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A história do Brasil Republicano – Região Sudeste

A região mais rica do país foi o berço da política do café com leite, que nos tempos em que o Rio foi capital, determinou os destinos do Brasil

Por Branca Nunes, Bruno Abbud
28 ago 2010, 01h00

Tanto o janismo quanto o adhemarismo não sobreviveram à morte física dos chefes

A segunda reportagem da série sobre a política regional, é uma viagem pela Região Sudeste. A decolagem coincide com a adoção da política do café com leite, que permitiu a mineiros e paulistas partilharem o poder durante a República Velha. Depois de sobrevoar os episódios mais importantes da história do Rio de janeiro, a aterrissagem se dá no Espírito Santo. Espremido entre três gigantes, o território capixaba teve poucos líderes de grande relevância nacional. O carisma dos chefes políticos e a força dos dois maiores partidos da Nova República marcaram a história dos três estados mais desenvolvidos do país.

São Paulo

Província sem muita importância durante o império, São Paulo foi catapultado pelo café e pela imigração para o caminho sem volta do desenvolvimento. Ao substituírem a mão de obra escrava, os estrangeiros, principalmente os vindos da Itália, trouxeram mais que o trabalho braçal. A cultura multifacetada e a mistura de etnias marcariam para sempre o estado mais importante do Brasil.

O poder econômico resultante do apogeu do café deu aos paulistas o direito de reivindicarem o poder político. Embora o último presidente nascido no estado tenha sido Rodrigues Alves, eleito em 1902, nenhum outro chefe de estado – com exceção de Juscelino Kubitschek – conseguiu chegar ao poder ser ter vencido nas urnas de São Paulo.

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A política do café com leite foi caracterizada pelo revezamento no Palácio do Catete do Partido Republicano Mineiro (PRM) e do Partido Republicano Paulista (PRP). Mesmo com o fim do sistema, revogado pela Revolução de 1930, Getúlio Vargas só conseguiu governar em paz depois de apaziguar os ânimos dos paulistas com a indicação de um interventor nascido no estado, uma das exigências dos revoltosos de 32. O pernambucano João Alberto Lins de Barros, nomeado para governar São Paulo dois anos antes, era considerado “forasteiro” e “plebeu”.

Encerrado o Estado Novo, a onda populista em São Paulo fez com que Jânio Quadros e Adhemar de Barros se alternassem no poder durante a década de 50. Tanto o janismo quanto o adhemarismo não sobreviveram à morte física dos chefes.

Embora pouquíssimos presidentes brasileiros sejam paulistas de nascimento, muitos alcançaram notoriedade nacional a partir da carreira consolidada no Planalto de Piratininga. O estado mais rico do país é um mosaico formado por brasileiros originários de todas as regiões que migraram com a disposição de vencer.

Rio de Janeiro

Capital do Brasil de 1763 a 1960, a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro foi sempre um conglomerado de políticos importantes e integrantes do alto escalão do funcionalismo público. As dificuldades de locomoção impostas pela escassez de meios de transporte, impediam que os deputados e senadores deixassem a capital nos fins de semana – como ocorre hoje.

Da junção do território fluminense com esse pulmão político do Brasil emergiram figuras como Pereira Passos, Nilo Peçanha ou Carlos Lacerda. O maior destaque no estado era Ernani do Amaral Peixoto. Casado com Alzira Vargas, filha caçula de Getúlio, o ex-ajudante de ordens do presidente comandou o Partido Social Democrático (PDS) até depois da morte do sogro.

A transferência da capital para Brasília, além de prejudicar substancialmente a economia e a auto-estima cariocas, reduziu consideravelmente a capacidade de mobilização e pressão popular. Antes de se isolarem na imensidão do Planalto Central, o Senado ficava no fim da Avenida Rio Branco e a Câmara dos Deputados funcionava na Cinelândia, literalmente rodeados pelo povo.

Transformada em cidade-estado com o nome de Guanabara, a a ex- capital federal viveria separada do território fluminense de 1960 a 1975. Seu primeiro governador foi Carlos Lacerda, um dos maiores tribunos da história. Em 1971, Chagas Freitas, o único político oposicionista que contava com as bênçãos do regime militar, assumiu o posto. Foi o primeiro governador do Rio a beijar a bandeira de uma escola de samba, escancarando a ligação entre o poder oficial e os bicheiros.

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A restauração das eleições diretas para governador marcou também a chegada de Leonel Brizola ao comando do Estado. Depois de começar a campanha com 2% das intenções de voto, o caudilho gaúcho protagonizou uma das mais impressionantes reviravoltas ocorridas em campanhas eleitorais e manteria o controle político do Rio ao longo dos anos 80.

Minas Gerais

Discretos, prudentes e espertos, os mineiros praticamente dominaram a vida política brasileira durante o império e a República Velha, reafirmando o dogma segundo o qual não há poder político sem poder econômico. Das minas de Ouro Preto, Diamantina e Mariana foram retiradas as pedras preciosas que abasteceram o país – e principalmente a metrópole – durante séculos.

Em 1945, com o início da Nova República, a política brasileira foi balizada por dois partidos: a União Democrática Nacional (UDN) e o Partido Social Democrático (PSD). Em nenhum outro Estado essa dicotomia foi tão perceptível quanto em Minas Gerais. E talvez em nenhum outro lugar do país tenha sido tão nítida quanto em Barbacena, a 170 quilômetros de Belo Horizonte. Berço dos Bias Forte (UDN) e dos Andrada (PSD) – o mais numeroso clã da política brasileira, com 17 integrantes – a cidade foi alternadamente administrada pelas duas famílias.

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Se o gaúcho Getúlio Vargas, introspectivo e astucioso, foi o mais mineiro dos presidentes, Juscelino Kubitschek, sempre falante e extrovertido, pode ser considerado o mais gaúcho dos mineiros. Com o segundo mandato praticamente garantido no Palácio do Planalto nas eleições de 1965, JK teve a esperança estilhaçada com o golpe militar de março de 1964 e a cassação dos direitos políticos três meses depois.

Acusado de corrupção e de vínculos com os comunistas, JK saiu de cena por outros motivos. Um deles foi o ressentimento do presidente Castelo Branco. No encontro que formalizou o apoio do PSD ao general que comandou o golpe de 1964, JK, que tinha um encontro com Lucia Pedroso, sua amante, olhou mais de uma vez no relógio. Castelo considerou o gesto uma desfeita.

Enquanto vigorou o bipartidarismo, a Aliança Renovadora Nacional (Arena) abrigou, entre outros mineiros, Aureliano Chávez e Francelino Pereira – autor da frase “Que país é esse?”. Mas foi do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) que Tancredo Neves, a grande estrela da época, articulou a redemocratização do país.

Espírito Santo

Por ser um enclave numa região ocupada pelos três estados que lideram o ranking da relevância política, o Espírito Santo nunca contou com parlamentares capazes de rivalizar com os representantes de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Se até no futebol os capixabas fazem as suas escolhas entre os clubes dos estados vizinhos, é compreensível que eventualmente acompanhem com maior interesse as campanhas eleitorais de âmbito nacional.

A figura de maior destaque na segunda metade do século foi o senador João Calmon, várias vezes reeleito, especialmente interessado em assuntos ligados à educação. Nenhum dos governadores nomeados durante o regime militar consolidaram uma forte liderança política.

A figura de maior destaque dos últimos anos foi o ex-governador e atual senador Gerson Camata. O ex-radialista conseguiu, com o prestígio político, eleger a mulher, Rita Camata, deputada federal em 2007.

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Infográfico - genealogia dos partidos
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