Cerca de 40 moradores do Morro do Céu fizeram, na tarde desta sexta-feira, uma manifestação nas proximidades da área onde houve o deslizamento do Morro do Bumba, em Niterói. O objetivo do protesto era chamar a atenção para o que, acreditam os manifestantes, seja o prenúncio de uma nova tragédia.
Se no Bumba a ocupação irregular produziu uma catástrofe, no Morro do Céu a convivência de irregularidades é ainda mais grave: uma favela nasceu e se expande na mesma área onde são lançados atualmente os detritos de Niterói.
“Tem casas com rachaduras enormes e chorume (o líquido resultante da decomposição do lixo orgânico) passando pela porta da gente”, descreveu Graziela Ferreira, 23 anos, nascida e criada nas encostas do Morro do Céu.
A convivência da favela com o depósito de lixo � que, apesar das melhorias, não está nem perto do que é um aterro sanitário legalizado, com todas as exigências ambientais atendidas � é ainda mais antiga. A jovem conta que seus pais estão lá há 32 anos. Chegaram praticamente junto com o lixo que, desde 1983, passou a ser jogado no Aterro do Caramujo, quando Niterói precisou fechar o lixão do Bumba.
O desabamento que destruiu uma casa no Morro do Céu, no mesmo dia do acidente no Bumba, indica algo não muito difícil de antever: a transferência do problema da destinação do lixo de Niterói pode se revelar, se a população não for removida, a repetição da tragédia.
Três décadas de crescimento de uma favela em encosta, junto a um lixão, é tempo bastante para se formar uma geração inteira, da qual Graziela faz parte. Mas não o suficiente para que as autoridades municipais se convençam de que ter gente morando ali é inaceitável.
A retirada dos moradores vem sendo cobrada pelo Ministério Público estadual, que já firmou com o município termos de ajuste de conduta para organizar um cronograma de retirada das famílias. Por enquanto, ninguém foi removido. A catástrofe do Viçoso Jardim soou, aos moradores do Morro do Céu, como oportunidade para cobrar uma ação do poder público.
“Nós também somos um lixão e queremos prevenção já”, lia-se em um dos cartazes levados pelos manifestantes.