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Após mortes, motoristas do Uber criam táticas para se proteger

Em São Paulo, motoristas relatam assaltos em áreas periféricas. Segundo eles, a onda de violência começou após o aplicativo permitir pagamento em dinheiro

Por Da redação
14 out 2016, 09h34

Se antes a ameaça vinha de taxistas preocupados com a concorrência em São Paulo, agora os motoristas do Uber se sentem cada vez mais na mira de criminosos armados. Por proteção, os condutores têm rejeitado corridas com pagamento em dinheiro e também vêm formando grupos de WhatsApp para comunicar emergências e pedir ajuda a colegas.

Os motoristas relatam que o número de assaltos aumentou em São Paulo após o aplicativo passar a aceitar pagamento em espécie, no fim de julho. Pouco depois da mudança, dois condutores do Uber foram mortos em tentativas de assalto na zona sul da capital, em um intervalo de menos de um mês. Osvaldo Modolo Filho, de 52 anos, foi assassinado por passageiros; Orlando da Costa Brito, de 60, por criminosos em um semáforo.

No dia 24 de setembro, o analista administrativo Edson Nascimento, de 38 anos, aceitou um chamado com pagamento em dinheiro na frente do Hospital Vila Nova Cachoeirinha, na Zona Norte. Eram 7h35. Uma mulher sentou no banco de trás. Um rapaz ocupou o do passageiro e anunciou o assalto. “Eu disse que tinha família, que estava trabalhando”, conta a vítima, pai de dois meninos, de 10 e 18 anos. Ele havia entrado para a Uber após ficar desempregado.

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Nascimento foi obrigado a desligar o aplicativo e seguir até uma viela, a poucos quilômetros de distância. Lá, três bandidos armados entraram no veículo, cobriram a cabeça da vítima e a mantiveram sob a mira de armas. Os criminosos roubaram celular, óculos e 1.941 reais em compras no cartão. O motorista foi deixado quatro horas depois em Parada de Taipas. “Não tenho coragem de voltar para o Uber”, diz.

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No mesmo mês, o motorista Eliclésio Santana, de 30 anos, foi atender passageiros na favela de Heliópolis, na Zona Sul. “Eles me fizeram andar para entregar uma carga de droga”, diz. Também na Zona Sul, o motorista Fábio Oliveira, de 40 anos, afirma que conseguiu fugir de um assalto na Vila Sônia. Ele ficou esperando cerca de dez minutos em uma praça deserta por uma passageira que nunca apareceu. “Dois caras saíram de uma viela e, quando viram que eu estava saindo, correram atrás do carro.”

Agora, ele evita aceitar chamados em dinheiro. ‘Quando estou a 1 km, eu aciono a corrida e aparece a forma de pagamento. Se não tiver contato, eu cancelo.” Dos 15 motoristas do Uber ouvidos pela reportagem apenas dois afirmaram que nem eles nem colegas próximos foram vítimas de violência.

Grupos. Oliveira também administra um grupo de WhatsApp para motoristas do Uber, uma forma encontrada para tentar dar mais segurança aos condutores. Antes, o aplicativo era usado para “emboscadas” de taxistas, mas a finalidade mudou. “Esses assaltos começaram depois do método de trabalhar com dinheiro”, diz.

Os motoristas divulgam informações sobre passageiros suspeitos e comunicam aos colegas quando estão em situação de risco. “É o único grupo que a gente deixa com som. O parceiro manda a localização e um áudio rápido sobre o que está acontecendo e quem tiver perto vai para lá”, diz o condutor Nelson Bazolli, que participa de seis grupos. “Já fui socorrer um amigo que sofreu um assalto e entrou em pânico”, conta.

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Motoboy há 30 anos, Sérgio Firmino, de 50, virou uma espécie de “consultor” de outros colegas do Uber. Por WhatsApp, ele orienta os amigos sobre locais perigosos e corridas suspeitas. “Como eu conheço a cidade, procuro ajudar os motoristas menos experientes. Não é qualquer lugar que dá para entrar”, afirma.

Uma das orientações de Firmino é desligar o aplicativo quando estiver em área perigosa. “Quando alguém está desconfiado com uma corrida, a gente consegue rastrear e acompanhar o colega.” Segundo relata, os motoristas também evitam passageiros com avaliação máxima, porque é indicativo de usuário novo.

Em nota, o Uber afirma que oferece pagamento em dinheiro para tornar a plataforma “cada vez mais democrática e inclusiva”, uma vez que nem todos os passageiros têm cartão de crédito ou débito. A empresa também diz que “trabalha com as autoridades para esclarecer qualquer incidente”.

Também em nota, a Polícia Civil esclareceu que os roubos contra motoristas da empresa são investigados pelos DPs das áreas em que acontecem, como ocorre com todos os casos dessa natureza. A empresa tem colaborado com investigações sempre que acionada. A Polícia Civil esclarece ainda que foi instaurado inquérito policial no 48.º Distrito Policial (Cidade Dutra) para investigar a morte de Orlando da Costa Brito. Sobre a morte de Osvaldo Luís Modolo Filho, informa que o crime foi esclarecido e os dois acusados, presos.

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(Com Estadão Conteúdo)

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