Se o maranhense José Sarney deixar a presidência do Senado nos próximos dias, o PMDB vai viver uma reprise. Será a terceira vez em oito anos que o partido é visto se afastando da cadeira azul projetada por Oscar Niemeyer, que parece elétrica para políticos acusados de corrupção, como aponta matéria de VEJA de 8 de julho de 2009.
Reportagem da revista de 14 de março de 2001 mostrava o início do suplício de Jader Barbalho, que duraria sete meses, como o de Renan Calheiros. O texto noticiava que um dos processos contra o senador por desfalque de 10 milhões de reais ao Banco do Pará (Banpará) havia desaparecido. E outro estava na gaveta do Banco Central fazia nove anos. A oposição pedia uma CPI para investigar o caso. Jader também era suspeito por conexões com fraudadores da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e acusado de liderar um esquema de corrupção no governo federal.
Com o fim de estancar sua sangria, o senador paraense pediu licença da presidência do Senado. Não adiantou. Mais tarde, buscando evitar uma possível cassação e a perda dos direitos políticos por dez anos, acabou renunciando ao cargo e também ao mandato. Com a decisão de se afastar da cadeira azul, Jader se tornou o primeiro presidente do Senado a renunciar à função nos então 175 anos de história da instituição.
Eleito para seu segundo mandato à frente do Senado em fevereiro de 2007, o alagoano Renan renunciaria em dezembro. Seus problemas começaram quando estourou a denúncia de que ele utilizou um lobista para pagar pensão a uma filha fora do casamento – com a jornalista Mônica Veloso. A denúncia foi capa de VEJA (imagem ao lado), uma das quatro que o senador iria estampar.
O Conselho de Ética do Senado tentou salvar Renan, como mostrou matéria publicada em 20 de junho de 2007. Mas a ajuda não seria de grande valia: Renan já estava bastante encrencado. Capa da revista na semana seguinte relatava as razões pelas quais o senador deveria deixar a cadeira azul, como chantagens contra colegas e aquisição ilícita de dinheiro público.
Apesar de sua agonia pública, Renan teimava em permanecer à frente do Senado, como faz agora Sarney. Seus planos, porém, eram prejudicados por novas denúncias, como a de que ele havia usado laranjas e pagado 1,3 milhão de reais em dinheiro vivo para se tornar sócio oculto de uma empresa de comunicação em Alagoas. A denúncia foi capa de VEJA em 8 de agosto daquele ano e endossada na semana seguinte por reportagem com um usineiro envolvido no escândalo.
No final de agosto, o Conselho de Ética do Senado deu indício de que pediria a cassação do senador. Novas acusações contra Renan se somam, valendo ao alagoano uma capa de VEJA com a palavra “Vergonha”, mas o senador resiste a deixar a presidência do Senado, ameaçando petistas. Depois, na tentativa de intimidar rivais e salvar seu mandato, manda espionar adversários do PSDB e do DEM. As notícias repercutem mal para Renan, que acaba pedindo licença da cadeira azul, assim como fez Jader. Mais tarde, o senador renuncia ao cargo, mas tem o mandato salvo pelos companheiros de Senado.