risco, as chuvas dessa época do ano vão ser sinônimo de deslizamentos, inundações e mortes, alerta o especialista em geotecnia Maurício Erlich, professor da Coppe/UFRJ.

“Não é que não possa haver construções em encostas. O problema é que, geralmente, quem ocupa essas áreas são pessoas pobres, que não têm apoio técnico. É possível construir com segurança, mas seria preciso ter mais engenharia ali. Mas, durante muitos anos, o estado fazia de conta que não estava vendo”, afirma Erlich.

Como adverte o professor, o trabalho das defesas civis estaduais e municipais, em um território que foi ocupado de forma desordenada e sem as soluções seguras de engenharia torna-se apenas um paliativo. A geografia nas cidades, ao longo das décadas de omissão do poder público, tornou-se, assim, uma inimiga dos moradores de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, com grandes cidades em áreas costeiras.

As regiões espremidas entre o mar e a serra são o cenário favorável para a formação de fortes chuvas nos dias mais quentes do ano. “A freqüência e a intensidade desses episódios tende a se agravar com as mudanças climáticas em curso”, prevê Erlich.

Favelas – O Rio de Janeiro, em abril de 2010, teve uma das maiores tragédias causadas por chuvas de que se tem notícia. Em menos de 10 dias, 250 pessoas morreram e mais de 4 mil ficaram desabrigadas. A investigação da tragédia não demorou a concluir que praticamente 100% das mortes ocorreram não por causa de deslizamentos de terra em áreas com construções irregulares.

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A conclusão óbvia é de que quem morreu simplesmente não deveria estar naqueles locais – ou, no mínimo, não deveriam ter construído daquela forma, o que não isenta o estado de responsabilidade. No pior foco da tragédia, no Morro do Bumba, em Niterói, 87 pessoas da mesma favela morreram engolidas pela língua de lixo e detritos que se abriu com a enxurrada. As ruas e casas, ao longo do tempo, foram alvo de ações populistas, como a construção de praças e o asfaltamento, sobre um terreno em que construir é o mesmo que atrair a catástrofe. (Leia reportagem sobre a situação atual do Morro do Bumba)

Ações de emergência – As medidas de contenção dos danos não são a solução definitiva, mas são necessárias. A prefeitura do Rio desenvolveu um sistema de alerta comunitário, que se tornou a forma mais rápida e eficaz de avisar rapidamente aos moradores sobre riscos de deslizamento em dias de chuva. Dois mil agentes do programa Saúde da Família, também da prefeitura, formam 300 equipes em 79 favelas. Cada um possui um celular no qual recebem o alerta de perigo por SMS. Como moram dentro ou próximo das áreas de risco, cabe a eles darem o primeiro aviso aos vizinhos.

“A nossa vertente principal é ir para dentro das favelas, esclarecer os moradores e criar esses núcleos dentro delas. Trabalhamos com as lideranças comunitárias e religiosas. Assim, formamos uma grande rede, em que possamos ter um canal de comunicação aberto para transmitir orientações e receber um retorno também sobre o tipo de apoio que eles precisam”, explica o coronel Sérgio Simões, subsecretario municipal de Defesa Civil do Rio.

Até pouco tempo, as previsões de chuva na capital eram feitas por um radar da Aeronáutica, instalado em Petrópolis, na região serrana do estado. A distância e a altitude elevada do equipamento comprometiam sua eficácia. Há cerca de uma semana, entrou em operação o novo radar da prefeitura do Rio, que permite antever tempestades com até seis horas de antecedência. Dentro de seis meses, esse tempo deve passar para 48 horas, com a implantação de um pioneiro sistema de Previsão de Meteorologia de Alta Resolução (PMAR), que está sendo desenvolvido para a IBM.

Atualmente, 39 estações pluviométricas medem a intensidade das chuvas em diferentes pontos da cidade. Com base nessas informações, a Defesa Civil e demais órgãos municipais podem deslocar com mais agilidade os equipamentos de socorro. No Centro de Controle da prefeitura, com inauguração marcada para a próxima sexta-feira, um telão exibirá essas e outras informações serão agregadas num único telão, permitindo uma ação mais rápida do poder público. O local reunirá 70 operadores de cerca de 30 órgão e concessionárias públicas no mesmo ambiente, estimulando uma maior integração, principalmente, em casos de crise.

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