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Jesus Prisco: mártir dos grevistas e pedra no sapato de Jaques Wagner

Na Bahia, a figura do líder da greve dos policiais militares Marco Prisco divide opiniões. Para os grevistas, ele é um perseguido; para a imprensa, um terrorista. E para o governador, um ex-aliado rancoroso

Por Cida Alves, de Salvador
11 fev 2012, 15h36

Durante os dez dias de ocupação da Assembleia Legislativa da Bahia pelos policiais militares em greve, um nome era recorrente nas conversas das pessoas que aguardavam o desfecho da situação do lado de fora: Jesus Prisco. Assim se referiam ao ex-soldado do Corpo de Bombeiros Marco Prisco Caldas do Nascimento, de 42 anos, preso após a desocupação do prédio na última quinta-feira. No centro das atenções por liderar a paralisação dos PMs, a figura de Prisco inspira tantas controvérsias quanto o referencial bíblico que motivou seu apelido. Para os grevistas, é um mártir. Para a imprensa baiana, é o responsável por promover o terror no estado. E para o governador Jaques Wagner, um ex-aliado que se tornou uma verdadeira dor-de-cabeça.

Nascido em uma família numerosa na cidade de Catu, interior da Bahia, Prisco se mudou a Salvador para servir o Exército. Decidiu que não seguiria carreira militar por não se sentir bem com o regime do Exército. Optou então pela Polícia Militar e entrou para o Salvar, um dos grupamentos do Corpo de Bombeiros, no final da década de 1990.

Prisão – Poucos anos depois já lideraria uma tentativa de aquartelamentos durante a greve da PM baiana em 2001 – marcada na memória dos baianos como um episódio em que a violência tomou conta do estado. Ele chegou a ficar preso e acabou expulso da PM. Os familiares garantem que, desde então, sofre perseguições e que a mulher e os dois filhos de Prisco – uma menina de 4 anos e um menino de 10 – tiveram que sair de Salvador. “Acho que por isso ele quase nunca falava das questões sindicais com a gente. Preferia deixar o resto da família fora disso”, contou um irmão de Prisco ao site de VEJA sob a condição de anonimato.

Com a expulsão da PM, Prisco se lançou de vez no sindicalismo. Mesmo sendo ex-soldado, fundou, em 2009, a Associação dos Policiais e Bombeiros da Bahia (Aspra), ligada a uma entidade nacional chamada Anaspra. Hoje é presidente da associação, que liderou a atual paralisação dos PMs na Bahia.

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Antes disso, Prisco foi filiado ao PT e, segundo amigos e familiares, fez campanha nos quartéis para Jaques Wagner nas eleições para deputado estadual e governador. Na disputa ao governo da Bahia em 2006, o apoio foi dado em troca de supostas promessas de melhorias salariais para a categoria e reintegração de Prisco ao quadro da Polícia Militar – o que o governador nega.

Guerra – A resposta do ex-soldado veio em 2010, quando, já fora do PT, participou da campanha de Geddel Vieira e disse, no horário eleitoral, se sentir traído por Wagner. Estava declarada a guerra do sindicalista ao atual governo do estado. E Prisco, de aliado, passou a ser a pedra no sapato de Wagner. A greve tem gerado desgaste político para o governador e para o PT, pelo menos dentro da categoria policial.

Fidelidade partidária não parece ser um traço forte na personalidade de Prisco. Hoje filiado ao PSDB, nas últimas eleições foi candidato a deputado estadual pelo PTC. Há quem veja na militância do ex-soldado uma tentativa de se projetar na política e se unir ao grupo evangélico ou de policiais que atuam no legislativo. A quantidade de políticos que se meteram no meio do movimento justifica essa suspeita. Mas, para os policiais grevistas, Prico é um líder natural, consequência de sua persistência na militância.

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“O líder Marco Prisco foi criado pelos próprios governos que o perseguiram e prenderam, e mesmo assim ele não desistiu. Isso fortaleceu a figura dele e do próprio movimento”, afirma o soldado Ivan Carlos Leite, atual porta-voz dos grevistas da Bahia.

Gravações – Entretanto, a credibilidade de Prisco diante da tropa e da Bahia foi abalada pela divulgação na imprensa de gravações telefônicas e trocas de mensagens de celular nas quais articularia ações de vandalismo, a invasão de um quartel e um movimento de greve nacional da polícia.

No dia seguinte à publicação do material, pelo menos três jornais de Salvador associavam a figura de Prisco ao clima de terror estabelecido na cidade. Ao contrário do grupo mais radical da PM, que vê Prisco como vítima de manipulação, a imprensa baiana não poupa o sindicalista diante da opinião pública. E as gravações parecem ter sido a gota d’água para o esperado fim da greve pela população baiana.

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Preso no Complexo Penitenciário do estado, Prisco aguarda, fora dos holofotes e longe da tropa, que seus advogados apresentem um pedido de habeas corpus na semana que vem. Mesmo que os grevistas neguem, o movimento perdeu força com a saída de cena do seu principal líder. Já o que Prisco perderá ou ganhará com o desfecho da paralisação vai depender do desfecho do movimento e das consequências dele para a Bahia.

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