Luiza Coppieters, 38: um pedido para uma estrela cadente
Professora, que se comportava como um 'homem ogro' para disfarçar sua vontade de ser mulher, fez a transformação, mas a voz grossa ainda a incomoda
Luiza Coppieters tinha perto de 5 anos quando fez um pedido a uma estrela cadente: queria ser uma menina. O desejo tinha um fundamento: apesar de ter nascido num corpo de menino, não se identificava com ele. Sentia verdadeira admiração e respeito pelas mulheres e queria muito ser uma delas. Mas nessa época, ainda não entendia o motivo.
Para se enquadrar no universo masculino, Luiza se transformou no que chama de “homem ogro”. Com seu 1,80 metro de altura e pés número 43, usava barba grossa no rosto, falava grosso, praticava judô e remo. Realmente incorporava o papel que a sociedade lhe exigia. “Meus pais diziam que eu tinha que me comportar como homem e assim eu fazia”, diz.
As coisas começaram a complicar quando Luiza começou seus relacionamentos amorosos. Ela, que ainda estava num corpo masculino, sentia atração por mulheres. Mas não como um homem deveria sentir. Seu desejo era ser como as mulheres pelas quais se apaixonava. “Quando eu via uma das mulheres beijando algum homem, me sentia traída.”
Antes da transição, quando ainda se relacionava com mulheres heterossexuais, Luiza não se sentia completa e ainda não tinha ideia do que acontecia com ela. A pouca informação disponível na internet na década de 90 fez com que ela atrasasse sua transição e vivesse uma vida dupla, escondida. “Era uma frustração imensa. Eu estava num corpo que não me pertencia. Eu sentia muito incômodo.”
Em junho de 2011, Luiza chegou a limite da autorrepressão. Não aguentava mais ser quem não era. Decidiu buscar ajuda e iniciar a transição de gênero com aplicação de hormônios e algumas outras sutilezas, como fazer a sobrancelha e pintar as unhas das mãos. Também fez várias sessões de aplicação de laser para eliminar os pelos do rosto, peito, pescoço e axilas. Graças aos hormônios femininos, os seios começaram a crescer. A única coisa que não mudou foi a voz, por causa do início tardio da transição. “A minha voz é uma característica que não consigo mais alterar, e isso me dói muito. As pessoas se assustam quando eu começo a falar”, diz.
Era uma frustração imensa. Eu estava num corpo que não me pertencia. Eu sentia muito incômodo
Na época da transição, Luiza dava aulas de filosofia havia seis anos em cinco unidades de um colégio particular de São Paulo. Ao revelar para os alunos, recebeu apoio incondicional. Já a direção da escola a demitiu sem justa causa cerca de um ano após a revelação. Luiza foi à Justiça, pois entende ter sido vítima de preconceito. “Saí da condição de homem branco, estável, empregado para a condição de mulher transexual, lésbica e desempregada. Foi uma fase terrível”, relembra.
Luiza hoje percorre o Brasil dando palestras sobre identidade de gênero em escolas, universidades e empresas. Também entrou na Justiça para retificação do seu nome de registro. Ainda não fez a cirurgia de redesignação sexual, mas pretende um dia realizar esse sonho. “Sou a número 82 na fila. Considerando que são só doze cirurgias por ano, ainda deve demorar um pouco.”
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Luiza Coppieters
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