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Laura Castro Teixeira, 36, delegada: medo, angústia e liberdade

Após esconder por quase trinta anos sua verdadeira identidade, casar e ter dois filhos, vendeu tudo, afastou-se do trabalho e foi à Tailândia mudar de sexo

Por Fernanda Bassette
Atualizado em 13 out 2017, 17h53 - Publicado em 13 out 2017, 09h00

Por quase trinta anos, a delegada Laura de Castro Teixeira, hoje com 36 anos, escondeu sua verdadeira identidade e tentou viver a vida dentro do universo masculino, seu sexo de nascença. Apesar da inquietação diária em acordar e não se sentir dona do próprio corpo e da repulsa ao órgão genital, ela reprimia seus sentimentos, se policiava para não ter trejeitos femininos e não comentava o assunto com ninguém. Já adulta, quando enfim decidiu procurar ajuda, ouviu da psicóloga que ela tinha uma “tara sexual”, o que a deixou ainda mais angustiada.

Como se vestisse uma capa protetora, Laura diz que foi “empurrando a vida com a barriga” e teve uma infância e adolescência considerada normal dentro do possível. Concluiu os estudos, formou-se em direito, casou-se com uma mulher heterossexual e teve um casal de filhos – um menino que hoje tem 17 anos e uma menina que tem 12.

Apesar de ter uma vida financeiramente estável, a inquietação e a insatisfação com o corpo biológico não deixavam Laura em paz. “Eu vivia uma aflição constante, estava deprimida, sentia nojo. Ocupava a cabeça com o trabalho, mas nada resolvia. Dormia e acordava pensando que eu tinha que superar isso e vivia numa apatia total”, conta a delegada.

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Chegou o momento em que a inquietação com o corpo incomodava tanto que Laura decidiu pesquisar sobre o assunto. Foi aos 26 anos que ela descobriu que existe o transtorno de identidade de gênero e que existiam pessoas transexuais. Conversou com um tio, que indicou um médico do projeto que atende pessoas transexuais no Hospital das Clínicas de Goiânia. “Depois que eu descobri que era uma pessoa transexual, foi a pior fase da minha vida. O que eu faria com essa informação? Tinha muito medo e incertezas”, conta.

Laura buscou atendimento no serviço público de saúde, mas desistiu porque demoraria pelo menos nove anos para que conseguisse fazer a cirurgia de redesignação sexual. “E eu não tinha tempo para esperar. Eu queria ser eu mesma o mais rápido possível.” Nesse período, Laura passou no concurso público para delegado em Goiânia. Esperou adquirir estabilidade (três anos) e então decidiu ir atrás do seu sonho. Após muita pesquisa e depois de vender carro, imóvel e tudo o que tinha de valor, Laura pediu três meses de licença, juntou com duas férias acumuladas e embarcou para a Tailândia em 2013, onde fez a sua cirurgia de transgenitalização, eliminando o pênis e construindo uma neovagina. Foram trinta dias de recuperação antes de voltar ao Brasil e fazer outras cirurgias para deixar o seu rosto mais feminino, incluindo nariz, testa e papada.

Depois que eu descobri que era uma pessoa transexual, foi a pior fase da minha vida. O que eu faria com essa informação? Tinha muito medo e incertezas

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Imediatamente Laura deu entrada na Justiça para fazer a retificação do seu nome e gênero de registro. E, ao voltar ao trabalho, pediu para ficar na Delegacia da Mulher, onde é delegada plantonista até hoje. “Mesmo tendo feito a cirurgia em 2013, só me libertei completamente há cerca de um ano e meio. Hoje posso afirmar que sou uma mulher realizada, bem resolvida e sem angústia existencial”, afirmou Laura, que atualmente dedica as horas livres ao estudo. “Quero ser juíza. Esse é meu projeto e vou chegar lá.”

Conheça a história de dez transexuais


Ariadne Ribeiro
36 anos, pedagoga

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Bruna Coutinho da Silva
52 anos, professora


Erick Barbi
38 anos, músico, empresário e publicitário


Gabriel Graça de Oliveira
51 anos, psiquiatra e professor

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Jordhan Lessa
50 anos, guarda civil


Laura de Castro Teixeira
36 anos, delegada


Leona Jhovs
30 anos, atriz, produtora e apresentadora

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Luca Scarpelli
27 anos, publicitário


Luiza Coppieters
38 anos, professora


Matthew Miranda Gondin
25 anos, auxiliar de escritório e empresário

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