Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Em posse de Barbosa, procurador critica proposta que tira poder de investigação do MP

Proposta foi aprovada em comissão especial da Câmara e vai a plenário. Para Gurgel, trata-se de um "atentado ao estado democrático de direito”

Por Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 22 nov 2012, 16h09

O procurador-geral da República Roberto Gurgel utilizou nesta quinta-feira o discurso que fez na posse do ministro Joaquim Barbosa como novo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) para uma espécie de desagravo contra a aprovação de uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que tenta limitar os poderes de investigação do Ministério Público. A PEC 37 foi aprovada nesta quarta-feira em uma comissão especial da Câmara dos Deputados e agora passará por dois turnos de votação na casa legislativa.

A restrição dos poderes do MP foi classificada por Roberto Gurgel como um dos “maiores atentados que se pode conceber ao estado democrático de direito”. De acordo com ele, em todo o mundo o Ministério Público tem funções de investigação, ainda que complementares às da autoridade policial. As exceções, lembrou, são Quênia, Indonésia e Uganda. A PEC aprovada nesta quarta prevê, entre outros pontos, que o Ministério Público não pode iniciar investigações, tarefa que seria restrita à polícia.

“Apenas três países do mundo vedam a investigação do MP. Convém que nos unamos a esse restritíssimo grupo?”, questionou. “O Ministério Público não quer e jamais pretendeu substituir a polícia ou órgãos de investigação que desempenharam papel importantíssimo. Não se pode esquecer que a maior garantia da sociedade está na independência funcional dos integrantes do Ministério Público, que os preserva das ingerências hierárquicas externas que se veem em outros órgãos investigativos”, afirmou o procurador-geral.

O STF iniciou julgamento para definir os limites de atuação do MP, mas o caso foi paralisado por um pedido de vista do ministro Luiz Fux em junho. O processo em pauta tem repercussão geral, o que significa que, quando concluído, terá sua decisão será aplicada a todos os casos semelhantes.

Continua após a publicidade

Responsável por pedir a condenação de 36 pessoas no julgamento do mensalão – o STF acabou por condenar 25 réus – Roberto Gurgel não fez referência direta às pressões resultantes da penalização de políticos como o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu. Ainda assim, questionou: “Seria mais uma retaliação a instituição pelo cumprimento de sua missão constitucional? Essa é uma das perguntas que à sociedade cabe formular”.

Reinaldo Azevedo: Barbosa faz discurso sereno e sem ‘firulas’

OAB – Também na posse de Joaquim Barbosa, o presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcante, relembrou que o STF tem desempenhado papel crucial ao demonstrar à sociedade que criminosos de alto poder aquisitivo, como banqueiros e parlamentares condenados no mensalão, também precisam cumprir penas atrás das grades. E relembrou que mesmo a reeleição de deputados mensaleiros não garante a eles impunidade pelos crimes cometidos no maior escândalo político do governo Lula.

“Juízes, é verdade, não foram eleitos pelo voto popular, mas não é o voto que legitima condutas desabonadoras. Também não é o voto um salvo-conduto para práticas (criminosas). O julgamento fixou em cada cidadão a real compreensão de que ninguém está acima da lei e que a igualdade preconizada a lei maior existe, sim. Quem infringiu a lei deve responder pelos seus atos”, afirmou.

Continua após a publicidade

A presidência – Escolhido pelo próprio Joaquim Barbosa para falar em nome da corte, o ministro Luiz Fux classificou o novo presidente do STF como “paradigma de independência, coragem e honradez”. “É aquele homem, como diz Cícero, capaz de enfrentar perigos e superar os labores”, resumiu. No discurso, Fux relembrou a “solidão” da carreira de juiz e teceu elogios também ao novo vice-presidente do Supremo, Ricardo Lewandowski. “É um doce amigo e um jurista da mais alta estirpe”, disse. Barbosa e Lewandowski têm travado duros embates no julgamento do mensalão e nos próximos dois anos serão responsáveis pela presidência e vice-presidente da mais alta corte do país.

Presidência no mensalão – Nesta quarta-feira, durante a sessão plenária do mensalão, Joaquim Barbosa acumulou as funções de relator e de presidente, ainda que interino, do colegiado. Não era a primeira vez que ocupava a presidência do STF – em 13 de junho estava provisoriamente no posto – mas na condução da dosimetria do mensalão ele já deu sinais de que tentará conter o temperamento explosivo. Em nenhum momento, ao contrário do que já virou rotina no julgamento, levantou a voz ou evidenciou grande contrariedade contra o apelo de um advogado.

Também diferentemente do antecessor, Carlos Ayres Britto, Joaquim Barbosa foi mais rígido com os horários do julgamento e começou a sessão pouco antes das 14h30, ainda com ministros fora de plenário. Iniciou a definição de penas mesmo dependendo exatamente dos votos dos magistrados ausentes. Ao encerrar o voto sobre a pena de um dos réus, Henrique Pizzolato, Barbosa anunciou: “É como voto, senhor presidente”. Depois, brincou e alegou “falta de hábito” com a nova função.

Celebridades – A posse de Joaquim Barbosa foi prestigiada por artistas e ex-atletas, entre os quais o tricampeão mundial de Formula 1, Nelson Piquet, o ex-jogador de futebol Dario Alegria e os atores Milton Gonçalves, Regina Casé e Lázaro Ramos. O cantor Martinho da Vila chegou a entoar o samba-enredo Sonho de um Sonho em homenagem ao ministro: “Sonhei que estava sonhando um sonho sonhado, um sonho de um sonho, magnetizado, as mentes abertas, sem bicos calados”. O Hino Nacional foi interpretado pelo artista e bandolinista Hamilton de Holanda.

Continua após a publicidade

Os ex-ministros Sepúlveda Pertence, Nelson Jobim, Cezar Peluso, Ellen Gracie e Ayres Britto, além da presidente Dilma Rousseff, estavam presentes.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.