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“Eles eram o One Direction de sua geração”

Giles Martin, filho de George Martin, lendário produtor dos Beatles, fala da nova versão de Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band

Por Sérgio Martins Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 jul 2020, 20h52 - Publicado em 30 Maio 2017, 18h23

Tudo mundo tem o direito de não gostar dos Beatles. Mas no caso de Giles Martin, o fato dele ignorar o grupo durante a adolescência e a idade adulta causa estranheza. Isso porque Giles, de 47 anos, é filho de George Martin, produtor apelidado de “o quinto Beatle” de tanto que influenciou na carreira dos músicos de Liverpool. Ele se aproximou definitivamente da criação mais importante da carreira do pai em 2006, quando os dois engendraram a trilha de Love, projeto do Cirque du Soleil que costurava diversas composições dos Beatles e as utiliza como trilha de malabarismos. Giles trabalhou mais assiduamente com o pai quando este deu sinais claros de que havia perdido a audição – e o sucesso da remixagem das coletâneas Beatles 1962-1966 e 1967-1970 se deve ao afinco do filho pródigo. Meses atrás, o produtor se debruçou sobre um dos trabalhos mais ambiciosos de sua carreira: a nova versão de Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, que completa 50 anos em 2017 e é tido por muitos como um dos discos mais importantes da música pop. Foram mais de dez horas de Beatles durante quatro meses para recriar a sonoridade do álbum, em versões que vão de CDs e vinis duplos – contendo outtakes – e uma edição luxuosa com mixagens alternativas e dois documentários. Giles, cujo próximo projeto será uma versão do Álbum Branco, de 1968, conversou brevemente com VEJA sobre o novo Sgt. Pepper’s. Um papo informal que pode ser apreciado abaixo.

Sgt. Pepper’s é considerado por muitos críticos como a maior obra-prima da história do rock. Como foi trabalhar num disco tão icônico?

Simples, eu encarei como um trabalho qualquer. Quando um piloto assume o comando do avião, ele nunca pensa que o aparelho vai despencar durante o voo, certo? Comigo foi a mesma coisa. Eu coloquei na cabeça que meus patrões eram Paul McCartney, Ringo Starr, Olivia Harrison (viúva de George Harrison) e Yoko Ono (viúva de John Lennon). Me uni a um engenheiro de som chamado Sam Okell e nos trancamos em Abbey Road, sem se importar com o que acontecia no resto do mundo. A ficha caiu somente agora que estou dando inúmeras entrevistas para falar do álbum e do meu trabalho.

O fato do senhor não ser um fã dos Beatles de primeira hora ajudou a encarar essa missão com mais tranquilidade?

Sim, com certeza. Porque Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band nem era o meu disco predileto dos Beatles. Eu preferia Revolver, de 1966, e o lado B de Abbey Road, de 1969. Mas sabe o que aconteceu comigo? A mesma coisa que você vê nos romances água com acúçar, onde o mocinho finalmente se apaixona pela melhor amiga. Não foi amor à primeira vista, mas sim uma paixão madura. Quando finalmente tocamos o disco nos estúdios da Universal, em Los Angeles, me conscientizei que estava diante de uma autêntica obra-prima.

Mas por que o senhor nunca gostou de Beatles?

“Nunca gostar” é um termo muito forte. Mas eles nunca foram referência para mim. Os Beatles eram pouco falados no final dos anos 70 e início dos anos 80. Tanto que meu pai, com toda a história que ele tem, tinha dificuldades em achar trabalho. A Beatlemania veio a ressurgir com o Oasis, no início da década de 90, que falava da importância dos Beatles e fazia referências ao grupo em suas canções. Quanto a mim, o meu primeiro contato verdadeiro com aquelas músicas se deu em 2006, quando propus o disco Love, uma colagem de temas do grupo que serviriam para trilha de um espetáculo do Cirque du Soleil. Neil Aspinall, que cuidava dos negócios dos Beatles, me disse: “Você terá um prazo de três meses e não vai receber um centavo.” Eu aceitei e o bom trabalho me credenciou para os próximos trabalhos envolvendo o grupo. Aliás, os Beatles me deram a chance de conhecer o Brasil. Em 1993, toquei guitarra ao lado do meu pai e do guitarrista Robertinho do Recife num projeto dedicado às músicas deles que aconteceu no Rio de Janeiro…

O senhor trabalhou com o grupo pop francês Les Rita Mitsouko e com o pianista minimalista Harold Budd. De que maneira isso ajudou na hora de trabalhar com a obra dos Beatles?

Eu diria que meu pai, acima de tudo, foi quem me influenciou. Ele tinha um esquema econômico de produção, que pode ser percebido no disco. Não há uma nota fora de lugar, um arranjo exagerado, um excesso de orquestração…. nada! Aliás, isso me faz lembrar de uma passagem do meu pai com o compositor alemão Hans Zimmer. Os dois estavam trabalhando na trilha sonora de Hannibal e Zimmer escreveu um tema para oito contrabaixos duplos. “Hans, por que você fez isso? Dá para garantir a mesma sonoridade com apenas três”, meu pai respondeu. Ele era assim…

Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band é considerado um disco essencialmente britânico por causa dos temas abordados e da sonoridade, que passeia pelo vaudeville e até trilhas de comerciais de cereais. Quais suas impressões do álbum?

Os Beatles nasceram como uma banda pop adolescente. Eles eram o One Direction de sua geração: George Harrison tinha 24 anos, John Lennon, 26. Com o passar dos tempos, eles se cansaram dos gritos das meninas e sentiram a necessidade de fazer apenas o que desejavam e criar canções mais duradouras. Sgt. Pepper’s é o melhor exemplo disso. Sei que fugi um pouco do tópico, mas vejo essa influência inglesa em canções gravadas anteriormente, como Eleanor Rigby. Mas entendo o que você quer dizer com “álbum britânico”. Eu acho que os Beatles estavam saudosos do lar, porque passaram muito tempo viajando. E isso se refletiu no disco.

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A nova edição do álbum traz Penny Lane e Strawberry Fields Forever, que foram lançadas somente em compacto. O senhor nunca se sentiu inclinado a coloca-las no disco oficial ao invés de faixas-bônus?

Sim, eu conversei longamente com Paul McCartney sobre isso e meu pai sempre defendeu a ideia de que elas deveriam estar em Sgt. Pepper’s. Mas onde eu as colocaria? Depois do acorde final de A Day in the Life? Não ficaria muito bom… Aliás, A Day in the Life foi uma das canções que mais nos deu trabalho de mixar. A gente tinha de se guiar pela voz de John Lennon, mas queríamos um som explosivo de bateria – que estava presente apenas na versão mono do álbum. Foi preciso cinco mixagens diferentes para chegar ao ponto ideal. Valeu a pena porque é a minha canção predileta dos Beatles e por quem tenho um alto valor sentimental. Meu pai me presenteou com a partitura orquestral da música – que virou um belo quadro na sala da minha casa.

No final das contas, qual a impressão do senhor sobre os Beatles?

Eram quatro grandes amigos que faziam uma música espetacular. Eu escutei todas as sessões de gravação de Sgt. Pepper’s e, sinceramente, não vi nenhuma discussão muito séria. Sinceramente, eu já troquei palavras mais ásperas com a minha mulher! Os Beatles, por outro lado, se divertiam o tempo todo. E, convenhamos, ninguém faz um disco como Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band se não estiver se divertindo.

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