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‘Hoje tenho vergonha do PT’, diz 1º prefeito eleito pelo partido

Gilson Menezes elegeu-se em 1982 prefeito de Diadema. Diante dos sucessivos escândalos, ele afirma que não conseguiria mais pedir votos para a legenda

Por Eduardo Gonçalves Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 7 out 2016, 18h19

Em 1982, nas primeiras eleições diretas para cargos do Executivo e Legislativo (excluindo-se o posto de presidente da República) desde o golpe de 1964, o PT elegeu o seu primeiro prefeito — o sindicalista e metalúrgico Gilson Menezes, em Diadema, na Região Metropolitana de São Paulo. À época, a sigla tinha apenas dois anos de história. Passados 36 anos daquela vitória – incluindo os treze que a legenda ficou à frente da Presidência da República -, o partido protagonizou sucessivos escândalos e está hoje imerso em sua maior crise: apeado do poder após o impeachment de Dilma Rousseff, amargou neste pleito municipal o pior resultado em 20 anos. Hoje no PDT, Menezes, que foi prefeito por dois mandatos (de 1982 a 1988 e de 1997 a 2000), deputado estadual, vereador e vice-prefeito, também está longe dos seus melhores dias: recebeu apenas 360 votos e não conseguiu se eleger para a Câmara de Diadema.

Assim como o partido, ele não está em bons lençóis com a Justiça, que bloqueou seus bens por suspeitas de irregularidades cometidas na época em que foi prefeito pela segunda vez. Apesar de ainda firmar alianças com o PT – em 2012, foi candidato a vice-prefeito na chapa de Mario Reali (PT) – Menezes já passou por PSC e PSB. E não esconde a frustração com a sigla que ajudou a fundar junto com o “companheiro” do sindicato dos metalúrgicos do ABC Luiz Inácio Lula da Silva. Em conversa com VEJA, o veterano afirmou que tem vergonha de sair às ruas e pedir votos para a antiga legenda que, segundo ele, desviou-se dos seus princípios e caiu no “fascínio do dinheiro”.

Como o senhor, que foi o primeiro prefeito petista, vê o partido hoje? Eu me sinto envergonhado. Esse não foi o objetivo pelo qual criamos o partido. Ele nasceu para ser diferente e acabou ficando igual aos outros. Eu lamento muito pelo que o partido está passando hoje.

Quais foram os pecados do partido que explicam as derrotas em 2016, principalmente no ABC?  Infelizmente, as pessoas que votavam no PT nesses lugares ficaram frustadas. O pecado foi a desonestidade, o caminho da corrupção tomado por algumas pessoas. Não são todas. Ainda há gente de bem no partido. E espero que essas pessoas façam uma reflexão, uma autocrítica profunda, para que o partido volte a ser o que era e para aquilo que foi criado.

O PT chegou a convidá-lo para apoiar a candidatura de Maninho (PT) [que ficou em terceiro lugar na disputa]? Chamou, mas eu não quis apoiá-lo. Não por causa do Maninho, mas por causa de todas essas coisas. Eu teria vergonha de pedir votos para o PT nessas eleições.

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Por que o senhor saiu da sigla em 1988? Eu saí porque percebi que algumas pessoas estavam levando o partido para o caminho da corrupção e da falta de democracia. Era um lugar que eu não desejava.

Que pessoas? Neste momento, eu não gostaria de revelar nomes, mas são essas aí que aparecem na TV todos os dias.

Você e o Lula eram bastante próximos na época do sindicato. O que achou de todos esses casos que envolvem o nome do ex-presidente? Eu espero que não seja verdade porque senão será uma decepção muito grande. Para mim e muita gente que ainda acredita nele. Eu espero que ele prove o contrário, senão vai ficar muito feito para ele. Não posso aceitar que o dinheiro do povo não seja respeitado.

O senhor foi acusado de irregularidades pelo MP e está com os bens bloqueados…Teve uma empresa que fez uma campanha e doou para a prefeitura 4.000 livros eu apenas recebi esses livros. Eu não contratei a empresa. E fui condenado por isso. Livros para a população. Se tiver alguma coisa errada aí, foi a empresa e quem doou o dinheiro. Eu não. No entanto, estou com meus bens bloqueados por causa disso. Eu nunca roubei um centavo da prefeitura. Pelo contrário, numa compra de maquinários, me ofereceram comissão de 9% e eu disse para eles darem esse desconto para a prefeitura. Só para você ter uma ideia… fora as outras coisas.

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Que outras coisas? Isso é comum? Infelizmente, é comum. Queriam doar para mim um terreno de 1.000 metros quadrados e eu entreguei para a prefeitura. Quem abre mão do seus princípios acaba caindo no fascínio do dinheiro. Hoje, posso andar na rua com dignidade e dizer: não sou corrupto e odeio corruptos.

O senhor também mudou de partido várias vezes. O PDT é melhor do que o PT? Gente ruim todo mundo tem. Mas é um partido que tem uma figura exemplar — Leonel Brizola. E ninguém pode acusá-lo de desonestidade. O PT deveria seguir esse exemplo.

O político Gilson Menezes, prefeito eleito da cidade de Diadema
O político Gilson Menezes, quando foi eleito em Diadema (Fernando Santos/Folhapress)
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