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Francisco condena legalização das drogas e prega a alegria para reunir o rebanho católico

No primeiro dia de compromissos externos, papa faz um chamado aos jovens em Aparecida e diz que descriminalização das drogas não é solução para a América Latina

Por João Marcello Erthal
24 jul 2013, 21h29

Francisco é o papa dos pobres, do povo, da humildade. Mas o voto de pobreza e os exemplos de extrema simplicidade, apesar de produzirem uma impressionante onda simpática de comoção, seriam brandos no sentido de conter a debandada do rebanho católico, acentuada no Brasil na última década, como mostra o IBGE. Depois de um dia de recepções protocolares e outro de reclusão para compromissos internos, o pontífice iniciou de fato, nesta quarta-feira, terceiro dia da visita ao país, a difusão da mensagem preparada para a Jornada Mundial da Juventude, com ênfase nas questões brasileiras. Em um dia de trabalho sob chuva, frio e de 14 horas entre idas e vindas, Francisco pregou, em Aparecida (SP), o “viver na alegria”. “O cristão não pode ser pessimista! Não pode ter uma cara de quem parece num constante estado de luto”, disse, no trecho final da homilia acompanhada por cerca de 200.000 pessoas no Santuário e por todo o Brasil, pela televisão.

Leia a íntegra da homilia do papa Francisco em Aparecida

Francisco iniciou a homilia com uma mensagem de humildade, pedindo “o bom êxito da Jornada Mundial da Juventude” e lembrando o Documento de Aparecida, resultado da 5ª Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, que presidiu em 2007 naquela cidade. Em seguida, falou pela primeira vez no dia – a segunda seria no Rio de Janeiro, à tarde – dos “ídolos” que atormentam o jovem. “É verdade que hoje, mais ou menos todas as pessoas, e também os nossos jovens, experimentam o fascínio de tantos ídolos que se colocam no lugar de Deus e parecem dar esperança: o dinheiro, o poder, o sucesso, o prazer. Frequentemente, uma sensação de solidão e de vazio entra no coração de muitos e conduz à busca de compensações, destes ídolos passageiros.”

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A mensagem atinge diretamente as tentações, mas também tenta reavivar o orgulho católico, a autoestima de um rebanho constantemente atacado por novas crenças, em especial as correntes pentecostais – que, apesar de não serem explicitamente citadas como concorrentes do catolicismo, são as que mais avançam no Brasil, de acordo com o Censo 2010. O tom “motivacional” adotado em Aparecida e no pronunciamento no Hospital São Francisco de Assis na Providência, no Rio de Janeiro, envolveu definitivamente o pontífice nos esforços da Igreja no Brasil, particularmente o de fazer com que o católico demonstre, em atitudes e palavras, algum entusiasmo com a religião – algo no qual evangélicos se esmeram em repetidos eventos país afora, nenhum tão extenso ou grandioso quando a JMJ, é verdade.

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“Queridos irmãos e irmãs, sejamos luzeiros de esperança! Tenhamos uma visão positiva sobre a realidade. Encorajemos a generosidade que caracteriza os jovens, acompanhando-lhes no processo de se tornarem protagonistas da construção de um mundo melhor: eles são um motor potente para a Igreja e para a sociedade”, afirmou.

Em todo o planejamento da Jornada Mundial da Juventude, a Igreja tratou de estabelecer uma conexão direta com problemas brasileiros. Não por acaso, a escolha do “legado da JMJ” foi uma unidade de saúde – a ala de 80 leitos no Hospital São Francisco de Assis na Providência, que, por atraso nas obras, não pode ser inaugurada pelo papa. A visita à unidade de saúde foi de extrema simplicidade: três cadeiras sobre um tablado serviram de palco, uma estrutura tão minimalista que desapareceu entre os guarda-chuvas e microfones que circundaram o pontífice.

O discurso no hospital teve trechos duros. “Há tantas situações no Brasil e no mundo que reclamam atenção, cuidado, amor, como a luta contra a dependência química. Frequentemente, porém, nas nossas sociedades, o que prevalece é o egoísmo. São tantos os ‘mercadores de morte’ que seguem a lógica do poder e do dinheiro a todo o custo! A chaga do tráfico de drogas, que favorece a violência e que semeia a dor e a morte, exige da inteira sociedade um ato de coragem”, destacou.

Chegou, então, o momento em que Francisco condenou as correntes que defendem a legalização dos entorpecentes. “Não é deixando livre o uso das drogas, como se discute em várias partes da América Latina, que se conseguirá reduzir a difusão e a influência da dependência química. É necessário enfrentar os problemas que estão na raiz do uso das drogas, promovendo uma maior justiça, educando os jovens para os valores que constroem a vida comum, acompanhando quem está em dificuldade e dando esperança no futuro. Precisamos todos olhar o outro com os olhos do amor de Cristo, aprender a abraçar quem passa necessidade, para expressar solidariedade, afeto e amor.”

Na cerimônia franciscana, sem qualquer luxo ou conforto, fez-se mais uma vez a vontade do papa: a primeira fila de cadeiras foi ocupada por dependentes químicos, alguns recuperados, outros em tratamento. Francisco encerrou comparando o hospital e o trabalho dos profissionais de saúde a uma passagem bíblica. “No Evangelho, lemos a parábola do Bom Samaritano, que fala de um homem atacado por assaltantes e deixado quase morto ao lado da estrada. As pessoas passam, olham, mas não param; indiferentes seguem o seu caminho: não é problema delas! Somente um samaritano, um desconhecido, olha, levanta-o, estende-lhe a mão e cuida dele. Queridos amigos, penso que aqui, neste hospital, se concretiza a parábola do Bom Samaritano. Aqui não há indiferença, mas solicitude. Não há desinteresse, mas amor. A Associação São Francisco e a Rede de Tratamento da Dependência Química ensinam a se debruçar sobre quem passa por dificuldades porque veem nestas pessoas a face de Cristo, porque nelas está a carne de Cristo que sofre. Obrigado a todo pessoal do serviço médico e auxiliar aqui empenhado. O serviço de vocês é precioso!”

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