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Lemmy, o Último Grande Herói

Morre o vocalista, baixista e líder do Motörhead. E aqui eu recordo uma matéria que fiz com ele em 2011

Por Sérgio Martins Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 jul 2020, 23h47 - Publicado em 28 dez 2015, 22h18
Lemmy Kilmmister, 65, l’der da banda Motorhead, na Via Funchal, em S‹o Paulo, s‡bado, 16 de abril de 2011.

Lemmy Kilmmister, 65, l’der da banda Motorhead, na Via Funchal, em S‹o Paulo, s‡bado, 16 de abril de 2011.

Lemmy deu canseira. A entrevista estava prometida para às 16h no camarim da Via Funchal, em São Paulo. Ele chegou às 19h e resolveu nos atender às 22h. E se recusou a sair do local para posar para fotos. O que você vê nessa matéria é uma prova do talento de Luiz Maximiano, fotógrafo que se tornou meu parceiro fiel em viagens e reportagens especiais de VEJA.
No fundo, todos nós sabíamos que a morte de Lemmy era uma questão tempo. Ele era diabético, bebia demais, tinha tido uma relação longa e desgastante com anfetaminas e nos últimos tempos interrompia as apresentações do Motörhead porque não conseguia mais cantar as músicas da banda. O show do Motörhead no Monsters of Rock, em abril, foi cancelado após um piriri de mr. Kilmister. Da minha parte, me orgulho de ter assistido a primeira apresentação deles no país, ainda com Philthy Animal Taylor na bateria, e performances no Olympia e no Via Funchal. Abaixo, a matéria publicada em VEJA em abril de 2011.

Um fã do trio inglês Motörhead ouvido no documentário Lemmy (Estados Unidos, 2010) diz que somente dois seres podem sobreviver à explosão de uma bomba atômica: Lemmy Kilmister e as baratas. Descontado o exagero de fã, Lemmy, vocalista e baixista do Motörhead, é de fato um sobrevivente. Foi ajudante de palco de Jimi Hendrix e se exercitou em gêneros musicais hoje defuntos, como o space rock (estilo que trazia longas passagens instrumentais e letras inspiradas em contos de ficção científica), com uma banda que teve nos anos 60, Hawkwind. Como é comum entre músicos de sua geração, esse pioneiro do rock pesado abusou de bebidas e aditivos químicos – e com um agravante: ele é diabético. Mas ainda hoje, aos 65 anos, é capaz de cantar e tocar por uma hora e meia de show, num volume insuportável até para os padrões do heavy metal. Graças à resistência, pôde assistir ao renascimento do culto à sua banda e à sua persona de padrinho do rock pesado, consagrada no documentário que leva seu nome, dirigido por Greg Olliver e Wes Orshoski (Lemmy será exibido nesta semana em São Paulo, no In-Edit, festival dedicado a documentários musicais). O Motörhead, que está lançando o disco The Wörld Is Yours, se tornou o grupo preferido de artistas formados no punk, como o baterista e guitarrista Dave Grohl, do Foo Fighters. “Nada mau para um velho roqueiro, não?”, disse o músico a VEJA.
Ian Fraiser Kilmister nasceu em Stoke-on-Trent, cidade conhecida pela cerâmica e por ser o berço de duas outras personalidades do pop – o guitarrista Slash e o cantor Robbie Williams. Como boa parte dos jovens nascidos no imediato pós-guerra, Lemmy encantou-se com o rock’n’roll. Teve a oportunidade de assistir a shows dos Beatles e dos Rolling Stones, que então davam seus primeiros passos no showbiz. “Naquele tempo, os Beatles eram os malvados e os Stones, os filhinhos de mamãe”, lembra na autobiografia White Line Fever. Lemmy testemunhou momentos de fúria de John Lennon: viu o beatle descer do palco para esmurrar um espectador que o chamara de gay. Ajudante de palco de Hendrix, Lemmy lembra com carinho da generosidade do legendário guitarrista – generosidade, aliás, que não era só musical: “Jimi fazia sucesso entre as mulheres. Era capaz de agradar a cinco fãs numa única noite. E sempre sobrava uma para sair conosco”.
A grande criação do baixista foi o Motörhead. Surgido em 1975 sob vaias quase unânimes da crítica especializada, o trio mudou o panorama do heavy metal ao combinar o som alto e pesado com a rapidez e a agressividade do punk rock – o que o transformou em objeto de adoração por ambas as tribos. Uma das lendas em torno do Motörhead é a de que Lemmy teria mandado um dos guitarristas embora porque ele insistia em se apresentar de calçãozinho curto – o que destoava do visual de couro do grupo. Lemmy desmente: “Não tenho nada contra shorts. O problema é que ele bebia demais, até para os padrões do Motörhead”. Devia beber muito, mesmo.
As verrugas monstruosas e o bigodão de bandido de faroeste de Lemmy escondem um sujeito pacífico. “Quando eu o chamei para um projeto de rock pesado, pensei que ele chegaria num carro com formato de caixão. Mas Lemmy é tranquilo”, lembra Dave Grohl. Lemmy é assíduo em todos os compromissos de sua banda. Admite o uso de drogas, mas não faz apologia delas: “Não sou exemplo para ninguém”, diz. “Ele adora uísque e Coca-Cola. Mas nunca bebe até cair”, diz o diretor Wes Orshoski, que passou três anos na estrada com o Motörhead. Mais controverso é o gosto do cantor pela parafernália nazista: ele costuma comprar capacetes, adagas e armas alemãs da II Guerra. Garante, porém, que os motivos são apenas estéticos, e que não tem simpatia pela ideologia nazista. “Sou cabeludo, como carne, bebo e fumo. Hitler era vegetariano, tinha cabelo curto, não bebia nem fumava. E era maluco”, compara.
O Motörhead hoje está presente na trilha de games como o Guitar Hero, popular entre a garotada que nasceu quando Lemmy já contava mais de três décadas de carreira. O roqueiro também atua no jogo Brutal Legend, ao lado de Ozzy Osbourne e do ator Jack Black. “Nem sei como é o jogo, apenas coloquei minha voz”, diz. A nova ascensão do Motörhead coincide com a volta da popularidade do metal. “Nos anos 90, quando o grunge era popular entre os jovens, era pecado você dizer que curtia rock pesado”, lembra Orshoski. Daqui a cinco meses, o Motörhead – que fez shows em São Paulo e Florianópolis na semana passada – volta ao Brasil para participar da quarta edição do Rock in Rio. Dividirá o palco com o Metallica (cujos membros, aliás, veneram o grupo de Lemmy) e com atrocidades como a banda paulistana Glória. Espera-se, de antemão, que seja um dos melhores shows do festival. “Ninguém arrasa no palco como nós. É o que eu sei fazer de melhor e o que sempre farei”, diz Lemmy. Pelo menos até as baratas tomarem conta do planeta.

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