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Bruna Coutinho da Silva, 52: do balé a dublê de diva pop

Com apoio incondicional da mãe, venceu as restrições do pai às 'coisas de menina' e obteve há pouco mais de um mês autorização judicial para mudar o gênero

Por Fernanda Bassette
Atualizado em 13 out 2017, 17h27 - Publicado em 13 out 2017, 09h00

Demorou quase cinquenta anos para que a técnica judiciária do Tribunal Regional Eleitoral Bruna Coutinho da Silva, de 52 anos, se aceitasse como uma mulher transexual e iniciasse sua transição de gênero, do masculino para o feminino. Nascida na década de 60 e criada em uma família extremamente conservadora, Bruna pouco sabia sobre o que era ser transexual. “Eu achava que era gay. Tinha medo de pensar que poderia ser uma travesti, pois só via essas pessoas sendo marginalizadas. Era mais fácil ser homossexual”, diz.

Foi na juventude que Bruna percebeu o seu desejo de ser mulher. Por muito tempo reprimiu esse sentimento porque tinha medo de “transmitir” sua condição para o irmão mais novo. Na idade escolar, seu maior tormento era participar das aulas de educação física, pois sabia que teria de trocar de roupa dentro do banheiro masculino. “Isso era algo tão incômodo, mas tão incômodo, que eu cheguei a passar mal algumas vezes.” Alvo de xingamentos e ofensas constantes na escola, Bruna nunca reagia por causa do medo dos pais.

Percebendo os interesses do filho em coisas de menina, o pai de Bruna decidiu matriculá-la nas aulas de judô e de violão. Ela preferia fazer balé e aprender piano, mas, na opinião do pai, “piano era coisa de menina”. Aos 18, no entanto, já dona do próprio dinheiro, Bruna se matriculou nas aulas de balé.

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A angústia e a insatisfação com o seu corpo fizeram com que Bruna cometesse o que ela considera seu maior erro: aos 28 anos, em um ato de desespero, comprou silicone líquido clandestinamente para aplicar no bumbum. No começo, ficou eufórica com o resultado, mas a alegria durou pouco. O líquido do silicone desceu pelas pernas, enrijeceu e se acumulou nos pés. Não há nada que possa ser feito para retirar o produto, que causa dor e desconforto. “Me dei conta do tamanho da irresponsabilidade e do risco que eu corri. Até hoje carrego essa culpa e quero desencorajar outras pessoas a usar esse produto, que me traz sequelas há mais de vinte anos”, diz.

Ao procurar ajuda, Bruna foi apresentada ao movimento crossdressing, em que homens heterossexuais ou homossexuais gostam de se vestir com roupas do sexo oposto. Foi só então, há cerca de quinze anos, que Bruna se identificou como uma mulher transexual. Amadureceu a ideia e, três anos depois, iniciou a terapia hormonal para mudança de gênero.

Fez aplicações de laser no rosto, tronco e pernas para eliminar os pelos indesejados, fez uma cirurgia para retirada do pomo de Adão (proeminência existente nos homens, abaixo da garganta) e, mais tarde, implantou silicone no bumbum novamente – dessa vez de forma devidamente regulamentada e segura. Ainda não fez a cirurgia de transgenitalização por medo e por falta de recursos. “Na minha idade, não dá para esperar mais de dez anos na fila do SUS e ainda correr riscos de não ficar bem feito. Estou me capitalizando para fazer em clínica particular”, diz Bruna, estimando o custo da cirurgia em 40.000 reais.

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Isso [trocar de roupa no vestiário masculino] era algo tão incômodo, mas tão incômodo, que eu cheguei a passar mal algumas vezes

Bruna também já retificou o nome e o gênero judicialmente – a sentença tem pouco mais de um mês. Para ela, foi o suficiente para se sentir uma mulher de verdade. “A retificação civil me trouxe paz, pois o que determina o gênero não é o seu órgão genital. Só tenho a agradecer”, diz ela, reforçando que o apoio incondicional que recebeu da mãe foi fundamental para sua transformação. “Se não fosse ela, talvez eu não estivesse aqui hoje.”

Nas horas vagas e para driblar a depressão que a acompanha há dez anos, Bruna se transforma em Bruna Drapeaux e incorpora divas da música pop internacional, fazendo performances e dublagens. “Sempre gostei de música e dança. Foi o caminho e o suporte que encontrei para socializar e ter uma vida plena.”

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Conheça a história de dez transexuais


Ariadne Ribeiro
36 anos, pedagoga


Bruna Coutinho da Silva
52 anos, professora

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Erick Barbi
38 anos, músico, empresário e publicitário


Gabriel Graça de Oliveira
51 anos, psiquiatra e professor


Jordhan Lessa
50 anos, guarda civil

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Laura de Castro Teixeira
36 anos, delegada


Leona Jhovs
30 anos, atriz, produtora e apresentadora


Luca Scarpelli
27 anos, publicitário


Luiza Coppieters
38 anos, professora


Matthew Miranda Gondin
25 anos, auxiliar de escritório e empresário

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