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Prefeito admite que sabia de construções em área de lixão

Por João Marcello Erthal
9 abr 2010, 07h55

A chuva não escolhe vítimas. No estado do Rio, caiu igualmente sobre ricos e pobres. Mas morreram os que estavam onde ninguém devia estar: as encostas que, se não tivessem casas, teriam rolado apenas com pedra, terra e mato. A torrente de cobranças e inquirições contundentes sobre as autoridades também não faz distinção entre antigos e velhos governantes. Mas para Jorge Roberto Silveira, prefeito que pela terceira vez administra Niterói, filho de governador e figura política de maior expressão na cidade, a saraivada de questões a responder será mais dolorosa.

É mesmo um caso de amor

Desses que ninguém destrói.

Jorge Roberto Silveira

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E o povo de Niterói

O jingle de campanha do PDT, de tão marcante, na última campanha foi repetido em carros de som em versão instrumental. Isso mesmo, sem a letra. É que o povo de Niterói já conhecia – e gostava – da melodia. Um belo e eficiente jingle, diga-se, a começar pela proeza de encontrar uma rima para “Niterói”. A ironia do momento é a palavra encontrada para casar com o nome da cidade.

A tragédia que agora ameaça destruir o caso de amor do prefeito com a cidade foi produzida, quase imperceptível aos olhos da população da área urbanizada, ao longo de três décadas de gestões que podem ser chamadas, no mínimo, de omissas. Do lixão desativado no início dos anos 80, restou um vazio, onde a falta de política habitacional, o empobrecimento que assolou quase todo o país numa época de inflação galopante e a necessidade de quem “casa e quer casa” encontraram espaço para construir e criar moradias precárias. Era o Viçoso Jardim subindo pelas encostas junto à montanha de detritos.

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Silveira tenteou empurrar o problema para trás. E na quinta-feira, pressionado pelos microfones da TV, chegou a dizer que a favela se criou há mais de 50 anos. É mentira. À noite, novamente diante de um microfone, não teve como escapar. “A gente sabia que aquele lixão estava desativado há 30 anos. Quando assumi a prefeitura pela primeira vez, já havia um início de ocupação naquela região. Uma região muito pobre. As informações que eu tinha eram de que aquele aterro era muito antigo e não havia nenhum risco”, afirmou ao Jornal da Globo. A frase ficaria mais precisa se não houvesse o termo “informação”. “Ninguém em sã consciência constrói sobre aterro sanitário. O PDT devia ter o nome mudado para PDF, Partido da Favela”, acusa o especialista em engenharia costeira Paulo Cesar Rosman, que culpa o grupo político do alcaide niteroiense por parte das mazelas dependuradas nos morros do Rio. “O que o Brizola fez no Rio, Jorge Roberto fez em Niterói”, comparou o professor da Coppe/UFRJ, em entrevista a VEJA.com.

Se desconhecia o risco de construções na encosta, onde antes havia um lixão, Jorge Roberto, prefeito da cidade que mesmo antes do desabamento no Morro do Bumba já estava no topo do ranking de mortos pelas chuvas desta semana, poderia ter entendido o óbvio. Como alertaram geólogos e pesquisadores – um deles o especialista em terrenos instáveis Maurício Ehrlich, da Coppe – os dias que se seguem a uma chuva forte trazem risco para terrenos menos íngremes, mais espessos, que demoram a encharcar e tornam-se frágeis progressivamente. Era o caso do Morro do Bumba, de onde a população deveria ter sido removida. “Quem fala isso não conhece o Brasil real. Você remover uma população pobre, seja a área que for. Não tinha conhecimento desse risco todo”, desculpou-se o prefeito, também à TV, par depois admitir. “Agora nós vamos ter que tirar. Vamos tentar convencê-los de que têm que sair”.

Um dos problemas passa exatamente pelo grau de conhecimento que os governantes têm dos riscos nas encostas. No município vizinho a Niterói, São Gonçalo, as áreas de risco nos morros e pedreiras foram mapeadas por professores e alunos do departamento de Geologia e Geografia de Uerj. Coordenado pelo professor Luiz Carlos Bertolino, o trabalho identificou possibilidade de desmoronamento exatamente nos morros onde, desde o início da semana, morreram 16 pessoas. Até hoje, no entanto, ninguém da prefeitura local quis conhecer onde pode morrer mais gente nas próximas chuvas.

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