Na noite da última segunda-feira, cerca de 30 homens da Polícia Civil do Rio de Janeiro fizeram um cerco a uma casa em Campo Grande, Zona Oeste da cidade. O objetivo era capturar um bando acusado de homicídio e extorsão. Seria uma cena relativamente banal, em se tratando de uma cidade em guerra. Mas a casa em questão não era de um traficante de drogas ou de um assaltante, e sim de um deputado estadual: Natalino Guimarães (DEM), principal alvo da operação.
Apontado como líder de um grupo de policiais e ex-policiais que barbarizam a região, Natalino, segundo as investigações, reunia seus comparsas ali para planejar as ações do bando, que age como milícia, uma polícia paralela. Ao cerco seguiu-se um tiroteio de quase cinco minutos. Natalino foi preso quando fugia. Quatro comparsas também foram detidos – dois PMs, um assessor parlamentar e um segurança – e sete escaparam. Na casa do deputado, a polícia apreendeu um arsenal que mostra o poder de fogo do grupo: um fuzil, duas escopetas, uma metralhadora e quatro pistolas.
Ex-policial civil, Natalino foi eleito com quase 50 000 votos. Sua prisão acabou por escancarar o nível de banditismo a que chegou a representação parlamentar no estado, uma tradição que se reafirma a cada eleição para a Assembléia Legislativa do Rio (Alerj), cada vez com um grau de periculosidade maior. A degradação do legislativo fluminense é tema de um reportagem da presente edição de VEJA.
Assembléia de criminosos – O legislativo fluminense faz triste figura no levantamento da ONG Transparência Brasil. Dos 70 deputados estaduais, 29 respondem a processos criminais ou receberam punições dos tribunais de contas. A maioria cometeu irregularidades que se tornaram praxe entre políticos de qualquer lugar do país, como improbidade administrativa e crimes eleitorais.
Mas também há na Alerj deputados acusados de envolvimento em homicídio, como Geraldo Moreira (PMN) e Marcus Abrahão (PSL). E outros suspeitos de ligação com milícia, como Jorge Babu (PT), investigado pelo Ministério Público. Sem falar no deputado Álvaro Lins (PMDB), preso no mês passado acusado de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha armada, entre outros crimes. Além de nomes que volta e meia freqüentam o noticiário policial, como José Nader (PTB), preso em 2005 por porte ilegal de armas.
Veja a que ponto chegou a ligação entre o poder público do estado do Rio de Janeiro e o mundo do crime na íntegra da reportagem (exclusiva para assinantes).