‘O Formidável’ mostra com humor a radicalização de Godard
Longa com Louis Garrel foca no casamento do cineasta com a atriz Anne Wiazemsky, período em que renegou obras-primas como 'Acossado' em prol da 'revolução’
Michel Hazanavicius gosta de cinema. Não apenas de fazê-lo, mas de investigá-lo. É novamente um estudo do gênero – ainda que a partir de um recorte bastante específico – o que o diretor de O Artista, o filme mudo que arrebatou o Oscar em 2012, faz em O Formidável, em cartaz desde quinta-feira no país. Baseada no livro de memórias de Anne Wiazemsky, estrela de A Chinesa (1967), filme em que louva o maoísmo e a Revolução Cultural da China, a cinebiografia do cineasta Jean-Luc Godard se concentra no período em que foi casado com a atriz, fase que coincide com a sua radicalização política e isolamento social – depois do divórcio de Anne, sua segunda mulher, aliás, Godard não voltou a se casar. É aí que o diretor renega obras-primas como O Desprezo e Acossado e parte para um cinema que, de tão comprometido com a “revolução” que parece prestes a mudar o mundo em 1968, dá as costas para o grande público. “Ele enfrentava todos os dias o mesmo dilema: fazer cinema em detrimento da revolução ou fazer a revolução em detrimento do cinema”, diz Anne em certa passagem ao descrever a atuação de Godard no coletivo Dziga Vertov, com nome emprestado da vanguarda russa. Hazanavicius descreve a metamorfose com humor – e conta com o charme do galã Hazanavicius, que deixa os papéis macambúzios para brilhar como Godard. Em tempo: Formidável, isso é explicado logo no começo do filme, é o nome de um submarino anárquico em que a tripulação pratica a autogestão, história que se torna norte — e utopia — para o cineasta em sua guinada total à esquerda.