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Réus mataram 300 em ocorrências policiais, diz promotoria

Acusação levantou envolvimento de PMs da Rota em casos de resistência seguida de morte; após encerramento, jurados se reuniram em sala secreta

Por Jean-Philip Struck
2 ago 2013, 22h00

Nos momentos finais da segunda fase do julgamento do massacre do Carandiru, o Ministério Público expôs as fichas de todos os 25 réus e afirmou que eles estão ligados a pelo menos 300 mortes enquanto estiveram em serviço pela Polícia Militar (PM). De acordo com o promotor Eduardo Olavo Canto, os casos ocorreram em situações de resistência seguida de morte (não ligados ao massacre do Carandiru) desde o início da carreira de cada policial até o ano 2000. O recordista de casos é o tenente-coronel Carlos Alberto dos Santos, com 33 mortes.

Entre os outros réus, aparecem Valter Alves Mendonça, com 24 mortes, e o tenente-coronel Salvador Modesto Madia, com seis mortes. Apenas um dos réus não tem registro em sua ficha de algum caso desse tipo. De acordo com a promotoria, nenhum dos réus presentes foi responsabilizado por algo suspeito nesses casos. Todos os processos foram arquivados pela Justiça Militar.

O promotor usou os dados em sua réplica para invalidar uma das afirmações da defesa – segundo a quem a PM é rigorosa com desvios de condutas. Em dado momento, quando citava detalhes de alguns desses casos, era visível o desconforto de alguns dos réus, que pareciam desconcertados. Ao citar o caso de um funcionário de um cartório sem ficha criminal morto em uma ação das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) nos anos 80 e cujo laudo dava a entender que se tratava de execução, o promotor apontou para um dos policiais presentes no julgamento e disse que ele estava envolvido com o caso.

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Ele também citou casos que envolviam tortura, um deles ilustrado por uma reportagem, e apontou que os PMs envolvidos estavam no banco dos réus. “Essa é a polícia que queremos?”, perguntou o promotor aos jurados. Citando a necessidade de “mudança de rumo” e “mudança de mentalidade”, com algumas menções aos protestos que tomaram conta do país em junho, a acusação pediu aos jurados que ajudasse a polícia a punir os maus policiais. “Condenem isso. Vamos mudar essa cultura da impunidade”, disse.

“Escutem a voz que vem das ruas. A corrupção domina tudo e a polícia oprime e mata desnecessariamente”, disse o promotor. “Esse julgamento é um marco civilizatório”, finalizou.

A acusação também reforçou alguns dos pontos já mencionados à tarde, entre eles que a cena do massacre foi adulterada, que os laudos não apontam tiros na direção dos policiais (o que invalida a tese da defesa de que os policiais se defenderam) e que a apreensão de treze armas entre os presos era bastante suspeita e caracteriza provas plantadas.

A promotoria também atacou a estratégia da defesa de citar casos notórios de bandidos, alguns deles envolvendo o Primeiro Comando da Capital (PCC) como exemplos do perigo que os policiais enfrentam. Segundo o promotor Olavo, os casos citados ocorreram depois do massacre e a matança no Carandiru foi uma das causas da criação do PCC – o que é citado no estatuto da facção criminosa. Ao final, foi apresentado um trecho do filme Carandiru (2003) para os jurados.

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Tréplica – Após a réplica da acusação, coube a defesa fechar o julgamento. A advogada Ieda Ribeiro de Souza voltou a insistir que havia armas em poder dos presos do Pavilhão Nove. Ela também mostrou cartas do então presidente do Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional do Estado de São Paulo (Sifuspesp) escritas em 1992 e que relatavam problemas de violência e indisciplina no Carandiru.

A última hora da defesa foi quase todas consumida com a exibição de reportagens e trechos de filmes que mostraram a ação de bandidos em São Paulo e a morte de policiais em serviço.

Por volta de 23h, os sete jurados deixaram o plenário e se reuniram na sala do júri. O corpo de jurados deve responder a um total de 7.300 perguntas referentes ao caso antes de chegar ao veredicto. A previsão do Tribunal de Justiça é que o resultado do julgamento seja divulgado nas próximas horas.

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