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Quando o beijo é protesto

Por que são importantes os sinais públicos de afeto LGBT

Por Fernando Grostein Andrade
Atualizado em 16 jun 2017, 17h41 - Publicado em 16 jun 2017, 17h41

Como cineasta, fico triste quando alguns amigos atores gays me relatam que são coagidos por alguns figurões da dramaturgia brasileira a ficar no armário. A justificativa é tacanha: a dona de casa não vai conseguir sonhar com você como galã assim. Como diriam os gringos: bullshit! O que condena nossa TV a ficar atrás da revolução que acontece além do nosso território, em que a qualidade cinematográfica de algumas produções televisivas superou a do cinema, é essa mentalidade de que o público é limitado e precisa de reiterações do bem pensante para acompanhar uma trama muitas vezes pobre em ambiguidades e subtexto, ou uma versão “prozacqueada” da realidade. Por isso, não saberia separar a vida privada de um ator da vida pública. Não subestimem a inteligência das pessoas.

É nesse contexto que beijo é protesto. Em outras palavras, a demonstração pública de afeto LGBT é uma forma de combater o preconceito e construir no imaginário coletivo uma nova normalidade, mais justa. Palmas à torcida do Palmeiras que recentemente repudiou os já famosos gritos de “bicha” no estádio. Palmas aos dois jogadores do futebol italiano que deram a entender ter assumido seu amor. Palmas à bravura do aluno do ITA que foi de vestido à formatura. Pena dos âncoras gays de telejornais que têm de balançar a plumagem de pavão para fazer pose e não “perder a credibilidade”.

Eu não tenho (mais) vergonha de dizer que gosto de homem. Acho bonito, me atrai, me faz feliz. Mas ser homem e ser macho não são sinônimos. A “macheza” cultural é muitas vezes tóxica. Mata, oprime, subjuga os que não se encaixam nesse enredo de novela pobre e malfeita, em que só os machos, fortes e brancos podem ser os protagonistas. Ou que relega as meninas namoradeiras à condição de “galinhas que não são para casar” e eleva os moleques pegadores ao altar dos “garanhões”. Desculpem, mas esse mundo de vocês está velho e podre. Com beijos, amor e afeto, aviso: saiam da frente que queremos passar.

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Gilmar Mendes, se não fosse o fato de a parada LGBT ser neste fim de semana, esta coluna sobre injustiça seria só sua. Eu perguntaria como vou explicar você ao meu futuro filho. Fico pensando se o que o move é a ideia equivocada de que nossa democracia é jovem demais e precisa de “ajustes” para nos salvar do caos. Mas a verdade é que você me mete muito medo e avinagrou de vez meu parco senso de justiça no Brasil. Então, vou tentar me calar — por medo de não conseguir pagar o processo que você provavelmente moveria contra mim e por não ter absolutamente nenhuma crença na Justiça brasileira. Muitos se preocupam com as facções criminosas do tráfico de drogas, mas desconfio que aqueles que você protege (talvez com boas e equivocadas intenções ou por lealdade a seus amigos) são gente muito mais danosa. Porque tomou de assalto bilhões de dinheiro público e porque rouba recursos da educação de qualidade, que poderia fazer deste país desigual um país mais justo. Fica aqui meu protesto. Um beijo.

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