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Mãe faz apelo para conhecer quem recebeu os órgãos do filho

Seu filho de 1 ano e 11 meses morreu em um acidente, e órgãos foram doados. 'Queria saber se os transplantes deram certo, se as crianças estão bem', diz

Por Fernanda Bassette
Atualizado em 30 jun 2017, 12h44 - Publicado em 29 jun 2017, 18h55

Passava das 17h do último domingo do mês de março quando Natalie da Silva Almeida de Oliveira, de 21 anos, voltava de viagem de Minas Gerais para São Paulo, acompanhada do pai, da mãe e dos dois filhos – Davi, de apenas 1 mês, e Luís Gustavo, de 1 ano e 11 meses. Natalie havia ido até as cidades de São Lourenço e Pedralva (MG) para apresentar o bebê recém-nascido para familiares. No fim da tarde, seguia para São José dos Campos (SP) para comemorar ainda na noite de domingo o aniversário de 47 anos da mãe, Maria Helena, com pizza e bolo.

Natalie e sua família não conseguiram chegar em casa naquela noite. Um motorista com sinais de embriaguez e sem cinto de segurança, segundo dados do boletim de ocorrência, que também trafegava pela MG 347 (Rodovia Venceslau Braz) no sentido inverso, perdeu a direção do veículo, atravessou a pista e atingiu em cheio o carro onde estavam Natalie, os pais e os dois filhos. A pancada foi do lado do passageiro, onde estavam a mãe de Natalie no banco da frente e Luís Gustavo, no banco de trás, preso à cadeirinha infantil.

“Como a pista é simples, estávamos a 80 km/h e tínhamos acabado de fazer uma curva. De repente, do nada, apareceu esse motorista que jogou o carro em cima da gente. Não deu tempo de desviar, foi tudo muito rápido”, conta.

Matéria Bassette
Natalie, grávida do segundo filho, junto com a mãe, Maria Helena, e o filho Luís Gustavo (VEJA.com/Arquivo pessoal)

A mãe de Natalie ficou presa às ferragens, não resistiu ao acidente e morreu no local, no dia de seu aniversário. O recém-nascido, Davi, que viajava no bebê conforto, foi socorrido para avaliações neurológicas, pois com o impacto da batida ele bateu a cabeça. O pai de Natalie, assim como ela, teve apenas ferimentos leves. O caso de Luís Gustavo era crítico: com a pancada, o banco da frente o atingiu e ele quebrou a perna direita, alguns ossos da face e o maxilar. Além disso, sofreu traumatismo craniano. Foi socorrido em estado grave para o Hospital Escola de Itajubá. “Eu só chorava, desesperada. Não sabia a quem socorrer: meu bebê, meu filho, minha mãe”, conta.

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Natalie enterrou a mãe no dia seguinte ao acidente. Ao mesmo tempo, teve de encontrar forças para acompanhar os dois filhos que estavam internados – o bebê, que precisava ser amamentado, e Luís Gustavo, que estava em estado grave. “Nesse meio tempo o Gustavo teve duas paradas cardíacas, precisou fazer transfusões de sangue. Foram diminuindo a sedação dele, mas ele nunca chegou a acordar”, lembra.

 Luís Gustavo, que morreu após o acidente e teve o coração e os rins doados
Luís Gustavo, que morreu após o acidente e teve o coração e os rins doados (VEJA.com/Arquivo pessoal)

Seis dias depois do acidente, Natalie foi chamada pela equipe médica e recebeu a notícia de que Luís Gustavo não havia resistido aos ferimentos e estava em morte cerebral. Seria necessário fazer mais uma série de exames para confirmação do diagnóstico, o que ocorreu depois de mais três dias. Não havia mais o que ser feito: ou a mãe desligava os aparelhos ou optava pela doação dos órgãos do filho. “Nessa hora eu morri mais uma vez. Eu tinha acabado de perder a minha mãe e mantinha esperanças de que ele ia melhorar. Infelizmente, ele não resistiu”, conta.

Doação de órgãos

Natalie decidiu pela doação. “Eu sempre pensei em doar meus órgãos quando eu morresse, mas nunca tinha pensado em doar de um filho”, diz. A equipe da Central de Transplantes foi avisada e os dois rins e o coração de Luís Gustavo foram doados para três pacientes diferentes: o coração veio para São Paulo e os rins foram para o Rio Grande do Sul.

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No momento da doação, Natalie não se lembrou de pedir para conhecer os receptores. Mas agora, quase três meses depois do acidente, ela gostaria de encontrar as crianças que receberam os órgãos de Luís Gustavo. Para isso, lançou um apelo nas redes sociais contando a sua história na expectativa de que ela chegue às famílias beneficiadas. Um dos posts já recebeu mais de 10 mil compartilhamentos. Além das cidades para onde foram os órgãos, a única informação concreta que ela tem é que o coração foi transplantado no Instituto do Coração (Incor), em São Paulo, no dia 5 de abril.

“Eu queria saber se os transplantes deram certo, se as crianças estão bem. Não preciso nem manter contato, se a família não quiser, mas queria muito receber notícias. É só isso que eu peço.”

Segundo a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), não existe uma legislação que impeça doador e receptor de se conhecerem, mas essa aproximação não é recomendada nem incentivada pelos médicos por questões éticas e de privacidade de ambas as partes.

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