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Delegado: “Não tenho dúvida de que Mizael matou a Mércia”

Antonio de Olim, que investigou o caso, apontou contradições nos depoimentos do ex-policial e dados para derrubar álibi o apresentado pela defesa

Por Da Redação
12 mar 2013, 11h31

O julgamento do ex-policial e advogado Mizael Bispo de Souza, de 43 anos, acusado de matar a namorada Mércia Nakashima em 2010, foi retomado nesta terça-feira por volta das 9h30 no Fórum de Guarulhos, na Grande São Paulo. O segundo dia de júri, que está sendo transmitido ao vivo, começou com o depoimento da penúltima testemunha de acusação Antonio Assunção de Olim, delegado de polícia que na época do crime realizou a investigação pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Ao ser questionado pela acusação, o delegado foi enfático: “Conto apenas o que investiguei e apurei e posso dizer com certeza: não tenho dúvida nenhuma de que o Mizael matou a Mércia”.

O delegado afirmou que o rastreamento do veículo de Mizael e dos telefones do ex-policial e do acusado de ser coautor do crime, o vigia Evandro Bezerra da Silva, mostram que ambos estiveram rondando a casa da família da vítima na noite de 23 de maio de 2010, quando Mércia desapareceu. Segundo Olim, para não levantar suspeitas, o réu deixou seu carro perto do Hospital de Guarulhos e foi no carro de Evandro até uma praça próxima à casa da avó de Mércia – último lugar onde a vítima foi vista. “Ele [Evandro] confirmou que ficou com o Mizael no encalço da Mércia naquele domingo, e o rastreamento dos celulares confirma isso”, disse o delegado.

De acordo com o delegado, Mizael usou um telefone “frio” na noite do crime e não declarou esse número à polícia, que acabou descobrindo a existência da linha durante a investigação. Por esse telefone, o réu falou com Evandro dezesseis vezes no dia do desaparecimento de Mércia. Depois da noite do crime, o telefone “frio” não foi mais usado. Com Mércia, o acusado se comunicava por um celular cadastrado em seu nome.

Segundo a investigação, na noite do crime Mizael e Mércia teriam se encontrado próximo ao Hospital de Guarulhos por volta das 19h30, e seguido no carro da vítima. Em depoimento gravado por Olim, Evandro confirmou que, perto das 21h, foi buscar Mizael na represa de Nazaré Paulista, onde foi encontrado o corpo de Mércia em 10 de junho de 2010. “Ele contou que Mizael chegou suado, molhado, com duas armas e dizendo para irem embora rápido”, disse o delegado. No depoimento, Evandro também teria confirmado todos os encontros com Mizael e, inclusive, que tentou persuadir o amigo a desistir de matar Mércia.

Contradições – Antonio de Olim apontou também contradições nos depoimentos dados por Mizael para a polícia. A defesa afirma que o réu estava com uma garota de programa próximo ao Hospital de Guarulhos na noite que Mércia desapareceu. “Ele disse que ficou quatro horas com a prostituta, mas não recordava o nome dela, nem a cor do cabelo”, ressaltou o delegado. Olim também questionou o local onde o acusado disse que encontrou a prostituta. “Não é ponto de prostituição, nem ponto de ônibus. É um lugar de muito movimento de veículos e não há como parar por ali”, afirmou o delegado, ressaltando que o rastreamento do veículo mostra que o carro passou sem parar nesse local.

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O delegado contou que o depoimento de Mizael mudou depois que ele soube que a polícia teve acesso ao relatório do rastreador que tinha no seu carro. Segundo Olim, Mizael não sabia do equipamento, que tinha sido instalado no veículo por Mércia, para deixar o seguro mais barato. Os dados do rastreador e da localização dos telefones de Mizael não batem na noite do crime.

Defesa – A troca de farpas entre Olim e os advogados de defesa foi constante durante toda a oitiva. Samir Haddad, o primeiro a interrogá-lo, tentou desqualificar Olim batendo na tecla de que família de Mércia pediu seu afastamento do caso. Ele também deu a entender que o delegado não tinha muita experiência na investigação de assassinatos.

Ao ser interrompido pelo juiz Leandro Cano, que questionou a pertinência de algumas perguntas, Haddad disse: “Estou sentindo que a minha oitiva está incomodando, mas eu não sei por quê. A vida de uma pessoa está em jogo”. Diante dessa declaração, o juiz ratificou: “Não é a vida de uma pessoa, é a privação de liberdade de uma pessoa”.

A análise do rastreador do carro de Mizael foi outro motivo de polêmica entre o advogado Ivon Ribeiro e o delegado. “Infelizmente o senhor já vem mentindo de outras formas”, afirmou Ribeiro depois de Olim dizer que as perguntas não deveriam ser feitas para ele, mas para o técnico que fez o laudo. “O senhor fez essa investigação em cima de um documento temerário?”, provocou Ribeiro. “Esse documento que o senhor trabalhou não presta”. Ao dizer isso, o juiz interviu: “O senhor está passando um pouquinho do limite”.

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Em outro momento tenso, defesa e acusação começaram a discutir no plenário sobre a data de um dos vídeos exibidos no julgamento. “O senhor não conhece o processo e induz ao erro”, gritou o promotor Rodrigo Merli. “O senhor é desleal e mentiroso. O diabo é o pai da mentira. O senhor é amigo do diabo”. Ivon Ribeiro retrucou: “Mentiroso é o senhor”.

Depois de mais um bate boca entre os promotores e os advogados, Leandro Cano determinou que fosse adotado o sistema presidencialista no plenário. Com isso, as perguntas são feitas para o juiz e ele as repassa para o depoente.

O depoimento de Olim terminou por volta das 14h50. A última testemunha de acusação deverá depor ainda esta tarde. O próximo a falar deve ser a última testemunha da acusação, o advogado Arles Gonçalves Júnior, que acompanhou um dos depoimentos de Evandro no Departamento de Homicídios e Proteção à pessoa (DHPP), em São Paulo.

No primeiro dia do julgamento, o perito Eduardo Amato Tolezani já havia afirmado ser “impossível” que ex-PM estivesse nas proximidades do Hospital de Guarulhos, no momento do crime, pois seu celular apontava que ele estava em outro local. Também foram ouvidos como testemunha da acusação o irmão de Mércia, Márcio Nakashima, e o biólogo Carlos Eduardo de Mattos Bicudo, do Instituto de Botânica de São Paulo. Durante as investigações, Bicudo havia analisado restos de uma alga encontrada na sola do sapato de Mizael, que eram compatíveis com uma espécie que existe no lago da represa onde o corpo de Mércia foi encontrado.

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