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Delator: Serra iria ‘retribuir’ repasses milionários da Odebrecht

Odebrecht esperava ser beneficiada em governos de José Serra, já que, segundo o delator Pedro Novis, o tucano mostrava 'disposição de retribuir'

Por Daniel Pereira, Felipe Frazão, Hugo Marques, Marcela Mattos, Renato Onofre, Robson Bonin, Rodrigo Rangel, Thiago Bronzatto
Atualizado em 13 abr 2017, 14h19 - Publicado em 13 abr 2017, 00h38

Delatores da Odebrecht acusaram o ex-chanceler do governo Temer e senador José Serra (PSDB-SP) de receber pagamentos milionários da empreiteira, em campanhas de 2002 a 2012, período em que foi prefeito de São Paulo, governador do Estado e candidato derrotado à Presidência da República. Os pagamentos saíram do setor de propinas da companhia, conforme ex-dirigentes como Benedicto Júnior, o BJ, e Pedro Novis, que presidiu a holding do grupo Odebrecht e era vizinho do tucano. Parte das doações era caixa dois, pago em espécie e não há registro de valores preciso. Os delatores da Odebrecht afirmaram que colaboraram para campanhas de Serra durante anos.

“Ele sinalizou sempre o reconhecimento e a admiração pelas pessoas da organização e mesmo a disposição de retribuir quando fosse possível. Nós sempre alimentamos a expectativa de que ele pudesse ajudar mais do que ajudou. Acredito que não nos ajudou mais porque não venceu eleições”, afirmou Pedro Novis, que se disse amigo de Serra por 36 anos. “O único momento em que tivemos algum apoio e contribuição do ministro Serra em benefício da organização foram três obras de quando ele era governador de São Paulo. Eram obras de recuperação do córrego Pirajussara, recuperação ambiental da Baixada Santista e corredor da Rodovia Dom Pedro I. Essas obras que contratamos no governo Serra não foram nem mais nem menos do que normalmente a Odebrecht contrata ao longo dos governos estaduais de São Paulo. Ele não fez nada para dificultar, com certeza, nós tínhamos uma imagem perante os secretários de Estado e dirigentes de estatais, pessoas próximas ao Serra, uma relação diferenciada com ele, que pode ter ajudado em algum momento, mas não teria informação no sentido de que ele criou condições específicas para que nós ganhássemos essas obras.”

Na campanha de 2002, Serra recebeu recursos de caixa dois, estimados em cerca de 15 milhões de reais. “Os pagamentos normalmente eram parcelados, via caixa dois”, afirmou Novis. “Pode ter havido alguma doação oficial de pouca expressão, a maior parte foi caixa dois.” Em 2004, recebeu 2 milhões na campanha para a prefeitura de São Paulo, quando se elegeu derrotando a então petista Marta Suplicy, hoje senadora pelo PMDB. Para a campanha de 2006, quando venceu o governo de SP, Serra contou com contribuições irregulares de pelo menos 4,5 milhões de reais – para custeio e pagamento de dívidas no ano seguinte. Houve inclusive transferências no exterior, para um empresário amigo de Serra. Em 2008, Serra não era candidato, mas pediu colaboração para candidatos a prefeito do PSDB no valor de 3 milhões de reais em espécie. Segundo Novis, todos os pedidos de dinheiro partiram de Serra.

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Houve um pedido de ajuda de 30 milhões de reais, mas ao fim Serra recebeu 23,3 milhões de reais, conforme a acusação. A Odebrecht tinha créditos a receber da Dersa, e Serra, então governador, disputaria a Presidência novamente em 2010. Ficou combinado com ele e o então líder do PSDB Sérgio Guerra (morto em 2014) que os tucanos bicariam 5% dos créditos, chegando à quantia milionária. Serra ainda receberia 6 milhões de euros e 9 milhões de reais da empreiteira, seja em caixa dois ou no exterior.  Diversos intermediários articulavam os pagamentos a Serra, em contas na Suíça ou remessas em espécie. José Amaro Ramos, Márcio Fortes, Ronaldo Cezar Coelho e Paulo Preto, ex-diretor da Dersa, eram os principais.

Em uma ocasião, por exemplo Serra determinou por decreto uma revisão em contratos ao assumir o governo de São Paulo, em 2007, ocasião em que Paulo Preto aproveitou para cobrar 0,75% sobre o valor global, o que gerou cerca de 2,2 milhões em propina para financiar campanhas do PSDB. Homem de confiança de Serra, ele ameaçava não dar seguimento ao contrato da Odebrecht com a Dersa no Rodoanel, obra cuja licitação foi combinada entre construtoras. “Era vida ou morte para o negócio”, disse BJ. Para que o contrato não fosse sustado, entre 2007 e 2010, a Odebrecht fez entregas mensais de dinheiro em espécie, de 200 000 reais cada, a portadores indicados por Paulo Preto. “Ele é uma figura notória ligada a um partido. Ele não é um diretor que estivesse ali tecnicamente colocado e que estivesse fazendo um pedido especificamente para si próprio”, afirmou o delator. Segundo ele, Paulo Preto fez até pedidos de colaboração para campanhas do atual ministro da Ciência, Tecnologia e Comunicações, Gilberto Kassab (PSD), ex-prefeito paulistano e sucessor de Serra na prefeitura.

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