Thalita Rebouças sobre livro e 13 Reasons: “Adolescente é deprê”
Sucesso entre jovens, com 2,2 milhões de livros vendidos, Thalita Rebouças fala do primeiro livro em que trata de sexualidade e da série "13 Reasons Why"
Você escreve para adolescentes há dezessete anos. O que mudou nesse tempo? O adolescente é o mesmo em qualquer tempo: tem as angústias, as espinhas, os amores platônicos — que agora são os crushes, né? Muda-se o nome, mas os amores estão lá. No entanto, tenho notado que hoje os adolescentes são mais livres e isentos de preconceito.
Seu 22º livro, Confissões de um Garoto Tímido, Nerd e (Ligeiramente) Apaixonado, é o primeiro no qual a sexualidade do personagem é razão de conflito. Por que nunca tratou disso antes? Os leitores me pediam isso, mas eu não me sentia segura. Foi a primeira vez que chorei ao escrever.
Por que chorou? Davi, meu protagonista, é um rapaz inteligente, interessado por astrologia, que havia beijado só uma menina. Ele conhece um menino, e os dois “ficam”. Chorei ao escrever a cena em que ele sofre uma ameaça do tipo “vou falar para todos que você é marica”.
Por que você acha que a série 13 Reasons Why fez tanto sucesso falando do suicídio de uma jovem? O adolescente sempre teve uma pegada deprê. Mas 13 Reasons Why é mais sobre estupro do que sobre suicídio. Recebi muitas mensagens de leitores sobre a série. Um deles escreveu que não fazia ideia da agressão que causava a colegas com as coisas que falava. A mensagem que mais me arrepiou foi a de uma menina que tinha passado por coisas parecidas e se arrependeu de ter pensado em dar fim à própria vida. Falar sobre o tema gerou discussão e reflexão.
Você começou depois do fenômeno Harry Potter. J.K. Rowling foi uma inspiração? No dia em que eu a encontrar, darei um abração nela. Devo a vida a ela. Essa escritora mostrou que não importa que o livro seja grosso: se há uma boa história, o leitor vai gostar.
Você vive de seus livros? Sim, deles e dos filmes baseados neles. Mas meu começo não foi fácil. Passava de livraria em livraria para fazer propaganda. A situação mais constrangedora foi a minha primeira Bienal do Livro. Ninguém veio falar comigo. Até que apareceu uma menina. Pensei: “Ufa! Pelo menos venderei um livro”. Mas ela só veio me perguntar onde ficava o banheiro.