O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentou acalmar os ânimos dos participantes da reunião extraordinária da União das Nações Sul-americanas (Unasul) nesta sexta-feira. Enquanto alguns líderes articulam a assinatura de uma declaração conjunta de repúdio à presença de militares estrangeiros em bases da América do Sul, Lula afirmou que “respeita” o convênio militar que a Colômbia assinou com os Estados Unidos, mas quer “garantias jurídicas” de que o documento não afetará a região.
“Respeitamos o acordo, mas queremos nos resguardar”, afirmou o presidente, que insistiu na necessidade de que os países da região possam “ter a segurança” de contar com instrumentos jurídicos que garantam que o acordo “é específico para o território colombiano”.
A presença militar americana na Colômbia tem provocado declarações duras da Venezuela e preocupado até os governos mais moderados da América do Sul. Caso seja aprovado, o acordo permitirá aos EUA manter 1.400 pessoas, entre militares e civis, em bases na Colômbia, pelos próximos dez anos. Os dois países afirmam que o acordo não é novo, mas apenas uma extensão do acordo de combate ao narcotráfico e às Farc, chamado de Plano Colômbia.
“Não podemos permitir que uma presença militar estrangeira em nosso território. É um mandato nobre e sagrado que nos dão os nossos povos. Pensar que este acordo é melhorar uma guerra contra as drogas, eu duvido, uma presença militar serve apenas para controlar a política de outros países”, afirmou o presidente da Bolívia, Evo Morales. Outros que não concordam com a presença americana são Hugo Chávez e o equatoriano Rafael Correa.
Lula é a favor da convocação do Conselho de Defesa Sul-americano para fazer um “estudo real” sobre a situação das fronteiras dos 12 membros da Unasul. O presidente admitiu que a soberania nacional “é algo sagrado”, mas pediu que Uribe reflita sobre a eficácia da via militar para combater o narcotráfico em seu país. Para ele, se realmente existem bases estrangeiras estabelecidas no país desde então e isto não foi suficiente para solucionar o problema do narcotráfico, seria necessário repensar o recurso à estratégia militar.
O presidente ainda fez um pedido a Rafael Correa. “Podemos propor a Rafael uma pequena reunião para discutir a respeito da paz no continente. Nunca falamos sobre isso e, às vezes, escutamos que a tensão na região aumentou e isso me preocupa”, afirmou Lula. “Ninguém nunca deu nada de presente para mim quando eu era sindicalista e ninguém vai dar nada de presente à Unasul. A solução dos nossos problemas está dentro de nosso continente, não fora”, opinou.
Lula lamentou a ausência do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que não se encontrava na sala de reuniões no momento de seu discurso e lhe mandou um recado: “é uma pena que o companheiro Chávez não esteja presente porque creio que poderíamos discutir uma política de paz no continente entre Uribe (Álvaro Uribe, presidente da Colômbia), Correa e Chávez”. Segundo ele, estes países precisam se reunir “para definir claramente os parâmetros que permitam transmitir ao mundo uma imagem de que realmente queremos paz, democracia e desenvolvimento social e, por isso, o povo votou em nós”.