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O campeão brasileiro de candidaturas impossíveis

Com 89.350 votos, José Maria Eymael venceu os outros quatro candidatos sem-debate: Rui Costa Pimenta, Ivan Pinheiro, Levy Fidelix e Zé Maria

Por Branca Nunes
24 out 2010, 09h47

Há 10 anos fora das paradas eleitorais oficiais, o jingle Ey Ey Eymael foi lançado este ano nas versões axé, milonga e sertanejo

A maior notícia que o Partido Social Democrata Cristão poderia divulgar na campanha presidencial não conseguiu nenhuma linha nos jornais da metrópole onde fica sua sede. Nesta quarta-feira, depois de uma reunião entre os principais dirigentes do PSDC, José Maria Eymael, candidato a presidente, fundador e presidente do partido, divulgou uma nota em que anunciou o apoio a Dilma Rousseff. A repercussão foi nenhuma.

Eymael conquistou 89.350 votos no primeiro turno. Foram 47.562.084 votos a menos que Dilma e 1.264.470 a menos que Tiririca, o deputado federal mais votado do país. Mas garantiram ao candidato a quinta colocação entre os presidenciáveis, deixando para trás Rui Costa Pimenta (PCO), com 12.206 votos, Ivan Pinheiro (PCB), 39.136, Levy Fidelix, (PRTB), 57.960, e Zé Maria, (PSTU), 84.609.

O resultado nas urnas foi “excepcional”, resumiu Eymael, acomodado numa das 10 cadeiras dispostas em torno da mesa de madeira na sala de reuniões do diretório central do PSDC, em São Paulo. Localizada a uma quadra do Parque Villa-Lobos, a sede fica em um sobrado de tijolinhos à vista, protegida por um portão de grades brancas fechado com cadeado. Nenhuma placa indica que ali é o QG central dos 150 mil democratas cristãos espalhados pelo Brasil. O jardim de vegetação luxuriante e a sala de reunião são os lugares menos assépticos da casa sem tapetes, com poucos quadros e quase nenhum vaso, (mal) colorida pela fórmica cinza claro dos chamados móveis de escritório.

Na quarta-feira, uma dúzia de funcionários se movimentava pelos dois andares do edifício – menos da metade do que havia por ali durante o primeiro turno. De terno azul escuro e broche do PSDC no lado esquerdo do peio, Eymael sentou-se perto dos três mastros com as bandeiras do Brasil, do partido e de São Paulo. Antes de comentar o resultado das eleições, discorreu sobre a importância da democracia cristã no mundo – que prega uma mistura de capitalismo “com preocupação social” e socialismo “com liberdade”.

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Depois, lamentou a falta de espaço na grande imprensa, compensada de alguma forma pelo uso da internet na divulgação da campanha. Pela TV Eymael, instalada no site do partido, conseguiu, por exemplo, responder a todas as perguntas do debate da Globo. “Ficou provado que eu estava muito mais preparado que os quatro outros candidatos”.

Frequentador assíduo das redes sociais, como o Facebook e o Twitter, foi por meio deles que Eymael descobriu seu único eleitor em Pedro Osório (RS) e seus sete eleitores – todos da mesma família – em Santo Antônio do Sudoeste (PR). Pouco afeito a números, evitou responder com precisão a quantidade de deputados estaduais eleitos pelo partido (oito, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral), os gastos totais da campanha – “mais ou menos 400 mil reais” – e o custo de manutenção do PSDC no Brasil: “Nós temos 1.500 diretórios”, começou. “Nenhum deles custa menos de 2 mil reais por mês”, prosseguiu. “Por aí, você já tira um valor”, encerrou.

Em contrapartida, quando quer tratar de algum tema, não espera pelo repórter. Engata um “se você me perguntasse o que eu acho sobre” (escolhe o assunto) “eu te responderia” (e decola). Assim, manifestou-se sobre aparelhamento do estado, fidelidade partidária, corrupção, Bolsa Família, o Ministério da Família – uma das principais propostas do partido – e a família de maneira geral. Primogênito de uma prole de sete filhos, a família é um dos temas pelos quais se interessa obsessivamente.

Dono de uma das mais antigas empresas de relações públicas do Brasil, a Grunase, Eymael fica especialmente emocionado quando recorda dois momentos. O primeiro é a Assembléia Nacional Constituinte de 1988 – e seu presidente, Ulisses Guimarães. “Valeu a pena viver para participar daquele momento”, caprichou no sotaque gaúcho que resistiu à mudança de endereço ocorrida há mais de quatro décadas.

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O rosto redondo de segundo colocado em concursos de bebê Johnson volta a abrir-se num sorriso quando o assunto é sua marca registrada: o jingle com o famoso refrão Ey Ey Eymael, um democrata cristão. Depois de 10 anos fora das paradas eleitorais oficiais – “Para não ofuscar as ideias do partido”, explica – voltou este ano nas versões axé, milonga tocado, milonga cantado e sertanejo. O tradicional, evidentemente, continuou.

Ao contrário do que se imagina, a música não foi criada para a campanha presidencial de 1989 – da qual Eymael nem participou. Nasceu em 1985, na disputa pela prefeitura de São Paulo. “Todos diziam que eu poderia lançar minha candidatura como José Maria, José, Zé Maria, o que fosse, menos como Eymael”, diz, estampando no rosto o sorriso meio de lado do amigo do mocinho de faroeste americano. Diante do desafio de tornar o nome do candidato mais palatável para o eleitorado, José Raimundo de Castro, alfaiate, compositor e democrata cristão (até hoje), pediu três dias para solucionar o impasse. Solucionou.

Dos 22.569 candidatos que disputaram uma vaga na eleição deste ano, 20.925 não passaram do primeiro turno. Desses, sete concorreram ao governo federal. Com a ausência de Lula (pelo menos como candidato oficial), Eymael passou a dividir com Zé Maria o título mais vistoso de uma teimosa carreira política: campeão brasileiro de tentativas de virar presidente da República.

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