Santa Teresa: comissão da Câmara também alertou para os riscos do bonde
Relatório entregue à secretaria de Transportes em fevereiro, e publicado no Diário Oficial do Legislativo, aponta precariedade na manutenção dos bondinhos, falta de peças e deficiência da rede elétrica, entre outros problemas
Em fevereiro de 2011, comissão especial da Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro concluiu um relatório sobre o trânsito em Santa Teresa, no qual a precária situação dos bondes é apontada como problema central. O relatório foi entregue à secretaria estadual de Transportes e publicado no Diário Oficial do Legislativo em 7 de fevereiro. Entre as falhas que contribuem para o alto risco de acidentes estão a redução do número de bondes em circulação – e a consequente superlotação – , o abandono da oficina onde é feita a manutenção, a falta de peças de reposição e a falta de investimento na rede elétrica. O presidente da comissão, Paulo Messina, do PV, defende a municipalização do sistema de bondes e diz que vai pedir o indiciamento do secretário estadual de Transportes, Júlio Lopes, por homicídio doloso.
O Banco Mundial repassou ao governo do estado, na gestão de Rosinha Garotinho, montante que foi destinado a novos bondes, com tecnologia mais moderna, e revitalização da via férrea. No entanto, a nova tecnologia não se mostrou adequada à topografia do bairro, e a rede elétrica não foi reformada, e não suporta a carga exigida pela tecnologia dos novos bondes – o que obrigou à redução do número de veículos de 16 para apenas quatro. Com poucos bondes em circulação, a superlotação é frequente, o que aumenta o risco de acidentes. Os mesmos alertas vêm sendo feitos pelo Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura.
A comissão da Câmara foi criada a partir do acidente que matou uma professora, em 2009. Andrea de Jesus Resende, de 29 anos, estava num ônibus que foi atingido por um bonde que desceu a ladeira descontrolado, depois de ser abalroado por um táxi. Os vereadores partem da constatação de que Santa Teresa tem características únicas no Rio de Janeiro – a começar pelo fato de ter uma via férrea que cruza toda a extensão do bairro, passando por ruas estreitas e ladeiras íngremes, compartilhadas com carros, ônibus e até caminhões. E lembra que o bondinho é um cartão postal da cidade, como deixam claras as peças produzidas para a candidatura do Rio aos Jogos Olímpicos de 2016.
Polícia – O delegado da 7ª DP, Tarcísio Jansen, instaurou nesta segunda-feira inquérito de homicídio culposo e lesão corporal culposa para apurar as responsabilidades do acidente do último sábado. O laudo da perícia será confrontado com os depoimentos de passageiros e dos mecânicos da companhia responsável pelos bondes. Representantes do CREA foram à delegacia pegar cópia do registro de ocorrência.
Vítima – Nesta segunda-feira, pela manhã, o arquiteto paraense Raul Ventura, de 26 anos, foi à delegacia recolher os pertences de sua mulher, a psicóloga Ingrid Ventura, de 28 anos. Ela estava no Rio de Janeiro para um congresso de psicologia, e aproveitou o sábado para conhecer o bondinho em companhia da amiga Lorena Bezerra. No acidente, fraturou o fêmur e o úmero, e ainda está internada no Hospital Souza Aguiar. Raul foi avisado por uma das colegas de Ingrid, e pegou o primeiro voo para o Rio. Agora, está preocupado com a volta. Ingrid terá um longo período de recuperação, e precisa voltar para Belém. Mas o plano de saúde do casal não prevê cobertura para remoção.