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‘Me sentia humilhada’, diz ex-mulher de assessor de Paes

Viviane Fellows diz que foi agredida várias vezes pelo subchefe de gabinete Bernardo Fellows. Agressões viraram motivo de piada entre assessores do prefeito

Por Leslie Leitão, Thiago Prado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 10 dez 2018, 10h17 - Publicado em 29 jul 2016, 22h02

https://www.youtube.com/watch?v=_DGd6glwhhA

Viviane Fellows fala manso, misturando medo e um certo alívio por poder, enfim, desabafar. Durante muito tempo a dentista, de 31 anos, viveu uma rotina de agressões que, entre os assessores do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), acabou virando motivo de piada. Seu algoz atende pelo nome de Bernardo Fellows, subchefe de gabinete de Paes. Certa noite, num jantar durante uma viagem a Cancun, no México, Ronnie Aguiar, subsecretário de governo de Paes, chegou a ironizar: “O filho de vocês vai dizer um dia: ‘Papai bate na mamãe’”.

Ela relembra o episódio confessando-se humilhada. Seu temor estava na rede de pessoas influentes que o ex-marido gabava-se de ter para continuar impune. “Você acha que eu vou ser preso? No máximo uma cesta básica eu vou pagar”. Viviane já conhecia o caso revelado por VEJA, em outubro do ano passado, envolvendo o então secretário de governo de Paes e candidato à sucessão, Pedro Paulo Carvalho, acusado de agredir, em 2010, a ex-mulher Alexandra Marcondes.

A jovem decidiu falar para dar um basta no comportamento de Bernardo. Não raras foram as vezes em que ele apareceu nos lugares em que ela estava, jantando ou se divertindo com amigas. “Claro que eu tenho medo. Ele sempre disse que se algo acontecesse, se eu o prejudicasse no trabalho, ele iria acabar comigo”, revela Viviane. Na semana passada, Bernardo foi denunciado pelo Ministério Público por vias de fato e ameaça. Mas nem por isso a ex-mulher se sente segura, como conta nesta entrevista ao site de VEJA:

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Em novembro, quando VEJA denunciou o caso das agressões que sofria, a senhora preferiu não falar. Era medo?

Sempre tive medo dele. Quando resolvi denunciá-lo, em abril de 2014, já tinha apanhado várias vezes. Então pedi uma medida protetiva que foi negada. Então, depois disso, acabei voltando para ele. Eu era muito dependente emocionalmente, nunca tive uma figura masculina dentro de casa. Quando o conheci passei a vê-lo como esse homem. Queria, realmente, que meu casamento tivesse dado certo. Queria ter filhos com ele. Mas ele não mudou.

Mas vocês estavam casados em novembro?

Estávamos. Eu coloquei um ponto final depois que descobri, pela reportagem de vocês, que ele tinha ameaçado a amante (Patrícia Proença, assessora de um vereador).  E ele não aceitou de jeito nenhum.

Quando começaram as agressões?

A primeira foi em casa. Ele deu um soco no meu rosto que me deixou com o olho preto por três dias e me trancou dentro do apartamento para a minha família não ver. Depois foi numa viagem para esquiar na França. Começamos a discutir e ele me deu vários tapas no rosto e um soco no nariz que encheu uma tolha de sangue. Foi logo no início da viagem. Ficamos uma semana lá e eu acabei perdoando.

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Quais eram os motivos das agressões?

Todos banais. Ele não queria que eu tivesse amizade com qualquer homem em rede social. Regulava minhas roupas, até a cor do esmalte que eu usava. Dizia que vermelho era muito vulgar. Nem pra academia eu podia ir direito e minha personal trainer tinha que ser mulher. Mas não adiantava, e ele continuava me batendo. Nem sei dizer exatamente quantas vezes foram.

Mas seus amigos sabiam?

Contei para uma amiga. Cheguei a contar para a mãe dele, que me pediu desculpas. Mas as pessoas sabiam. Uma vez, numa viagem para Cancun e Miami, fomos quatro casais. Nós e outros três amigos dele da prefeitura. Ele me deu um soco no olho de novo e passei a viagem toda andando de óculos escuros. As pessoas sabiam, claro. Tanto que num jantar o Ronnie Aguiar (subsecretário de Governo e assessor político de Paes) jogou uma piadinha: “O filho de vocês vai dizer um dia ‘papai bate na mamãe”. Foi um constrangimento, eu me levantei da mesa, e depois a mulher dele veio me pedir desculpa. Então, eu tinha vergonha e medo.

Quais as ameaças que ele fazia?

Ele dizia que era poderoso, que conhecia muita gente influente e que nada iria acontecer. Uma vez ele perguntou: “Você acha que eu vou ser preso? No máximo uma cesta básica eu vou pagar. E se alguma coisa me prejudicar no meu trabalho eu acabo com você”. Quantas vezes eu tive de me trancar no quarto pra dormir, ou sair de casa correndo, pegar meu carro e ir embora. Me sentia humilhada e envergonhada. Até que em 2014, quando eu estava jantando num restaurante da zona sul com um amigo, ele chegou e me agrediu. Aí eu resolvi tentar dar um basta.

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Não adiantou?

O caso ficou parado muito tempo. Tentei voltar, mas depois desisti. Então, as ameaças voltaram. Até pessoas do trabalho dele começaram a mandar recado, dizendo que eu não podia falar nada com ninguém. Ele não aceita a separação. Diz que vai ferrar minha vida. Que vai fechar minha clínica. Toda hora bate alguma fiscalização lá. Vigilância, fiscal. Querem ficar vendo até se o extintor está vencido. Me sinto acuada.

Mas ele chegou a agredi-la recentemente?

Não porque fujo dele. Outro dia estava numa boate, ele chegou, eu fui embora. Também estava no Monte Líbano numa festa e ele chegou alterado. Veio tentar falar comigo e eu pedi ajuda aos seguranças, dizendo que era meu ex-marido e que eu tinha medo. Ele partiu pra cima dos seguranças. Pegou uma carteira que ele tem, com um documento assinado pelo Eduardo Paes, e ficou lá gritando, ameaçando prender um segurança.

São vários os casos de assessores da prefeitura acusados de agredir as mulheres. A senhora tinha conhecimento das agressões do Pedro Paulo à Alexandra?

Convivi com a Alexandra na época da primeira eleição (2009). Havia histórias, mas nunca soube a fundo dessas coisas. E o Bernardo tentava não me deixar saber.

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