Depois de vários relatos de irregularidades envolvendo ministros, o caso dos abusos cometidos com os cartões corporativos do governo juntou-se nesta quinta-feira à longa lista de escândalos impunes da política brasileira. A CPI criada para investigar os episódios foi encerrada oficialmente na manhã desta quinta — e ninguém foi formalmente acusado de nada. Como a bancada governista tinha a maioria de votos, a comissão mista acabou com a aprovação do relatório oficial, com 14 votos a favor e 7 contra.
O relatório, elaborado pelo deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), poupa a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, de qualquer acusação. Ela é suspeita de ter coordenado a elaboração de um dossiê com dados sigilosos de gastos do governo FHC. O dossiê seria usado para pressionar os parlamentares da oposição, que cobravam a apuração do uso abusivo dos cartões corporativos pelos integrantes do governo. A tentativa de chantagem passou longe de ser esclarecida. No fim, nem mesmo os casos de gastos irregulares graves desencadearam qualquer tipo de punição.
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A presidente da comissão, senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), lamentou o desfecho melancólico dos trabalhos. “Essa CPI era para dar exemplo, para que a sociedade tivesse uma visão positiva desta Casa. Mas deixamos isso passar”, admitiu ela. “Tenho certeza de que o governo federal vai ter um cuidado maior com uso dos cartões. Mas ao mesmo tempo, queria ter aprofundado as investigações, e não conseguimos fazer isso.” Antes da votação, a oposição ainda apresentou um relatório alternativo.
Como havia antecipado a coluna Radar on-line de VEJA no início da semana, o deputado Índio da Costa (DEM-RJ) leu um voto em separado, que defendia punição para os envolvidos em práticas irregulares. O texto pedia o indiciamento de 33 pessoas, incluindo a ministra Dilma Rousseff e sua secretária-executiva, Erenice Guerra, além dos ex-ministros Matilde Ribeiro, Olívio Dutra, Benedita Silva e Eunício Oliveira. Eunício, citado por causa do uso do cartão por um ecônomo responsável pelas compras do gabinete, desafiou os autores do voto em separado a apresentar qualquer informação comprometedora contra ele. “Não sei nem qual é a cor do cartão”, disse ele a VEJA. Como o relatório oficial foi aprovado, o outro relatório não foi nem sequer colocado em votação.